Os textos são da autoria do Antropólogo e Professor Universitário Manuel Brito-Semedo e propõem fazer o percurso histórico da Morna seguindo uma linha cronológica desembocando na actualidade como forma de obter um produto (texto, imagem e som) que dê conta da história desse género musical, que em muito se confunde com a história e o percurso do povo que o criou.
Não haverá um outro país no mundo com uma densidade musical, ou seja, número de músicos por habitante, tão grande como Cabo Verde. A verdade é que na alma de cada cabo-verdiano há um artista. É de se admirar que um povo que tanto sofreu ao longo da sua história – escravatura, seca, fomes e outras calamidades – não tenha desenvolvido um espírito de fatalismo. Mas, resiliente, consegue ser alegre, festivo e um povo de música, ou talvez por isso mesmo. Paradoxal.
Mário Fonseca (Praia, 1939 – 2009) no seu trabalho poético “Près de la mer, Mon pays est une musique et Poissons” (1986) sintetizou isso mesmo. Sim, o meu país é uma música! A lista de compositores, intérpretes, instrumentistas e conjuntos musicais intemporais provenientes das diferentes ilhas, são uma amostra disso.
Nesta retrospectiva histórico-musical, procurar-se-à demonstrar que Cabo Verde é uma “Ilha d’ melodia”, mas que quer ser grande no mundo lá fora com a sua música – Pa mostrás ki nos é pobri, nos cultura é forte – conforme expressou Kiddye Bonz [Dereik Hernany Gomes Neves] (Mindelo, 1990 –), um compositor e rapper da novíssima geração:
Ah! Desd piquinim n ta s’nha na algo pa fazi Cabo Verde grande
Pa viaja mund sem n tem ki ser um emigrante
Alg ki canta moda alma na voz de Cesária
(...)