“Nasci numa pacata aldeia do interior de Santiago, chamada Pedra Badejo. Plantada à beira-mar, o seu nome justifica-se por ser rico em peixe, particularmente o badejo que se pescava à pedra, ou seja, com uma vara de pesca”. Assim começa o primeiro romance de Frutuoso Carvalho nascido no seio de uma família de proprietários do interior de Santiago, cujo patriarca, o avô, Nhu México, “uma das pessoas mais abastadas e importantes da aldeia” dedicava-se ao cultivo de bananeiras que produzia para o abastecimento do mercado interno e para exportação para Europa.
A obra que será publicada em primeira mão esta sexta-feira, na Praia, e logo no dia seguinte no concelho de Santa Cruz, lê-se como um Bildungsroman, ou seja, um livro que narra o processo de desenvolvimento físico, psicológico, social ou político de uma personagem, desde a sua infância, adolescência até à sua maturidade.
De facto, o enredo do texto narrativo decorre em três espaço diferentes que marcam também as três etapas do desenvolvimento do autor: a infância, na então aldeia de Pedra Badejo, o seu espaço de origem e matricial.
“Decorre também na Praia, onde fui prosseguir os meus estudos secundários. Portanto é um espeço também de afirmação e de formação. Mas o enredo vai até ao espaço Havana, capital de um país onde tive também oportunidade de me formar e de me tornar mais maduro”.
O espaço matricial
Como em vários livros memoralistas, a infância do autor no seu espaço matricial – “nasci numa pacata aldeia do interior de Santiago, chamada Pedra Badejo” – é o capítulo mais tocante desta obra onde desfilam “gente simples e humilde da minha aldeia natal como Nhu Djonsinho Pudoca, Triqui e Djoca Nha Margarida”, mas também personagens do vasto agregado familiar de Frutuoso Carvalho, cuja estranheza dos nomes à primeira leitura espanta: Americano Lopes Tavares, mais conhecido por Nhu México (avô paterno do autor); (Macau Lopes Landim, mais conhecido por Afeganistão (filho de Nhu México); Hong Kong de Apresentação de Carvalho Tavares (filho de Afeganistão); Irão Assunção Lopes de Carvalho e Marrocos Assunção Lopes de Carvalho (filhos de Hong Kong). São personagens que parecem ser de carne e osso, mas que são apenas seres de papel, escreve o autor na introdução.
“Não se esqueça que o livro é de ficção. Os nomes desses países foram escolhidos tendo em conta as respectivas personagens. Os nomes são fictícios, mas retratam pessoas reais. Por isso é que escrevi no livro que qualquer semelhança com pessoas, acontecimentos ou lugares é mera coincidência”, adverte o autor em entrevista ao Expresso das Ilhas.
Um livro de memórias
Coincidência ou não com a vida real à parte, é o próprio autor a admitir que Mãe, a sua Benção! é um livro feito de memórias e recordações que lhe ficaram gravadas na mente e que agora compartilha com os seus leitores. “Quis dar a conhecer um pouco da minha vida. Um pouco de mim, dos lugares por onde passei, os cargos que exerci e os conhecimentos que adquiri durante todo o meu percurso. Repare que o livro surge num momento em que me desliguei do activo da função pública. Tenho agora muito tempo para escrever. Portanto, vou continuar a escrever e espero que este não seja o meu último livro”, revela.
O Autor
Frutuoso Assunção Lopes de Carvalho nasceu na freguesia de Santiago Maior, em Pedra Badejo, Concelho da Praia, hoje concelho de Santa Cruz, ilha de Santiago, a 6 de Fevereiro de 1959. Filho de Dionísio Lopes Landim e de Inácia Carvalho e Silva, proprietários na então vila de Pedra Badejo.
Fez a instrução primária em Pedra Badejo e os estudos liceais na Praia. Formou-se em Magistério Primário em 1980 e Magistério Secundário em 1983.
Licenciou-se em Sociologia pela Universidade de Havana, Cuba, em 1991.
Em 2019 adquiriu o grau de Mestrado em Governação e Administração, no âmbito da cooperação entre o Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Socias (ISCJS) de Cabo Verde e o Instituo Universitário de Lisboa – ISCTE – IUL de Portugal, desempenhando a função de docente convidado, naquela instituição, desde 2008/09.
Exerceu a função de docente do Ensino Secundário no Curso Complementar do Liceu Domingos Ramos, logo após o fim do Curso e depois de ter exercido o cargo de Director do Ciclo Preparatório de Santa Cruz.
Foi o primeiro representante do Ministério da Educação de Cabo Verde, na Ilha da Juventude, em Cuba.
Desempenhou a função de Director do Liceu Domingos durante um mandato de três anos.
Exerceu os cargos de Assessor de Ministro nas áreas da Juventude, Desporto, Trabalho e Promoção Social de 1991 até 1994, altura em que foi empossado no cargo de Diretor-Geral da Promoção Social até o ano de 2000.
Foi o mais novo deputado à Assembleia Nacional Popular na III Legislatura, pelo Círculo Eleitoral de Santiago Maior e São Lourenço dos Órgãos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1082 de 24 de Agosto de 2022.