Fim de correspondência teve impacto moderado na banca nacional

PorAndre Amaral,11 fev 2018 10:37

​Missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Cabo Verde alertou, no final da sua vinda ao país, no passado dia 26 de Janeiro, para as dificuldades que podem ser criadas a Cabo Verde pelo desaparecimento das relações com os bancos correspondentes. BCV reconhece diminuição de número de bancos correspondentes desde 2013 mas garante que os bancos nacionais souberam contornar o problema.

“Em Cabo Verde”, explica o Banco de Cabo Verde, de uma forma geral, os bancos “perderam relações com muitos bancos correspondentes desde 2013, traduzido no encerramento de algumas contas nas principais moedas de transacção internacional, nomeadamente em dólar dos EUA. Contudo, o impacto sobre o sistema bancário, até ao momento, tem sido moderado na medida em que os bancos souberam arranjar soluções, embora com custos mais elevados para as transacções em dólar”.

O aviso tinha sido lançado pelo FMI no final de Janeiro, em conferência de imprensa. O fenómeno é global, assegurou o chefe da missão do FMI, Max Alier, e Cabo Verde enfrenta o mesmo problema.

“A perda das relações com os bancos correspondentes representa uma vulnerabilidade, dada a dependência de Cabo Verde das remessas e depósitos de migrantes. Seria mais fácil prevenir ou reverter progressivamente a situação de perda das relações com os bancos correspondentes reforçando as medidas em curso com vista a garantir a efectiva colaboração com outras jurisdições em matéria fiscal”, apontou Max Alier.

Segundo o Banco de Cabo Verde esta relação entre “bancos correspondentes consiste na disponibilidade de uma conta corrente de um banco em outro banco” que a utiliza com o objectivo de “facilitar pagamentos transfronteiriços”.

Assim, explica o BCV, as “decisões de suspensão tomadas pelos grandes bancos internacionais, na sequência da crise financeira mundial, estão sobretudo associadas aos avultados investimentos que estes bancos têm de fazer em matéria de mecanismos de controlo interno para mitigar o risco de lavagem de capitais e do financiamento do terrorismo, de modo a responderem às exigências dos seus reguladores”.

Por outro lado, prossegue o banco central, este elevado investimento em sistema de controlo interno, acaba por não ser compensado devido ao baixo volume de negócio feito com países considerados de menor porte na África, nas Caraíbas, na Ásia Central e na Europa, “o que causa problema de rentabilidade do negócio para estes grandes bancos. Efectivamente, os países pequenos citados têm enfrentado dificuldades particulares na manutenção das relações com os correspondentes, sobretudo em USD, devido à sua incapacidade de satisfazer os limiares de volume de negócio que rentabilize os bancos correspondentes”.

FMI prevê crescimento económico de 4,3% para este ano

Max Alier, anunciou no final da visita que a sua equipa fez a Cabo Verde que a “recuperação económica está a ganhar impulso, o que reflecte um ambiente externo mais favorável e os resultados das reformas económicas em curso”. Tendo isso em conta, o FMI aponta que a economia nacional venha a crescer 4,3% durante este ano, o que significa um aumento relativamente ao ano passado em que o FMI aponta para um crescimento de 4% e que se sustenta “no crescimento de dois dígitos da entrada de turistas, na recuperação do crédito ao sector privado, e na maior confiança dos consumidores e do sector dos negócios”, destacou Alier.

O FMI prevê, igualmente, que o crescimento da economia nacional venha a “estabilizar por volta dos 4%, respaldado na maior confiança dos investidores na sequência da execução do programa de reforma das autoridades”.

“Cabo Verde alcançou uma consolidação orçamental impressionante nos últimos anos”, acrescentou o chefe de missão do FMI, que, no entanto, alertou que “a redução da dívida pública se tem revelado um desafio”. Segundo Max Alier os dados recolhidos pelo FMI apontam para que a dívida pública esteja agora nos 126,5% do PIB, “assinalando a primeira queda em dez anos” enquanto o défice orçamental registou uma diminuição de 3%. “A meta do défice orçamental fixada em 3,1%” do PIB registada no Orçamento do Estado “é viável, embora exija esforços assertivos de continuar a reforçar a direcção da administração fiscal e aduaneira, e garantir que a alienação de activos públicos que atrasou no ano passado se concretize em 2018”.

Quanto ao sector empresarial do Estado, o FMI recomendou ao governo que acelere a sua reestruturação de forma a eliminar a necessidade que as empresas públicas têm de receber ajudas estatais, “em particular as empresas de transporte aéreo (TACV), habitação (IFH) e energia (ELECTRA)”, o que, aponta o FMI, “abriria caminho para um maior crescimento do crédito ao sector privado, para uma maior confiança dos investidores, a aceleração do crescimento de médio prazo, a colocação da dívida numa trajectória descendente e para a redução do risco de pressão da dívida externa”.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 845 de 07 de Fevereiro de 2018.

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Autoria:Andre Amaral,11 fev 2018 10:37

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  10 jan 2019 3:22

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