O nosso doping, chama-se batota

PorFrancisco Carapinha,17 ago 2020 8:22

A recente publicação, no BO, da Lei n.º 98/IX/2020, estabelecendo o regime jurídico da luta contra a dopagem no desporto em Cabo Verde, veio colocar o nosso país, na lista dos países seguidores das orientações emanadas pela UNESCO e pela AMA (Agência Mundial Antidopagem), no que se refere à luta contra a dopagem no desporto.

À primeira vista, parece-me que as federações desportivas nacionais, não se aperceberam ainda das novidades que esta legislação nos trouxe. E digo isto, ao avaliar a presença federativa nacional na reunião, realizada online, a semana passada, promovida pela Organização Nacional Antidopagem de Cabo Verde (ONAD-CV), e com o intuito de apresentar o novel normativo.

O certo é que esta legislação vem impor às federações desportivas nacionais, a adaptação dos seus regulamentos antidopagem ás regras nela estabelecidas. Para isso, as federações, têm um prazo de seis meses, a partir da entrada em vigor (30 de Julho) da nova Lei.

Os referidos regulamentos federativos antidopagem, têm de ser aprovados e registados na ONAD-CV, caso contrário, as federações desportivas incumpridoras, ficarão impossibilitadas de beneficiarem de qualquer tipo de apoio público, sem prejuízo de outras sanções, enquanto durar o incumprimento.

Novidade também, é que qualquer prova desportiva em que o prémio monetário seja superior à retribuição mínima mensal garantida, será sujeita ao controle antidoping.

Mas o que é que o xadrez tem a ver com isto? Será esta a questão que alguns dos estimados leitores devem estar a fazer neste momento.

Pois, por incrível que pareça, as provas de xadrez estão sujeitas ao controle antidoping, como qualquer outra modalidade desportiva.

Embora a componente física não se aplique ao xadrez, pois é um um desporto em que o desgaste se faz a nível do intelecto, o certo é que na ânsia de torná-lo numa modalidade Olímpica, a FIDE, acabou por sujeitar a nossa modalidade ao controle antidoping idêntico aos das modalidades que exigem enorme esforço físico.

O controle anti doping no xadrez parece ser uma aberração, de tal forma que, de acordo com o que publicou o jornal espanhol “El País”, desde que foram realizados os primeiros controles anti doping no xadrez (finais anos 90), “não se conhece um único caso positivo entre os jogadores de elite, embora alguns tenham sido punidos por se terem recusado a submeter-se ao exame como forma de protesto”.

Ainda segundo médicos consultados por aquele jornal, “existem substâncias, como anfetaminas ou betabloqueadores, que podem melhorar o desempenho de um jogador de xadrez em momentos específicos, mas, além de seus efeitos colaterais perigosos, é provável que sejam contraproducentes. Por exemplo, um betabloqueador pode ajudar um xadrezista muito nervoso a planear-se melhor nas primeiras horas de uma partida decisiva. Mas se esse mesmo jogador tiver pouco tempo, o betabloqueador vai colocá-lo em apuros quando precisar de sua capacidade de reflexos a 100% para realizar, por exemplo, seis boas jogadas em um minuto. E vice-versa em relação às anfetaminas”.

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Eu, já estou como dizia o GM azeri Vugar Gashimov (1986-2014): “xadrez, eu posso dizer, é uma espécie de “doping” em si, até mesmo uma droga. Todos os grandes MESTRES tornaram-se viciados deste jogo desde a infância e não conseguem livrar-se dele para o resto das suas vidas”. Ou seja, se o próprio jogo já é uma “droga” viciante, porquê tomar outra?

Mas o xadrez, tem o perigo da adulteração de resultados através um outro doping e que se chama: BATOTA.

Quanto a mim, o “Cheating” é o verdadeiro doping do xadrez e é para esse doping que deveremos apontar as nossas armas e continuar as nossas lutas.

Recentemente, na Olimpíada Online, que ainda decorre, a FIDE (Federação Internacional de Xadrez), divulgou que identificou 4 casos em que há motivos suficientes para acreditar que os Regulamentos de Fair Play foram violados. Todos os resultados desses jogadores nas Olimpíadas Online foram transformados em derrotas. Os 4 batoteiros foram identificados como representando o Mali (Divisão de Base, Grupo B), Brunei Darussalam (Divisão 4, Grupo A), Hong Kong (Divisão 4, Grupo A) e Nicarágua (Divisão 4, Grupo E).

Termino hoje com informação da derradeira ronda da Championship League 2020, jogada no passado fim-de-semana. A nossa selecção jogou e venceu por 6,5 – 5,5 a equipa B do Brasil. Mestre Mariano Ortega, David Mirulla, José Vaz, Célia Guevara, David Anes e Iura Miranda, impuseram-se aos nossos irmãos brasileiros, transportando-nos para um excelente 20.º lugar (entre 98 equipas) com 4,5 pontos.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 976 de 12 de Agosto de 2020.

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Autoria:Francisco Carapinha,17 ago 2020 8:22

Editado porSara Almeida  em  30 mai 2021 23:21

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