São números que, na realidade, comprovam a percepção de quem lida com a juventude. Por motivos que se prendem, nomeadamente, com a expectativa de frequência escolar, uma diferenciação deve ser feita (e o próprio INE a faz), subdividindo-os na faixa 15-24 anos e 25-34 anos (ambos com a mesma percentagem de jovens ‘nem, nem’). É sobre a primeira que aqui falamos. Afinal, quem são esses jovens? Como ocupam o tempo? E o que está a falhar?
Bruno, chamemos-lhe assim, tem 20 anos. Terminou o secundário e entrou na Universidade. Tudo conforme se espera numa sociedade cada vez mais escolarizada.
Há um par de anos pensava, optimista, que “era só terminar o 12.º ano” e de seguida, “conseguir um trabalho, fazer a licenciatura e ter uma vida estável”.
“Mas a realidade é totalmente diferente. Fomos mandados vender pastel. Não é que não venda, mas não tenho vocação para isso”, critica, mostrando que para os jovens pouco importa quem está agora no governo. Os problemas que os afectam não parecem ter cor.
Seja como for, Bruno ingressou no Ensino Superior, mas sem trabalho e sem condições económicas por parte da família para suportar as propinas, acabou por desistir.
Os dias, semanas, meses, passam e voltar aos estudos superiores é algo que parece cada vez menos plausível. “Fazer uma licenciatura, está difícil e estudar durante anos para no fim ficar em casa é frustrante. Tenho amigos nessa situação, então, sinceramente, às vezes paro para reflectir e pergunto-me: ‘estudar quatro anos para ficar, na mesma, no desemprego?... ”, conta.
A solução passará eventualmente por uma Formação, algo em que, aliás, tem estado a pensar. Enquanto isso, tem procurado emprego e o ideal seria um “trabalho fixo, com bom salário todos os meses”. Mas esses trabalhos são escassos. Ainda não lhe apareceu nenhum. Apenas surgem trabalhos muito duros e mal pagos, geralmente na construção civil.
No seu caso, a escassa oferta levou-o a optar por um “negócio próprio”. Não ainda na área que gostaria e que exige um investimento mais avultado, mas na revenda. “Basicamente estou aprendendo”, diz. Mas “já vai dando alguns trocos…”
Bruno é, entretanto, um dos cerca de 29.967 jovens 15-24 anos (30,3% do total nesta faixa etária) contabilizados “como sem emprego e que não estão a frequentar um estabelecimento de ensino ou de formação. Um indicador que merece actualmente um novo olhar na medida em que, como relembra o INE “uma das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 8.6.1) é reduzir substancialmente a proporção de jovens sem emprego, educação ou formação”.
Há uma ligeira melhoria. Em 2017 a taxa dos “nem, nem”, nessa faixa etária, era de 31,4%. Não obstante, continua a ser uma taxa preocupante.
Os custos da educação
A olhar para essa faixa etária específica a pergunta mais básica será “porquê que não estão na escola?” (ou em formação).
Os jovens de que aqui falamos possuem em média o nono ano, refere o INE. Várias razões explicam essa (relativamente) baixa escolaridade. Falando da falta de condições para custear os estudos superior/formação, que vários jovens vivenciam, a verdade é que o problema, muitas vezes, começa ainda antes.
Apesar de todo o investimento que Cabo Verde tem feito na educação; apesar de todos os discursos (que se sabem comprovados) sobre a necessária aposta social e económica na mesma para melhoria da sociedade em geral, a verdade é que a Pobreza continua a ser uma enorme condicionante na escolaridade. Ciclos que se repetem.
Isabel (nome fictício) é professora numa escola de Ensino Secundário da Praia há muitos anos. E hoje, como ontem, vê a pobreza a afastar as pessoas da escola. Mesmo a medida de acabar com as propinas [até 2020 a gratuitidade, que agora contempla até o 8.º ano, será estendida ao 12º ano de escolaridade], “é uma boa medida, mas não chega, porque a maioria dos alunos tem dificuldades em adquirir os materiais”, o uniforme, e alguns têm inclusive dificuldade em conseguir pagar o transporte para a escola.
O exemplo de pessoas que conseguiram romper o ciclo de pobreza, sacrificando-se, fazendo quilómetros diários para poder assistir às aulas, é louvável e até inspirador. Mas o sistema não pode estar à espera que toda a gente tenha esse espírito de sacrifício, defende. Não pode esperar que, por exemplo, se percorram distâncias longas, muitas vezes por caminhos perigosos; que se estude de barriga vazia; que se trabalhe sem os materiais básicos, sem que isso desmotive, de facto, a continuação dos estudos.
Assim, um motivo que leva à situação nem-nem seria a pobreza. Retroalimentando-se.
Problemas contaminantes
Todos os problemas de uma sociedade acabam por ter reflexo em todas as áreas. E além da pobreza, há muitos mais factores apontados pela professora Isabel que potencializam (e frequentemente concretizam), o desinteresse, a sucessão de repetências, o abandono escolar.
A base familiar é outro constrangimento: as famílias monoparentais, sem tempo para o acompanhamento, bem como o baixo nível de escolaridade dos pais e, ainda, a violência que afecta um grande número de famílias. Está tudo interligado. A VBG, por exemplo, tem reflexo directo, dificilmente contornável, nos alunos. Como em Ivo, um aluno que Isabel recorda com carinho, que tinha problemas de indisciplina e que, depois, entrou em depressão. Na origem: as agressões que via a mãe sofrer às mãos do companheiro. Saiu da escola. Voltou. “Estava lá, mas não estava”. Entretanto, Isabel perdeu-lhe o rasto…
Uma outra questão social que parece ter grande impacto não só no abandono escolar, como nos outros dois “nem” é a gravidez na adolescência. Não obstante as medidas tomadas pelo Ministério da Educação para minimizar o impacto de ser mãe (mãe, porque estas gravidezes só constrangem as meninas) em idade escolar, não obstante a lei laboral, e a expansão da rede de creches, a realidade mostra que esta é uma problemática que engrossa a camada “nem”.
Márcia de 17 anos, tem o 9.º ano e um bebé de três meses. Neste momento, dedica-se apenas a cuidar da criança. Nunca trabalhou e neste momento também não está a procura. “Porque sou menor e tenho um bebé”, justifica. Vai esperar até ao próximo ano lectivo, para voltar à escola e terminar o secundário. Pelo menos é esse o seu objectivo. Por enquanto, é “nem, nem”…
Mais ensino técnico
Não obstante todos os constrangimentos – os elencados e outros que se poderiam também referir –, muitas vezes em somatório, à continuação no sistema de ensino, há também jovens que simplesmente não estão interessados nos estudos.
“Parece-me que para a grande maioria dos alunos a escola tornou-se um espaço, não de aprendizagem, mas de convívio. Então na verdade as aulas são um intervalo daquilo que eles vão lá fazer”, observa a professora Isabel. São os que frequentam o sistema de ensino e portanto não estão contabilizados no indicador do INE. Mas na verdade, nada fazem. Não estudam. Nem. Nem. E a escola parece apenas um “depósito”, onde estão de corpo presente, para não estarem na rua.
Vão acumulando a falta de conhecimentos, facilitados, considera a professora, por um ensino cada vez mais simplificador e orientado para as estatísticas. Muitas vezes chumbam, e chumbam várias vezes, até terem de sair do ensino público. Alguns continuam no privado. Outros não.
A solução para este “insucesso” e desinteresse pelo ensino “clássico” poderá passar por uma maior aposta no ensino técnico-profissional. Vários discursos oficiais defendem essa aposta, mas a verdade é que, não só ainda essa pretensa vontade não se traduziu em algo consolidado, como persiste um estigma nos próprios pais e estudantes contra o mesmo, analisa Isabel. Mais ainda, não há mecanismo de controlo para distinguir os profissionais que aprenderam um ofício, dos “habilidosos” que pululam no mercado.
Seja como for, “tive alunos que tomaram essa decisão e gostaram. O Ensino “clássico” não está vocacionado para todos e tem de haver um sistema de selecção ao longo do percurso escolar” para fazer essa divisão. “A partir do momento em que o aluno não está a conseguir [ter sucesso] no ensino clássico, deve ser direccionado para outro tipo de ensino”, defende.
Mais motivação, menos tempo despendido, maior eficácia. Seriam vantagens para os próprios alunos, evitando esse abandono e aumentando possibilidades de emprego.
O que querem?
Mas e a geração “nem-nem”, o que quer? Trabalho, estudar ou formação?
“Depende da faixa etária”, começa por referir Helmer Fortes, presidente da Federação Cabo-verdiana da Juventude. A partir dos 25, tendo em conta que esta é já uma fase de constituição de família, ou pelo menos de maior responsabilidade de contribuição para a mesma, a expectiva é encontrar um emprego que não seja precário (e que muitas vezes o é).
Já os 15-24 anos, é “uma faixa que quer estudar e terminar o curso”.
Esta percepção parece ser na verdade consensual. Muitas vezes o próprio emprego é o factor anexo, que permite essa continuação dos estudos (ou da formação).
Deise estudou apenas até ao 8.º ano. “Não tinha cabeça para escola. Não gostava de estudar, muito menos de ir para a escola”. Mesmo assim, até uma certa altura o objectivo sempre fora concluir, pelo menos, o 12.º ano.
“Sonhava em terminar os estudos, trabalhar e depois constituir a minha família”. Contudo a gravidez (o bebé deve nascer em breve) reverteu-lhe os objectivos.
“Tenho que pensar primeiro em trabalhar para sustentar o meu bebé que está prestes a nascer”, conta.
Empregos, já teve um, num bar mas saiu. “Não suporto bêbados, eles não ajudam”, queixa-se.
Deise, que diz estar à procura de emprego, também já ponderou a ideia de fazer uma formação, preferencialmente na área da Estética, “para trabalhar num salão de beleza”.
“Queria fazer alguma formação mas fiquei grávida e acabei por desistir da ideia”, conta. Embora, com a responsabilidade de ter uma criança, no topo das suas prioridades esteja trabalhar, a jovem pretende depois: “voltar a estudar e depender de mim mesma.”
A emigração parece também ser uma expectativa para alguns jovens. Voltamos a Márcia. Depois de terminar o liceu, ao qual voltará em Setembro, a expectativa é “ir para Portugal, ter com os avós, e trabalhar”. Em quê? “Não faço ideia”, responde.
Pessimista a falta de competências dos jovens que abandonam tanto o secundário como a Universidade, a professora Isabel também fala de emigração. “Cabo Verde não oferece oportunidades de emprego é verdade”, diz. Mas “com as competências que eles têm, aqui, dificilmente vão encontrar emprego. Poderiam talvez fazer um trabalho qualquer numa fábrica, mas aqui em Cabo Verde não há fábricas!”, aponta. “Talvez emigrando para os EUA…”
Na verdade, na linha do “não faço ideia” de Márcia e talvez por característica própria da juventude, a maior parte dos jovens ainda não sabe ao certo o que quer.
Quando questionados, apontam profissões que acham glamorosas como médico, arquitecto. E também polícia. “Muita gente”. Sabem que têm de estudar, mas não se preocupam, em efectivamente ganhar competências que lhes permita atingir os objectivos (ainda que mal definidos) que almejam.
Orientação, educação, políticas, tudo é chamado a coajudar. É toda a cultura e sociedade que deve ser chamada à responsabilidade para com a sua juventude. Não tem sido. E prova disso é que persiste a ideia, em muitos jovens, “de que vão sempre conseguir as coisas na base do amiguismo, do facilistismo”,
Expectativa vs realidade
“Está complicado” encontrar um bom trabalho, lamenta B. Resta “procurar outras possibilidades de trabalho honesto, para não entrar no mau caminho do chamado “dinheiro fácil”. No caso dele, como referido, está o tentar montar “negócio próprio”.
O “dinheiro fácil” é porém um forte atractivo para os jovens. Aliás, já mais de um aluno de Isabel lhe disse que queria ter como profissão “traficante de drogas”.
Falam do que vêem. Dinheiro fácil nos videoclips, uma sociedade que pouco valoriza o esforço, que promove o facilitismo.
Além disso, ainda há a percepção (real ou não…) de que para conseguir um bom trabalho, mais do que conhecimento e competência, é preciso ter algum tipo de “conhecimentos” interpessoais, com destaque para o apadrinhamento político.
“Isso desmotiva, e muito, a procura de emprego”, considera Bruno, que também acredita existir esse “apadrinhamento”.
Então, a cunha ainda é percepcionada como uma realidade, e confia-se mais no padrinho/partido do que no valor das capacidades. Há falta de emprego, os poucos empregos qualificados trazem desafios e exigências a que muitos não conseguem dar resposta. Restam essencialmente empregos duros e mal pagos, num país sem indústria, onde o turismo e outros serviços não trazem (ainda) prosperidade, pelo menos directa, à população.
Mas se o cenário neste retrato “nem, nem” é mau, as expectativas são altas. E a desilusão (pela escassez de emprego e falta de correspondência entre expectativas e real competência), muita.
Também Helmer Fortes admite que as expectativas dos jovens cabo-verdianos não estão ajustadas à realidade.
“É claro que há excepções”, começa por salvaguardar. “Mas na sua maioria, o jovem espera muito e muitas vezes não está preparado, capacitado para aquilo que deseja”, reconhece. E há uma falta de realismo que tem inclusive a ver com a importação de hábitos e costumes de outras realidades.
Aliás, é também função das associações promover um certo realismo para que de facto os problemas possam ser solucionados, sublinha. Tema de que falaremos adiante.
Formação e emprego
Mas nada disto subestima a efectiva ausência de oportunidades. Os problemas a montante, não apagam os a jusante. Aliás, essa falta de oportunidades, de oferta tem como efeito uma enorme desmotivação que se reflecte em alheamento.
Para Deise, por exemplo, um dos principais problemas que levam ao “nem, nem” e a um certo alheamento das questões sociais, políticas e económicas do país tem a ver, de facto, com a falta de motivação. Falta motivação aos jovens para serem mais activos, observa.
Falando, primeiro da Formação. Bruno considera que não há formações suficientes e as que há, em geral, não vão ao encontro das expectativas e gostos dos jovens. Há ainda uma grande “falta de informação, que dificulta muito” o acesso às mesmas.
“Há falta de informação e também de formações a preços mais acessíveis, porque muitos não fazem uma formação por falta de condições financeiras”, corrobora e acrescenta Deise.
Com uma visão mais abrangente, o Presidente da FCJ aponta basicamente os mesmos constrangimentos.
“A formação profissional é escassa, e não vai ao encontro daquilo que é a necessidade específica do mercado ou o interesse do jovem. Também há pouca sensibilização ou divulgação de oportunidades existentes”.
Um dos entraves à informação “do jovem no que toca a oportunidades que tem para si, tanto para formação como para o emprego”, terá a ver, na óptica de Helmer Fortes, com a inexistência de serviço central de juventude nos vários concelhos”.
Falando então do emprego. Além da falta de informação, uma queixa dos jovens é a de que as ofertas de emprego, principalmente para o sector público, trazem exigências que incompatibilizam a “mão-de-obra” juvenil. Como a exigência de experiência profissional.
Esta é “uma das barreiras por que esses jovens muitas vezes não conseguem entrar nos concursos públicos, sejam eles do Estado ou das empresas privadas. E burocracia também, em si, já dificulta o primeiro emprego dos jovens”, aponta o associativista.
Para Bruno, o sector privado acaba, aliás, por ser mais atrativo para os jovens, em grande parte, precisamente, por as exigências burocráticas não serem tão grandes.
Mas é exíguo. Não há empregos…
Políticas da Juventude
Entretanto, muitos jovens não procuram informação, refere o presidente da FCJ, que sem paninhos quentes, observa que a mesma juventude que aparece e se sacrifica para, por exemplo, comprar bilhetes para uma festa, reclama de falta de dinheiro para “uma fotocópia” ou a autenticação de um documento exigido para um emprego.
Posto isto, também é verdade que não há mecanismos, “um serviço” do estado (como os centro de juventude) que facilite esse fluxo de informação e sensibilização.
“É contraditório às vezes estar a falar de desemprego quando um jovem sabe que se é algo que lhe dá prazer, se é lazer, ele está prontamente disponível a fazer sacrifícios. Há os dois lados. Mas uma instituição pode equilibrar esses dois lados”. Uma instituição a estabelecer “com urgência”, como por exemplo o propalado Instituto da Juventude. Urgência, para não se perderem mais jovens. “Porque o jovem de hoje deixa de ser jovem amanhã”.
“Tem de haver alguma instituição que coordene as políticas de juventude, não havendo isso, falha-se em todos os sectores. Acredito que não irá trazer uma solução, mas irá identificar os problemas e identificando os problemas identificam-se as soluções para essa falta de participação cívica, para essa vivência fora da realidade da juventude Cabo-verdiana em si”, considera.
O efeito será dominó. Hélmer explica: “Com a criação do Instituto [da Juventude] também há o empoderamento do associativismo juvenil. Havendo isso, há uma [maior] participação cívica dos jovens, e por sua vez havendo essa participação, há uma sensibilização do jovem para o jovem. Porque ninguém melhor do que o jovem para sensibilizar outro jovem”.
Os dias dos “nem, nem”
Voltemos aos dados. Nas estatísticas sobre a juventude sobressem diferenças, por exemplo, entre o meio urbano e o rural. Diz o INE que na população 15-24 anos, a proporção dos sem emprego e que estão fora do sistema educativo e de formação é “de 37,4%, 10,9 p.p. acima da proporção registada no meio urbano (26,5%)”. Há também diferenças no que toca ao sexo, sendo que a “nível nacional esta proporção é maior entre as jovens mulheres (32,8%) do que entre os homens (27,7%)”.
“A diferença entre os sexos é mais acentuada no meio rural (42,4% entre as mulheres e 33,9% entre os homens)”, acrescenta-se ainda.
Não há dados discriminados, a este nível, por ilha, mas apesar das nuances, o retrato que acima se pintou dos jovens parece ser geral, das suas expectativas, competências e (des)motivações é extensível em maior ou menor grau a todas elas.
“Tudo aquilo que se transmite em Santiago transmite-se em São Vicente, transmite-se na Brava. Não vamos dizer que há uma grande diferença de comportamentos e atitudes nos jovens de Cabo Verde”, avalia Helmer Fortes.
Do mesmo modo, o dia-a-dia de um jovem “nem, nem” na Praia será semelhante ao de outro, na mesma situação numa outra ilha. Por exemplo, grávida e à espera do futuro Deise passa o seu tempo sem qualquer actividade dita “produtiva”.
“Como, assisto televisão e durmo, mais nada”, lamenta.
Ajuda-se em casa, sai-se um bocadinho, faz-se desporto. Enfim. Os dias geralmente são monótonos. Vive-se com a ajuda dos pais, das remessas dos familiares no estrangeiro… e espera-se melhores dias.
Mas há muitos jovens “nem” que na realidade fazem alguma coisa. Pode não estar contabilizada nas estatísticas, mas “grande parte faz biscates”.
“Os jovens consideram-se empregados apenas quando têm um emprego mensal e um salário todo os meses. Mas há os freelancers”.
Bruno, por exemplo, mora com os pais, que o alimentam e colmatam as suas necessidades básicas. Mas para os extras conta com aquilo que “arrecadar com o negócio”.
Não está propriamente “parado”.
“Vou à net. Tenho uma página de comédia onde posto alguns vídeos e tenho alguns seguidores. Pesquiso, sobre alguma coisa de que tenha dúvidas, e gosto de estar no Google Maps para conhecer outros lugares, para tornar mais abrangente o meu campo de visão”.
Faz coisas que mostram que a juventude, com todos os defeitos e qualidades, às vezes um pouco perdida, à espera, não pode ser reduzida ao “nem, nem”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 906 de 10 de Abril de 2019.