Abraão Vicente fez estas afirmações em entrevista à Inforpress, no final de uma visita que efectuou esta manhã aos municípios da Praia e São Domingos para auscultar os pescadores e peixeiras e constatar in loco o estado do sector das pescas nesses concelhos.
O governante definiu esta visita como sendo uma oportunidade para encontrar soluções e reconhecer que Santiago tem grande potencialidade a nível das infra-estruturas no mar ligada à pesca semi-industrial e artesanal, mas precisa em terra de outras condições, tendo realçado que os dados demonstram que é preciso um olhar mais atento para mitigar a diferença de dados que existe entre as regiões em Cabo Verde.
“Esta visita é basicamente para ouvir os profissionais da área das pescas, perceber a razão de alguns ruídos e algumas divergências na organização de algumas associações, mas principalmente perceber como é que o Governo pode entrar com meios próprios para criar as condições que o sector das pescas precisa para deixar de ser um sector que ainda está muito voltado para a subsistência de quem o pratica”, asseverou.
Abraão Vicente considerou ser “preocupante” perceber que não houve um investimento necessário no sector das pescas desde a independência para que hoje o mesmo estivesse no outro patamar, frisando que Cabo Verde que é um país de mar, precisa de um sector que tenha uma outra pujança e as pessoas e empresas ligadas a esse sector tenham outra capacidade de lidar com o mar e os recursos que o mesmo oferece.
“Estamos aqui na praia da Gamboa porque um pouco por todo o país os barcos de pesca artesanal continuam a não ter infra-estruturas de apoio, nomeadamente pequenos cais de pescas para ancorarem os seus barcos. Estamos a pensar importar para Cabo Verde as infra-estruturas utilizadas nos Açores e Madeira, que são pórticos que são pequenos cais e infra-estrutura mecânica para tirar os barcos da água e colocá-los a seco”, adiantou.
Defendeu, por outro lado, a necessidade de criação de um Plano Nacional de Investimentos para Infraestruturas ligadas à pesca e projectar o seu desenvolvimento com alguma pujança no futuro.
“É preciso criar as bases e as bases passam por criar as infra-estruturas de apoio em terra para os barcos e pescadores. Estive agora na Baía de Nossa Senhora da Luz e encontrei pescadores a construírem um pequeno cais improvisado com pneu e terra”, afirmou, indicando que isto demonstra ausência da câmara municipal e de certa forma de políticas do Governo para regiões onde nitidamente há comunidades piscatórias.
Reconheceu ainda que as medidas adoptadas têm sido “insuficientes” mas que é necessário haver mudança de mentalidade do próprio sector, que, conforme lembrou, pode e deve ser lucrativo e não continuar a depender dos apoios para bónus livre de taxas.
Defendeu neste sentido que se os profissionais da área não se organizarem com cooperativas, empresas e associações mais pujantes, dificilmente poderão contribuir para o seu desenvolvimento.
“E na cidade da Praia pelo número de barcos e pescadores é preciso um sistema de logística de frio que continua a ser a maior dificuldade, não só gelo para irem ao alto mar pescar, mas gelo para o armazenamento e conservação das quantidades enormes que conseguem pescar para não termos quebras de peixes”, indicou.
Abraão Vicente concluiu reforçando que é preciso que as câmaras municipais dêem uma maior atenção às pescas nomeadamente a Câmara Municipal da Praia, apesar de ser a capital do país lançar um olhar mais incisivo sobre as comunidades piscatórias não no sentido de políticas de subsistência ou assistencialismo, mas numa política clara em que de sinal em que é preciso empoderar e garantir a sustentabilidade do próprio sector.