O triunfo sobre os líbios, que ainda estão envolvidos na luta pela qualificação, assegura aos ‘tubarões azuis’ a primeira presença no Campeonato do Mundo, mas mesmo o empate será suficiente, desde que os Camarões não ganhem no mesmo dia nas Maurícias, na penúltima jornada do Grupo D africano de apuramento.
Caso falhe o objectivo na terça-feira em ambos os estádios, Cabo Verde ainda terá outra oportunidade para fazer história, na segunda-feira seguinte, quando receber a frágil representação de Essuatíni – lanterna-vermelha do grupo, sem qualquer triunfo nos oito jogos que disputou -, na derradeira ronda.
O cenário é francamente animador. A equipa orientada pelo seleccionador Pedro Brito ‘Bubista’ lidera a ‘poule’, com 19 pontos, mais quatro do que os Camarões, que eram favoritíssimos a terminar no primeiro lugar, o único que proporciona a qualificação directa para o Mundial2026.
A Líbia é terceira classificada, a cinco pontos dos cabo-verdianos e a um dos camaroneses, com os quais deverá disputar o precioso segundo lugar, que abre a possibilidade de apuramento aos quatro melhores de toda a fase de grupos, através da participação no play-off africano e, posteriormente, intercontinental.
Angola ocupa o quarto lugar, a nove pontos de Cabo Verde e já sem possibilidade de chegar ao primeiro posto, mas podendo intrometer-se na luta entre Camarões e Líbia, apesar de estar dependente de terceiros. Maurícias, quinta classificada, e Essuatíni, sexto, já só poderão sonhar com o Mundial de 2030, organizado por Portugal, Espanha e Marrocos.
Quanto a Cabo Verde, pode começar já a preparar as malas para os Estados Unidos, México ou Canadá, países anfitriões do Mundial2026, entre 11 de Junho e 19 de Julho, o que elevará consideravelmente a presença dos campeonatos portugueses no mais importante torneio de selecções.
Aos 55 anos, Pedro Brito ‘Bubista’ prepara-se deixar o nome e a alcunha gravadas na história do seu país, que também representou como jogador, no início do século XXI, momentos altos de uma carreira com passagem curta pelo futebol nacional, no Estoril Praia, na época 2002/03.
Com seis vitórias, um empate e uma única derrota, nos Camarões, por 4-1, Cabo Verde está a efectuar uma campanha notável e talvez nem precisasse do alargamento do Mundial a 48 selecções para alcançar a inédita qualificação para a fase final.
Marco Soares pede a jogadores para serem “iguais a eles próprios”
O ex-futebolista Marco Soares acredita que os jogadores de Cabo Verde vão conseguir superar a ansiedade e serem “iguais a eles próprios” e assegurarem a histórica e inédita qualificação para o Mundial2026.
Os ‘tubarões azuis’ estão a apenas uma vitória de garantirem o primeiro apuramento de Cabo Verde para um Mundial, liderando o Grupo D, com 19 pontos, mais quatro do que os Camarões, cinco do que a Líbia, que defronta na quarta-feira, nove do que Angola, 14 do que as Maurícias e 17 do que Essuatíni, com quem fecha o apuramento, em 13 de Setembro.
“São dois jogos em que precisam ganhar um dos jogos. Neste momento a vantagem é de Cabo Verde, mas de um momento para o outro tudo se pode embrulhar, por isso é serem positivos, sentir a energia positiva que toda a nação cabo-verdiana está a enviar para eles, a confiança que todo o povo cabo-verdiano está a depositar neles”, afirmou Marco Soares.
Em declarações à agência Lusa, o antigo capitão da selecção nacional afirmou: “uma coisa que eles têm de meter na cabeça é que eles têm 180 minutos para dar uma alegria a muitos cabo-verdianos que tiveram vidas e vidas de sofrimento, mas que nesse momento só vão querer é poder dizer Cabo Verde está no Mundial e eles têm essa responsabilidade, mas é uma responsabilidade boa”.
Actualmente treinador adjunto do Paredes, Portugal, Marco Soares admite que “já há muita ansiedade”, tal como havia antes do encontro com os Camarões (1-0), antes do qual alguns jogadores “não dormiram”.
“Acredito que agora, estando cada vez mais perto, a ansiedade vai ser ainda maior, mas a única coisa que eles têm que fazer é ser iguais a eles próprios, àquilo que fizeram até agora, porque o que têm feito tem sido mérito de todo o trabalho que têm desenvolvido e é deixar as coisas acontecer naturalmente, porque a qualidade está lá e vai acabar por vir ao de cima. Mas acima de tudo é manterem-se humildes, pés no chão, porque ainda nada está garantido”, alertou.
Marco Soares era o capitão da equipa que fez a estreia na Taça das Nações Africanas de 2013 (CAN2013) e admite que as duas gerações são diferentes, porque agora “há jogadores mais jovens a aparecer com muita qualidade”, enquanto a equipa de 2013 tinha “jogadores muito experientes, jogadores que já representavam Cabo Verde também há algum tempo, com um patriotismo muito grande”.
“Essa é a grande diferença que eu vejo. Mais qualidade agora e mais patriotismo em 2013, mas eu acho que esta possível qualificação para o Mundial pode também cultivar esses jovens a terem esse patriotismo por Cabo Verde, porque vão sentir o amor do povo, o carinho, vão sentir isso. Já sentiram no jogo contra os Camarões, tal foi a invasão e eles de certeza que sentiram isso na pele. Isso vai ser benéfico é para a selecção, porque vai se juntar muita qualidade ao patriotismo”, disse.
Sobre os festejos da qualificação para o CAN2013, Marco Soares lembrou que “há quem diga que saiu mais gente às ruas nessa altura do que no dia da independência de Cabo Verde, porque realmente houve ali uma conexão muito grande, havia uma proximidade muito grande entre o povo, entre a nação toda e aquela selecção em especial”.
“Mas só que o Mundial é o Mundial, todos os cabo-verdianos sonham com o Mundial, por isso eu nem quero pensar como é que Cabo Verde pode ficar. [...] Neste momento eu acho que o próprio Cabo Verde não está preparado para um apuramento de Cabo Verde para o Mundial, não estão preparados, porque eu penso que vai atingir níveis que nunca se atingiram em Cabo Verde”, referiu.
Caso se confirme o apuramento, Marco Soares acredita que é preciso “dar continuidade” e que “as responsabilidades vão ser acrescidas”, admitindo que “vai haver muitos mais cabo-verdianos na diáspora a querer representar Cabo Verde, com um nível de exigência maior”.
O apuramento para o Mundial2026 pode levar Cabo Verde aos Estados Unidos, que organiza o torneio juntamente com Canadá e México, “um dos locais que tem a maior diáspora cabo-verdiana”.
“Todos os cabo-verdianos que estão nos Estados Unidos estão super entusiasmados e eu tenho certeza que Cabo Verde, numa fase final, nunca vai ter tanto apoio como aquele que poderá ter neste Mundial. [...] Eles estão todos ansiosos e eu tenho a certeza que, se Cabo Verde se conseguir apurar, o povo cabo-verdiano também se vai dar a conhecer e vai ser também falado nas bancadas pela festa que vai fazer em volta de cada jogo que Cabo Verde possa disputar”, assumiu.