A regulamentação não nos era muito favorável, pois a FIDE (Federação Internacional de Xadrez), exigia que cada equipa fosse constituída por seis elementos, obrigatoriamente com três do sexo feminino, um dos quais Sub 20. Dos restantes três elementos, pelo menos um, teria obrigatoriamente que ser também Sub 20.
Temos atletas, muito jovens, nestas condições, no entanto, como estão no início das suas participações desportivas são bastante inexperientes. Além disso, as condições técnicas exigidas, não estavam ao alcance de todos, o que também nos limitou a selecção da equipa.
Foi perante este cenário que o nosso Director Técnico Nacional escolheu os seis base que nos representariam, estando no 4.º tabuleiro uma jovem de 12 anos e nos 5.º e 6.º tabuleiros dois jovens ambos de 17 anos, o que nos dava uma média de idades, nestes 3 tabuleiros, de 16 anos.
Escolhida e inscrita a equipa havia que aguardar pela divisão e adversários que nos seriam reservados.
Estávamos conscientes que provavelmente seríamos colocados na divisão base, pois um dos critérios de escolha era a classificação na Olimpíada de 2018 realizada em Batumi (Georgia). As nossas suspeitas confirmaram-se e fomos emparceirados na Pool C da divisão base.
Quando conhecemos os nossos adversários, a esperança de fazermos uma boa prova, passou a ter um objectivo: ficar nos 4 primeiros lugares do grupo e passar á fase seguinte, ou seja ascender á Divisão 4. Sabíamos das dificuldades mas acreditávamos que o nosso objetivo era possível de ser alcançado. A própria FIDE, no sítio oficial da Olimpíada e na antevisão da nossa Divisão, escrevia: “Será interessante assistir a Cabo Verde em acção - o jogador mais bem cotado na Divisão de Base, IM Ortega Amarelle Mariano, compete por esta nação insular, mas seus companheiros de equipa não têm muita experiência em competições de xadrez”.
No passado Sábado iniciamos a nossa participação nesta grande competição mundial e logo da melhor forma, uma retumbante vitória por 5-1 perante as ilhas Caimão. A seguir, e para resfriar os ânimos, fomos derrotados pela Mauritânia, pelo mesmo resultado. Terminamos a jornada empatando com Aruba (que veio a ser a 2.ª classificada no grupo), num jogo em que tivemos chance de vencer. No final do dia estávamos em 4.º lugar, com 3 pontos e dentro do nosso objectivo.
No Domingo sabíamos que iria ser uma jornada muito dura, como realmente veio a ser. Perdemos logo o primeiro jogo com a Líbia, pela diferença mínima e onde os nossos jogadores se queixaram do anti-jogo dos líbios que estiveram constantemente a propor-lhes empate. Ainda reclamei junto da árbitra, mas ela fez ouvidos (ou olhos) de mercador.
A ronda seguinte foi-nos favorável e cilindramos a Antígua e Barbuda por 5,5-0,5.
Tudo estava nas nossas mãos quando entramos na ronda final de Domingo, mas a pesada derrota com o Haiti (4,5-1,5), retirou-nos grande parte do nosso sonho em alcançar o grande objectivo de nos qualificar.
No último dia de competição desta Divisão Base, começamos a jornada defrontando Santa Lúcia e o impensável aconteceu: fomos derrotados por 4-2. Com este resultado, esfumou-se completamente a hipótese de apuramento para a fase seguinte. Os dois jogos seguintes tinham graus de dificuldade diferentes, na penúltima ronda o adversário era Granada, último classificado e terminavamos com o Chipre, vencedor no Grupo. Com Granada, ganhamos por falta de comparência e com o Chipre perdemos por 5-1.
No final, terminamos em 7.º lugar, muito aquém do que pretendíamos, pelo que falhamos o nosso principal objectivo.
Como consolação, a nível individual, o Mestre Mariano Ortega, foi o melhor 1.º Tabuleiro e Célia Guevara, a 2.ª melhor no 3.º tabuleiro.
Falhamos o nosso objectivo, mas creio que demos um grande passo na construção de uma boa equipa nacional feminina que futuramente nos possa representar internacionalmente.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 974 de 29 de Julho de 2020.