Francisco Carapinha: “A realização do seminário de Árbitros em Cabo Verde não é produto do acaso, nem sorte de principiante”

PorAntónio Monteiro,8 abr 2018 10:19

​Para Francisco Carapinha a realização do seminário de árbitros, no Mindelo, é um marco histórico para o xadrez cabo-verdiano, pois é o primeiro grande evento sob a égide da Federação Internacional de Xadrez (FIDE) que se realiza no país.

A Cidade do Mindelo acolhe no mês de Junho um seminário de árbitros da FIDE. Qual é o enquadramento deste evento?

Este evento enquadra-se na política de formação que nós na Federação Cabo-verdiana de Xadrez (FCX) traçamos ao longo do nosso mandato. Quando a Federação foi fundada eu era o único árbitro licenciado na FIDE, ou seja, se pretendêssemos organizar e homologar um torneio e se eu não estivesse disponível para o arbitrar, teríamos de “importar” alguém para fazê-lo, o que tornaria difícil para não dizer impossível a organização de torneios oficiais. Que sentido fazia fundar uma federação que não conseguiria organizar e homologar torneios oficiais por não ter árbitros licenciados? Por este motivo, apresentei uma proposta para a formação de árbitros nacionais que nos permitisse formar agentes que se pudessem licenciar na FIDE (Federação Internacional de Xadrez) como árbitros nacionais. Essa formação decorreu em paralelo com a constituição da própria federação, ou melhor dizendo, decorreu nos dias que precederam a Assembleia constitutiva da FCX. Assim, a Federação acabava de constituir-se mas já tinha mais 6 árbitros nacionais a puderem licenciar-se. Isto, por parte da Federação, foi um sinal claro de objectividade, conhecimento, experiência e inteligência para identificar necessidades básicas e logo nos primeiros momentos, neste caso dos árbitros, colmatar uma deficiência que nos colocaria em risco a realização de torneios homologados pela FIDE. Posteriormente, também enquadrado nessa política de formação e de capacitação dos nossos agentes, realizamos uma formação para dinamizadores, monitores e instrutores, pois continuamos a entender que “não basta ensinar a jogar xadrez, é também necessário saber ensinar”. Com a realização na ilha do Sal do I Campeonato Nacional Individual Absoluto, achamos que, em paralelo, deveríamos realizar mais uma formação de árbitros, pois a experiência confirmou-nos que grande parte dos árbitros licenciados, sendo também jogadores, preferiam jogar a arbitrar. Assim, realizamos mais uma formação para novos árbitros, infelizmente com pouca adesão, mas de onde saiu mais um para licenciar. Na mesma altura, e aproveitando o formador, fez-se uma reciclagem para os árbitros já licenciados, pois como tinha havido alteração nas regras, fazia todo o sentido esta reciclagem, o que se veio a repetir em Janeiro passado, paralelamente aos Campeonatos Nacionais que decorreram no Mindelo, pois nova alteração ás regras justificaram mais essa reciclagem. O Seminário, enquadra-se dentro destas acções de formação, de forma a melhor capacitar os nossos agentes. Posso adiantar também que se enquadram neste quadro as acções que temos previsto a curto, médio e longo prazo, nomeadamente Formação para professores e Treinadores.

O que significa para o xadrez cabo-verdiano a realização deste seminário?

Primeiro há que explicar que este Seminário é organizado pela FCX, mas sobre a égide da FIDE. Ou seja, este seminário obedece a rigorosas regras emanadas pela FIDE, mais concretamente pela sua comissão de arbitragem. Nós temos de seguir essas regras. O Seminário é feito em nossa casa mas com as condições que a Federação Internacional nos impõe. Por exemplo, num seminário destes, o formador tem que ser alguém que está licenciado como FIDE Lecturer, e só há 71 no mundo, 3 dos quais em língua portuguesa. Para o xadrez cabo-verdiano é um marco histórico, pois é o primeiro grande evento da Federação Internacional que se vai realizar no nosso país. Uma federação que ainda não completou 2 anos de actividade ter conseguido para o seu país a realização de um evento destes não é fruto do acaso, nem é sorte de iniciante. Como me dizia uma pessoa bem colocada no desporto nacional, parabenizando pela realização do Seminário, isto “só mostra o trabalho sério que está sendo feito”. Certamente, há muitas federações de xadrez, muito mais antigas que a nossa, que não têm conseguido organizar um evento destes. Algumas delas, provavelmente, “roendo-se de inveja” por Cabo Verde, com um ano e meio de adesão á FIDE, já ir realizar um seminário desta natureza. Por exemplo a Federação Portuguesa, que já tem 90 anos, ainda só realizou um seminário destes, realizando o segundo no fim deste mês. Em língua portuguesa, pelo mundo inteiro, não sei se já se realizaram uma dezena de seminários de árbitros. Por aqui se pode atestar a importância que este Seminário nos traz. E que bem que soube, ao nosso ego, durante uns dois ou 3 dias, abrir o site oficial da FIDE e logo na página principal ver em destaque: “FIDE Arbiters’ Seminar in Mindelo, Cape Verde”.

Quem pode participar no seminário da FIDE?

Todos os interessados podem participar, no entanto as inscrições serão limitadas, estando reservadas vagas para os actuais árbitros nacionais licenciados e pelo menos para um participante da cada associação regional. As vagas em aberto e as reservadas não preenchidas serão ocupadas pelos restantes inscritos de acordo com a ordem de inscrição. Brevemente a Federação dará mais pormenores e abrirá as inscrições.

Depois do seminário os nossos árbitros ficarão capacitados para quê?

Os árbitros que obtiverem aproveitamento neste seminário obtêm uma norma, que é essencial, e que terá de juntar-se a mais 3 normas, obtidas como árbitro em torneios, para se licenciarem com árbitro FIDE e a partir daí iniciarem a carreira internacional na arbitragem de xadrez. Portanto, o aproveitamento no Seminário é um passo essencial para a atribuição da certificação internacional da especialidade.

A FCX organiza na ilha do Sal, no início do mês de Abril, os primeiros campeonatos nacionais de jovens. Qual é o objectivo?

O objectivo é apurar os nossos Campeões Nacionais de Jovens nas categorias de iniciados, juvenis e juniores, colocando-os em competição e promovendo a modalidade. É também nosso objectivo que outros jovens ao verem a envolvência que a competição trará, adiram ao xadrez por forma a que aumente o número de praticantes nas camadas mais jovens.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 833 de 04 de Abril de 2018.

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Autoria:António Monteiro,8 abr 2018 10:19

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  5 fev 2019 10:57

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