Este voto de pesar foi apresentado pelo grupo parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD), através da secretária da mesa, Mircéa Delgado, que recordou Celina Pereira como “uma das principais interpretes da morna e uma das grandes referencias culturais de Cabo Verde”.
“O dia 17 de Dezembro, passou a ter para nós cabo-verdianos um carácter marcadamente melancólico do ponto de vista cultural não fosse nesse dia sombrio dia em que Cabo Verde e seu povo perderam duas das maiores pérolas nacionais, ou seja, Cesária Évora e Celina Pereira”, referiu.
Mircéa Delgado lembrou que Celina Pereira revelou-se para o mundo da música muito cedo na ilha da Boa Vista e veio a afirmou-se em São Vicente com a mítica banda Ritmos cabo-verdianos.
“Todavia sua carreira só viria a projectar-se em escala internacional a partir dos anos 80, quando residindo em Portugal por razões pessoais e profissionais passou a protagonizar com força e majestade concertos e gravações musicais de onde emergem temas como Boa Vista Nha Terra, Bedjisa, Maria de Ascensão entre tantas outras que enriqueceram o cancioneiro popular”, referiu.
Conforme disse, Celina Pereira foi também uma das maiores pesquisadoras de todos os tempos e interpretou canções as mais dispares e conhecidas do repertório nacional como também aquelas que ajudou a trazer ao convívio do grande público memoravelmente gravadas tantos nos “saudosos” discos vinil como os actuais CD.
Por outro lado, evidenciou-se também pela sua capacidade de contadora de histórias, rebuscando um passado em que os meninos do povo aglomeravam-se à soleira da porta em noites de luar para escutar a mamãe velha em contos antigos notavelmente recuperados e imortalizados no livro do Tambor a Blimundo, “indiscutivelmente a sua maior obra” numa tiragem dos idos anos 90.
No seu entender, o público cabo-verdiano conhece Celina Pereira pela sua voz e aclama-a como rainha da música cabo-verdiana, e pela importância como cantora que entrou definitivamente para galeria da cultura graças a seus feitos, passando doravante a sua obra a ser referenciada como um hino da cabo-verdianidade.
“Cabo Verde através do seu órgão representativo de toda a nação nas ilhas e na diáspora reconhece Celina Pereira como um vulto de referência incontornável da cultura nacional do Cabo Verde independente e democrático aproveitou-se da sua dimensão universalista para cantar e promover a cultura de Cabo Verde”, sublinhou.
Na ocasião lembrou que em 2003 foi condecorada pelo Presidente português, Jorge Sampaio, com a medalha de mérito grau comendadora pelo trabalho desenvolvido na área da educação e da cultura cabo-verdiana e realçou que a mesma fica ligada umbilicalmente à elevação da morna como Património Mundial da Humanidade feito reconhecido pela UNESCO em Dezembro de 2019.
Celina Pereira, faleceu a 17 de Dezembro em Lisboa, Portugal, no dia em que completava nove anos da morte da diva dos pés descalços, Cesária Évora.