Para a implementação do Plano de Salvaguarda da Morna, uma ferramenta exigida pela UNESCO que incluia medidas de políticas de preservação e divulgação de um bem património mundial, o governo havia disponibilizado cinco mil contos que com o Orçamento Rectificativo foram canalizados para outras prioridades.
Assim, lançamento de bolsas de investigação, atribuição de prémios aos alunos através de concursos sobre a morna e publicação de livros sobre este género musical foram algumas actividades que deveriam ser financiadas com o fundo de cinco mil contos e acabaram por ficar comprometidas não só por falta de recursos, mas também por causa da situação de pandemia que impede a realização de actividades que implicam ajuntamento de pessoas.
Retoma do plano de salvaguarda
Entretanto, com o fim do estado de emergência no mês de Junho, o ministério da Cultura retomou o programa de socialização do plano de salvaguarda no âmbito da Semana da Morna, que foi institucionalizada este ano e decorreu precisamente no Dia Nacional da Morna, 3 de Dezembro, até o dia 11, data em que se assinalou o primeiro aniversário da classificação da morna como património da humanidade, foi inaugurada uma exposição na Casa Museu Eugénio Tavares, na Ilha Brava, e a exposição “Terra da Morna/Terra de Sodade”, no município do Tarrafal, na ilha de São Nicolau.
Com o confinamento decretado nas situações de emergências foram também cancelados ou adiados todos os eventos culturais de massa como festivais de música, teatro, cinema entre outros.
Reinventar a Cultura
2020 foi também o ano em que actores, interpretes, artistas plásticos, produtores e promotores de eventos reinventaram a cultura. “Tivemos de arranjar novos palcos, outros cenários e outras formas de fazer fruir a arte e a cultura, uma vez que o nosso público precisa de nós”, afirmou ao Expresso das Ilhas Paulo Lobo Linhares, da editora e produtora Insulada.
Ou seja, a pandemia veio mudar a essência dos eventos culturais. Os artistas mantiveram contacto com o seu público através dos lives e lançamento de discos nas plataformas digitais.
Dino D’Santiago, foi um dos primeiros artistas a usar as plataformas digitais para contornar o confinamento ao lançar do mês de Abril o seu novo álbum intitulado “Kriola”.
O cantor cabo-verdiano Kido Semedo lançou também no mês de Abril nas plataformas digitais o seu novo single, “Oxigénio”. O músico e jornalista Homero Fonseca também lançou o single “Gilda” nas plataformas digitais, um tema composto em homenagem à filha.
Nessa onda de lançamento de singles está também a artista Kady com “Flan”. Este tema surgiu depois de a artista ter participado na edição do Festival da Canção em Portugal, com o tema “Diz Só”.
A cantora Lura lançou no dia 1º de Junho, Dia Internacional das Crianças, o seu mais novo single, “Nina Santiago”, um tema que dedica à sua filha. O tema chegou às plataformas digitais depois do single “Alguem di Alguem” lançado em Dezembro de 2018.
“Nada ka Muda”
Elida Almeida marcou a quarentena com o lançamento do single “Nada Ka Muda” lançado no dia 5 de Junho nas plataformas online. Um tema inspirado na vivência de uma realidade impensável que a todos forçou ao isolamento onde se relata a normalidade do dia-a-dia idêntica para alguns à que poderia seguir fora do actual contexto.
Um dia antes, Nelson Freitas lançara nas plataformas digitais o seu novo single “Dpos d`Quarentena”, um tema sobre a quarentena.
No mês de Novembro a cantora e compositora Elida Almeida regressava aos discos com o lançamento internacional do seu novo CD “GERASONOBU”. A apresentação do novo álbum foi feito no mês de Outubro nas plataformas digitais com o tema “Bidibido”, género musical festivo da ilha de Santiago, hoje praticamente desaparecido”.
“Recordai”
Também a cantora Cremilda Medina escolheu no mês de Dezembro as plataformas digitais para disponibizar em videoclipe, o single “Amá sem Mêde”, que fará parte do seu novo trabalho discográfico a ser publicado no próximo ano. A fechar o ano a cantora desejou boas festas a todos os cabo-verdianos com o tema “Recordai”, uma composição de Teófilo Chantre.
A cultura cabo-verdiana ficou mais pobre em 2020 com a morte do cantor Jorge Neto, do compositor e escritor Kaká Barbosa, da cantora e escritora Celina Pereira, do poeta e advogado Felisberto Vieira Lopes (Kaoberdianu Dambará), dos escritores Nuno Rebocho e Teobaldo Virgínio e do investigador cultural Moacyr Rodrigues.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 996 de 30 de Dezembro de 2020.