Se a Federação Cabo-verdiana de Xadrez é a única, presumo eu, federação desportiva nacional com sede efectiva e estatuária em S. Vicente, ilha escolhida para acolher esta Gala de 2019, e se no seu vídeo de promoção desfilam várias modalidades desportivas não incluindo o xadrez, é fácil de depreender que não poderia agourar nada de bom, a acontecer na gala, para o jogo dos reis.
A confirmação desse presságio aconteceu uns dias depois, quando tive conhecimento de todos os nomeados, nas várias categorias, para os prémios a atribuir pela badalada Gala do Desporto Cabo-verdiano 2019.
Li, reli e voltei a ler a lista com todas as nomeações e nem queria acreditar que o xadrez estava excluído daquela listagem que seria colocada á votação.
“Não pode ser”, dizia para mim próprio, um ano após a nossa primeira participação internacional, a Olimpíada de xadrez realizada em Batumi (Geórgia) e num ano em que obtivemos a nossa primeira medalha de ouro em competições internacionais, em que chegamos aos militares, em que chegamos às cadeias, em que um árbitro nosso arbitrou em 3 torneios internacionais, incluindo o Continental das Américas (uma espécie de Copa América do futebol), num ano em que a FIDE (Federação Internacional de Xadrez) considerou que Cabo Verde, a par das Maurícias e de S. Tomé e Príncipe foram os países africanos onde o xadrez mais se desenvolveu, nem uma nomeação nos tinha sido atribuída.
Posso dizer que nessa altura invadiu-me um sentimento de desolação e frustração, pois tenho a consciência de que tudo fizemos para que o xadrez avance e se desenvolva de forma a que esteja sempre na linha da frente no desenvolvimento desportivo do país.
Considero que a Gala do Desporto Cabo-verdiano deste ano de 2019, para o xadrez, foi uma Gala Negra, não só pelos factos atrás descritos, como pelo facto de na altura da apresentação das nossas nomeações, devidamente justificadas, apresentamos também algumas propostas de actividades a desenvolver paralelamente à Gala ou no próprio evento e para o qual não obtivemos qualquer resposta, o que poderemos entender, depois de tudo o que se passou, por uma falta de consideração.
A não ser que se tenham perdido as nomeações e as propostas enviadas atempadamente pela FCX.
Perante toda esta situação, a direcção da FCX considerou o xadrez nacional foi menosprezado existindo uma falta de consideração para com a nossa modalidade, facto pelo qual decidiu não se fazer representar na referida Gala do Desporto nem em nada a que ela dissesse respeito, posição que manteve embora houvesse quem tentasse demover-me dessa posição.
Embora não sejam os prémios da Gala que nos motivam e movimentam como o nosso trabalho, não há dúvida que uma simples nomeação se torna um incentivo para aqueles que gostam de participar e se fazerem presentes nas mais diversas actividades que se foram já realizando. Par o ano há mais, mas nada limpará a nódoa deste ano.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 937 de 13 de Novembro de 2019.