Novo ano, ambições antigas para o sector privado. A resolução da “esquizofrenia burocrática, a unificação do mercado nacional e a atribuição aos privados do papel central no desenvolvimento da economia são algumas das prioridades para 2018, estabelecidas pelos empresários da região Norte.
Para Belarmino Lucas, presidente da Câmara de Comércio de Barlavento (CCB), os próximos doze meses serão decisivos. Nada disto é novo, já o sabemos. As metas de 2018 já o eram em 2017 e antes disso. A novidade do novo ano é a expectativa renovada dos empresários que, reconhecendo a abertura do actual governo para o diálogo, olham para o novo ano como um período decisivo, tempo de passar das palavras aos actos, até pela duração do ciclo político.
“Diz bem, prioridades antigas, prioridades que têm a ver com a unificação do mercado nacional, em primeiro lugar. O problema dos transportes marítimos, que tem de ser resolvido - parece que as coisas estão encaminhadas nesse sentido e teremos, neste ano, resultados, nomeadamente a concessão do serviço público de transporte marítimo. Regularização da situação em termos dos transportes aéreos inter-ilhas, a sua conexão com o hub da TACV, na ilha do Sal, a questão da problemática da carga aérea, que é também um problema”, resume o líder associativo.
A questão do transporte de carga por via aérea, entre as diferentes ilhas do arquipélago e para o exterior merece especial referência, pelas dificuldades acrescidas trazidas pelo fim da operação doméstica da companhia de bandeira e término das ligações directas internacionais a partir de São Vicente.
“Quem produz e exporta determinados produtos, particularmente grande parte das empresas da zona industrial do Lazareto, depende muito do transporte de carga aérea para fazer escoar a sua produção e essa é uma situação que se complicou ultimamente, com a saída da TACV do mercado, em termos internos, mas também de voos directos a partir de São Vicente. Há dificuldades acrescidas nesta matéria e que têm de ser resolvidas”, comenta.
Dor de cabeça antiga e um daqueles temas que já cansa só de ouvir falar, o financiamento à economia espera por certezas. O governo, nomeadamente via Finanças, anunciou medidas concretas que deverão sair do papel nos próximos meses. Do conjunto de iniciativas, Belarmino Lucas destaca a linha de crédito junto do Afreximbank, no valor de 500 milhões de euros, e espera pelo acesso à verba e o que daí resultará.
“Também a nível das garantias e das contragarantias, da bonificação de juros para determinado tipo de financiamentos”, acrescenta o presidente da Câmara de Comércio de Barlavento à lista de reivindicações a aguardar resolução no curto prazo.
Porém, é consensual que para dar o passo em frente que os empresários querem e a economia aguarda é necessário resolver outro constrangimento ‘daqueles’: a burocracia.
“Do ponto de vista estritamente económico e empresarial é uma questão que tem que ser resolvida, tem que ter alguma resposta muito concreta, neste ano de 2018”, antecipa.
Crescimento inclusivo
Naturalmente, os empresários da região norte esperam que 2018 seja de crescimento da economia, mas desejam também que essa melhoria do Produto Interno Bruto (PIB) seja conseguida de forma inclusiva, através da melhoria real das condições de vida das populações.
“De pouco valerá termos um PIB a crescer, se esse crescimento não puder ser disseminado por toda a população. Se toda a população não puder beneficiar desse crescimento”, defende o responsável da associação que representa o empresariado do Barlavento.
“O crescimento do PIB deve ser acompanhado do crescimento e da evolução do nosso índice de desenvolvimento humano. Isso tudo só será possível se o sector privado tiver condições para crescer, para prosperar, para criar emprego, emprego com salários dignos, justos, que permitam que as pessoas tenham uma vida digna e que sejam, efectivamente, consumidores e não apenas pessoas que sobrevivam num determinado espaço territorial”, acrescenta.
Para que isso aconteça, Belarmino recorda, uma vez mais, a urgência de melhorias no mercado interno e fala para a classe que representa, enquanto acrescenta mais um tópico à ‘to do list’ para 2018: melhorar a performance das empresas.
Tudo ou nada
Depois de dois anos de expectativa, 2018 deverá ser ‘o’ ano. Durante os dois primeiros anos de mandato, o governo de Ulisses Correia e Silva beneficiou da paciência e compreensão dos empresários, conscientes de que as mudanças estruturais não se fazem de um dia para o outro. Agora, os patrões querem resultados.
“Este ano é um ano determinante, onde aquilo que são as soluções preconizadas por este governo têm de começar, de facto, a concretizar-se, em termos da economia, do sector privado”, estabelece o presidente da CCB.
Mantendo o optimismo que tem expressado desde 2016, Belarmino Lucas está satisfeito com as respostas dadas pelo Orçamento de Estado, em vigor desde 1 de Janeiro, e relembra que “o documento mereceu o posicionamento favorável da esmagadora maioria dos membros” da confederação empresarial que dirige.
Recordando que o governo quer a economia a crescer a 7% ao ano, o líder associativo alerta que a concretização da meta “implica a conjugação de um conjunto de factores muito estritos”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 841 de 10 de Janeiro de 2017.