Na altura, o Diário, pelo modernismo e pela forma de abordagem dos temas não agradou a muita gente. “A tal ponto que [segundo Félix Monteiro] um exemplar do livrinho foi rasgado, simbolicamente em auto-de-fé, por um grupo […] do Liceu de São Vicente, o qual, para o cúmulo, deliberou levar mais longe o seu protesto, remetendo ao Autor, pelo correio, os despojos, da sua intolerância”.
Na verdade, os valores culturais como o batuque e a morna não terão sido bem compreendidos por António Pedro. O próprio meio ambiente é visto com olhos de quem chega, por alguém que se sente agredido geográfica e culturalmente. Os aspectos sociais e étnicos chamam a atenção do Poeta por serem originais. A chuva é também tema do Diário.
Ao fixar um instantâneo do quotidiano da venda da papaia, António Pedro preocupa-se em reproduzir o realismo no próprio discurso, adequando-o ao nível cultural do emissor.
Jorge Barbosa, numa carta dirigida a Manuel Lopes, datada de 21 de Outubro de 1933, reporta-se positivamente ao Diário, a propósito do livro que tinha em preparação: “Tem o livro [Ambiente] uma intenção que suponho avizinhar-se de António Pedro quando publicou o Diário”.
Manuel Ferreira, por seu lado, é de opinião que Pedro Corsino de Azevedo (1905 – 1942) ter-se-ia inspirado estilisticamente em António Pedro quando escreveu o poema “Galinha Branca”.
O desenho da capa, uma crioula gravada a ouro expressivamente corporizada numa cor esverdeada, é arte de Jaime de Figueiredo (Praia, 1905 – 1974) que, posteriormente, viria a estar representado, pelas mãos de António Pedro, com alguns desenhos numa exposição de artes plásticas em Lisboa, e o editor do livro é João Lopes (São Nicolau, 1894 – 1979).
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 949 de 5 de Fevereiro de 2020.