Actores apelam para maior apoio ao teatro

PorDulcina Mendes,30 mar 2024 7:59

Celebrou-se, na passada quarta-feira, 27, o Dia Internacional do Teatro, e para assinalar a data o Expresso das Ilhas foi saber junto de alguns actores qual é a situação do teatro no nosso país. A saúde do teatro em Cabo Verde divide a opinião dos amantes desta arte cénica: há actores que acham que o teatro está a evoluir e outros dizem que não.

Para Jorge Martins, actor e encenador da companhia de teatro Juventude em Marcha, o teatro tem uma expressividade considerável e uma dimensão vasta. Considera que os actores têm primado pela qualidade e pelas suas formações: uns têm sido autodidatas e outros têm conseguido algumas formações.

“Acho que o teatro cabo-verdiano tem evoluído muito. Temos muito mais para dar, porque trabalho como dramaturgo e investigar o que me leva a estar no terreno para investigar. Por isso, há muita coisa que fica para trás, porque não consigo fazer tudo de uma só vez”, realça.

Jorge Martins diz que há muitos temas que precisam ser explorados. ”Há muita coisa que podemos trabalhar dentro da nossa temática como a insularidade das ilhas, a emigração, a tenacidade do povo e tudo o mais. As nossas ricas tradições são pormenores interessantes e são temas que nos dão muitos elementos para trabalhar no teatro cabo-verdiano”.

Na mesma linha, Mário Daniel Tavares, do grupo teatral Salina do Maio, considera que o teatro cabo-verdiano está a caminhar com muita força, mas precisa de mais atenção por parte das entidades responsáveis.

“Precisa de mais atenção das entidades competentes e da sociedade civil, para apoiar no palco e financeiramente”, revela.

Conforme Mário Daniel Tavares muitas vezes não é fácil encontrar patrocínio para apresentar as peças em outros concelhos do país. “Para a peça que vamos apresentar na Praia e no Maio, tenho que procurar patrocínio, não só para a produção da peça em si, mas também para gratificar e incentivar os actores, porque para trazer uma pessoa para fazer teatro, essa pessoa tem que sair da sua casa, deixar a sua família, tudo por sua boa vontade”.

Mas, como disse, se há incentivo, as coisas ficam muito melhor. “O incentivo dá maior responsabilidade aos artistas. Se pagares um actor 10 ou 20 mil escudos para trabalhar numa peça, não chega a ser um salário, mas é um incentivo muito grande e ajuda um pouco ”.

Por outro lado, o actor João Pereira (Tikai) considera que o teatro está em baixo e cada vez pior. E que isso tem a ver com vários factores como a falta de oportunidade e de recursos para investigar e encenar uma peça.

“Em termos profissionais não conseguimos profissionalizar-nos no teatro, porque o mercado é pequeno. Há pouca forma de rentabilizar, não consegues rentabilizar as tuas despesas e tens de ter uma profissão para o teu sustento para poderes dedicar depois ao teatro”, analisa.

João Pereira deplora que é difícil encontrar um espaço para preparar uma peça como deve ser no seu município e lamentou também pouco envolvimento do público.

“Mais incentivos aos grupos de teatro nos municípios, pois há concelhos em que não há nenhum grupo de teatro. Quando se deixa o teatro só em São Vicente, em Santo Antão, um pouco na Praia e um resto em Tarrafal e Santa Catarina de Santiago, pergunto em outros municípios onde é que há mais grupos de teatro”, questiona.

Apela às autoridades para que vejam esta questão, no sentido de se encontrar a falha e melhorar.

Para a actriz e presidente da Companhia de teatro Fladu Fla, Sheila Martins, o teatro em Cabo Verde mudou muito. “Hoje é mais valorizada, existem apoios para esta área. As pessoas já começaram a ir ao teatro”

Sheila Martins frisou que a meta da Companhia é fazer com que o teatro cabo-verdiano conquiste um lugar na mesa da representação da cultura cabo-verdiana, à semelhança da música e da literatura.

Trabalhar no teatro em Cabo Verde

Nereida Delgado, que possui mestrado em artes cénicas, referiu que trabalhar no teatro em Cabo Verde não é fácil, pelo facto de não haver muito apoio. “Há poucos artistas nesta área com visibilidade. Por isso, aproveito para apelar para maior apoio e atenção ao teatro. É claro que temos que continuar a trabalhar a mentalidade das pessoas em relação ao teatro, que graças a Deus já mudou”.

Nereida Delgado assegurou que na Cidade da Praia já começamos a ter mais público e que as pessoas já começaram a ver o teatro e fazedores do teatro de forma diferente, ou seja, como uma profissão e não como um simples hobby.

“Então, tudo isso é motivo para continuar, porque mesmo a passos lentos já começamos a ter maior visibilidade e mais apoios. Por exemplo, o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, abriu este ano dois editais que permitem que projectos como o meu e outros se candidatem ao financiamento: não é muito, mas é melhor que nada”, frisa.

Nereida Delgado lembrou que antes não havia apoios para o teatro. “Temos dificuldade em encontrar espaços apropriados, para os ensaios, para oficinas, apoios financeiros, situações que, às vezes, nem a comunicação social faz eco”.

“Mesmo no seio da sociedade, há pessoas que acham que quem faz teatro não tem nada para fazer e que fazer teatro é só subir ao palco e fazer as pessoas darem gargalhadas”, lamenta. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1165 de 27 de Março de 2024.

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Autoria:Dulcina Mendes,30 mar 2024 7:59

Editado porSara Almeida  em  20 nov 2024 23:25

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