No Dream Team

PorFrancisco Carapinha,10 ago 2020 7:15

Não há dúvida que a COVID-19 veio dar uma grande “martelada” em quase todos os desportos. E não digo todos, porque pelo menos um, adaptou-se facilmente e rapidamente aos tempos de pandemia, beneficiando, para isso, das novas tecnologias.

Refiro-me, é claro, ao jogo dos reis que, mesmo com as contingências impostas pelas normas de protecção da saúde pública, pode manter-se em actividade e continuar a realizar competições, algumas delas, envolvendo interessantes somas de dinheiro, como foi o caso do Magnus Carlsen Invitational, jogado na plataforma da chess24, entre 18 de Abril e 3 de Maio, onde o actual campeão mundial, ao vencer o torneio, arrecadou a bonita soma de 70 mil dólares, sem sequer ter a necessidade de sair de casa. Segundo a plataforma onde foi realizada esta competição, mais de 10 milhões de pessoas acompanharam o torneio, demonstrando assim que, mesmo em alturas de confinamento, o xadrez continua a ter espectadores e sem qualquer risco de contaminação.

Como se tem verificado, em todo o mundo, ao longo destes longos 5 meses, “o xadrez está muito mais bem preparado para uma situação destas do que outros desportos”, conforme disse, a um jornal português, uma jogadora minha conhecida, acrescentando: “se tivéssemos de ir para um mundo online por necessidade, todos os outros desportos acabariam mas o xadrez não, garantidamente”.

No entanto, penso que, mundialmente, os xadrezistas encaram a actual situação das competições online, como sendo provisória e transitória e que a breve trecho serão retomadas as actividades presenciais onde poderemos olhar o adversário e tentar perceber o seu estado de espírito do momento, assim como, controlar e esconder parte das emoções que nos assolam durante uma partida de xadrez.

Embora o online não seja, para muitos, a forma ideal de competir, não há dúvida de que esses muitos consideram ser preferível “do que não ter a possibilidade de jogar de todo, como acontece com alguns desportos neste momento”, conforme disse uma outra jogadora ao jornal atrás referido.
Em Cabo Verde, embora o online não tenha substituído as competições presenciais, pelo menos amenizou os efeitos causados pelo estupor do vírus e, trouxe o xadrez para a ribalta.

A escassez de notícias de outros desportos, grande parte deles continuando parados, conjugado com o facto do xadrez jogado em crioulo estar bastante activo, tem permitido que os nossos média tenham publicado várias peças dando-nos conta das diversas realizações que vão acontecendo online e que têm mantido activos, os nossos xadrezistas.

Primeiro foram as competições nacionais, depois vieram os amigáveis com congéneres nossas e a seguir, as competições internacionais. Durante estes últimos meses, muitas foram as horas dedicadas às competições de xadrez on-line, que continuamos a privilegiar, enquanto aguardamos que seja possível voltar às actividades presenciais.

Durante o passado fim-de-semana, continuaram os encontros da Championship 2020 e regressaram os da Nations League, interrompidos, no anterior fim-de-semana, devido à Olimpíada online.

No passado domingo, realizou-se a 5.ª e última ronda da Nations League e o nosso adversário foi a Coreia do Sul. Devido às 10 horas de diferença horária entre os dois países, o match teve de começar às 10:30 H de CV (20:30 H na Coreia), o que não era habitual e fez-me prever dificuldades em constituir a equipa. Isso não veio a acontecer, e à hora marcada, David Mirulla, José Vaz, Aguinaldo Vera-Cruz, Carlos Mões, Luís Fernandes e Natalino Silva, estavam a postos para defrontarem os seus adversários em duas partidas de 15’+2’’. O final deste encontro foi de 10,5 – 1,5, favorável aos coreanos. No encontro seguinte (3’+2’’), fomos reforçados com o Mestre Mariano Ortega, Célia Guevara e Loide Gomes. Voltamos a perder, desta vez por 10-8, esfumando-se assim a possibilidade de ficarmos no 4.º lugar da competição, que foi ocupado por esta mesma Coreia, relegando-nos para a posição seguinte.

Na Championship League 2020, depois de empatarmos na 5.ª ronda, com a equipa “Gornja Radgona” da Eslovénia (5-5), na passada sexta-feira, vencemos por 4-2 o Clube de Xadrez de Estocolmo, o que nos coloca na 29.ª posição (entre 98) com 3,5 pontos.
Este fim-de-semana, joga-se a última ronda desta competição, e iremos encontrar pela frente a equipa do Brasil B.

Embora tenha terminado a nossa fugaz passagem pela Olimpíada On-line, a FIDE divulgou, o que já sabíamos, que o melhor 1.º tabuleiro do nosso grupo na Divisão Base, foi o Mestre Mariano e divulgou também, o Dream Team da referida Divisão:

Ortega Amarelle Mariano (Cape Verde) - 7.5 (8)

Eid Fadi (Lebanon) - 6.5 (7)

Nay Oo Kyaw Tun (Myanmar) - 5.5 (6)

Klerides Paris (Cyprus) - 5.5 (6)

May Hsu Lwin (Myanmar) - 8 (8)

Hemam Mine (Mauritania) - 7.5 (9)

Hj Azahari Siti Nur Fatanah (Brunei) - 9 (9)

Momin Fayzan (Pakistan) - 7 (8)

Salman Samer (Lebanon) - 5 (5)

Assoum Nour (Lebanon) - 9 (9)

Sagastegui Thamara (Aruba) - 9 (9)

Niyonzima Deborah (Burundi) - 8 (8)

Ou seja, o nosso objectivo na olimpíada foi falhado, mas além do melhor primeiro tabuleiro ser nosso, tivemos, o mesmo jogador, Mestre Mariano Ortega, a fazer parte do Dream Team da nossa divisão, colocando-o como número 1 desse mesmo Dream Team.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 975 de 5 de Agosto de 2020. 

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Autoria:Francisco Carapinha,10 ago 2020 7:15

Editado porSara Almeida  em  24 mai 2021 23:21

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