O anteprojecto de lei que institucionaliza o dia nacional de “Talaia Baxu”foi socializado, em Janeiro deste ano, em São Filipe, num encontro entre os deputados do MpD pelo círculo eleitoral do Fogo e os músicos desta ilha.
O género musical "Talaia Baxu", típico da ilha do Fogo e que junta violino com cavaquinho, reco-reco e ritmo, vai ter assim o seu dia nacional em Cabo Verde, conforme proposta que o parlamento vota na próxima semana.
Segundo o documento da proposta do grupo parlamentar do MpD, a instituição do dia nacional da "Talaia Baxu" pretende reconhecer aquele género musical, artístico e cultural como "de referência" em Cabo Verde e "criar as condições necessárias" para ser elevado a "património imaterial nacional".
Serve, também para "homenagear os homens e as mulheres que emprestaram toda a sua classe, criando, cantando e compondo para salvaguardar todo esse riquíssimo legado histórico" e ao mesmo tempo "chamar a atenção da sociedade cabo-verdiana, particularmente os jovens, para a necessidade de se continuar a compor, interpretar e valorizar a 'Talaia Baxu'".
Conforme a proposta, este género musical nasceu "nos contextos populares" do município dos Mosteiros, Fogo, nos finais do século XIX, e está presente "em toda a ilha, nos momentos de convívio e lazer, como uma manifestação espontânea".
"Reza a história que, nas imediações das zonas altas dos Mosteiros, isto é, contíguas ao perímetro florestal de Monte Velha, na localidade de 'Tchada Mariz' ou Achada Maurício, viveu Armand Montrond [conde francês], e que tinha com ele um violino francês cujas afinidades sonoras e musicais com a 'Talaia Baxu' protagonizou um casamento tão perfeito, de tal sorte que perdura até aos dias de hoje".
A introdução do violino, um instrumento clássico da valsa francesa, no género 'Talaia Baxu', veio enriquecer, sobremaneira, a melodia e a tonalidade existentes em cada verso expresso pelos músicos", lê-se ainda na nota justificativa da proposta.
O mesmo documento acrescenta que "não há 'Talaia Baxu' sem violino, do mesmo modo que não há funaná sem gaita", instrumentos que "são imprescindíveis na orquestração e ênfase que trazem a esses géneros musicais". No caso da "Talaia Baxu", o violino ainda é acompanhado pela guitarra, cavaquinho e reco-reco, "numa simbiose perfeita entre a letra, muitas vezes improvisada, e a música".
A partir dos anos de 1970, "é reconhecida como música típica da ilha do Fogo, despertando compositores e vozes de realce, divulgando e ultrapassando as barreiras e fronteiras nacionais para conquistar o mundo" e "consagra-se como a música ícone da cultura foguense, em particular, e cabo-verdiana, em geral".
Na década de 1990, "Talaia Baxu" entra "de forma irreversível" nos circuitos da World Music Internacional com os "Mendes Brothers", grupo constituído pelos irmãos Ramiro e João Mendes, que emigraram em 1978 do Fogo para os Estados Unidos, que recebeu vários elogios e prémios da crítica musical internacional.