Desenganem-se aqueles que acharam que a pandemia desaparecia, como que por magia, conjuntamente com a última badalada de 2020.
O anúncio do início da vacinação, a vontade de festejar o Natal e as festas de fim-de-ano, aliados à ignorância e insensibilidade de muitos dos comuns mortais, trouxe um manto de tranquilidade, claramente inexistente, que se reflectiu no comportamento assassino e até suicida de muitos.
Os resultados estão à vista: um crescimento de infectados e mortos, levando a que em S.Vicente, que tinha sido quase um “oásis” da pandemia no nosso país, tenha sido necessário declarar o estado de calamidade.
Segundo consta, a vacinação irá ser prolongada e os resultados práticos só se farão sentir muito mais tarde. E se há países onde os seus planos de vacinação já estão em marcha, em Cabo Verde, nem sequer sabemos quando chegará a vacina.
Além do tempo que a vacinação demorará a surtir efeitos práticos, há que contar também com os atrasos dos laboratórios nas entregas das encomendas, nas falhas de logística que sempre acontecem, nas decisões dos políticos com objectivos eleitoralistas ou outros similares e no incumprimento, por parte da população das regras de segurança sanitária.
Recentemente ouvi, na televisão, um comentário da Drª. Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das Finanças de Portugal, considerando, “grosso modo”, que perante a situação pandémica de então, os decisores políticos tinham de decidir por salvar a economia ou a saúde, arriscando-se a que caso optassem pela economia, acabassem por perder as duas.
Sou de idêntica opinião e se, por cá, for necessário optar por medidas mais duras, porque as actuais não estão a ser suficientes ou não são cumpridas, então não se faça como em Portugal onde se optou por um “confinamentozito”, em que são tantas as excepções que é difícil perceber a regra.
O desporto tem sido das actividades mais fustigadas por esta terrível pandemia e, em Cabo Verde, excepção feita ao xadrez, praticamente toda a actividade tem estado parada desde Maio passado.
Tem havido iniciativas de retoma de algumas modalidades e, na sequência da reunião do Conselho Nacional do Desporto, realizado em finais de Novembro último. Foi publicado no B. O. do passado dia 15 de Janeiro, a Resolução no. 5/2021, que define as regras para a retoma desportiva e estabelece os graus de risco de contágio das diversas modalidades desportivas.
O xadrez, embora nunca tenha parado a sua actividade por força das competições online e já tenha realizado, presencialmente, o seu Campeonato Nacional Absoluto, é classificado nessa resolução, como seria de esperar e como sempre defendi, uma modalidade de MUITO BAIXO risco de contágio. Ou seja, nas nossas competições presenciais, embora tenhamos que seguir algumas regras de segurança sanitária, não nos é obrigado fazer testes de despistagem.
Obviamente, para as competições online, não precisamos nada disto, já que a participação neste tipo de actividades o risco de contágio é nulo.
E o online, que era um filho pobre do xadrez, em grande parte devido à pandemia, começou a ser visto com outros olhos, tendo a própria Federação Internacional (FIDE) já realizado provas, de repercussão mundial, no online.
Além da realização destas provas, e atendendo ao que está a acontecer por toda a parte do nosso planeta, a FIDE já regulamentou as provas online e anunciou que as provas híbridas passarão a ser também válidas para cálculo de Elo (o ranking do xadrez). Ou seja, uma revolução regulamentar, em parte, causada pelas necessidades que a pandemia nos trouxe.
Tenho intenções de brevemente voltar a este tema e aqui escrever acerca dessa revolução regulamentar e sobre as suas consequências.
Continuando nas competições online e no passado sábado iniciamos a nossa participação na segunda edição da Champions League, defrontando e perdendo com a Jamaica. No próximo fim-de-semana, para esta mesma competição, jogaremos com a Arábia Saudita, aproveitando assim para que alguns jogadores vão rodando e competindo.
De 25 a 29 de deste mês estaremos presentes, com 4 jogadores, no 2021 AFRICAN ONLINE INDIVIDUAL CHESS CHAMPIONSHIPS, a realizar na plataforma Tornelo e organizado pela FIDE e pela Confederação Africana de Xadrez (ACC). Na categoria Open o nosso Mestre Internacional, Mariano Ortega, irá defender as nossas cores, enquanto que na categoria feminina teremos Célia Guevara. Nos Sub-20 femininos, seremos representados por Loide Gomes e nos Veteranos por Luís Pina Fernandes. Estamos esperançados que os nossos xadrezistas tenham uma boa participação nesta primeira competição de 2021.
Não posso terminar sem deixar um apelo para que todos cumpram as regras de segurança sanitária. O ano de 2020 já acabou, mas a pandemia continua.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 999 de 20 de Janeiro de 2021.