No sector do turismo,foram assinadas três convenções de estabelecimento, uma outra será assinada em breve. Em cima da mesa, estiveram os acordos com a Chaves Hotel Investimentos, que vai construir um novo empreendimento na Boa Vista, da marca Tui Magic Life, num investimento de cerca de 78 milhões de euros. Daqui até Dezembro, o estaleiro começa a funcionar para a construção de um projecto que terá cerca de 570 quartos. Outra convenção é para um projecto que vai arrancar também brevemente, num montante de 72 milhões de euros, no Sal. É um projecto de 590 quartos, que também deve começar entre Setembro e Novembro. Ambos os empreendimentos vão ter uma duração de execução de cerca de 30 meses, devendo estar a funcionar em finais de 2021. A terceira convenção diz respeito ao Robinson, também no Sal, que vai ser inaugurado ainda este ano.
Tanto a Magic Life como a Robinson são marcas da Tui e pela primeira vez para ambas, estabelecem-se no Sul do Sahara. “Isso é um sinal muito forte quanto às perspectivas do turismo em Cabo Verde”, disse ao Expresso das Ilhas o consultor Victor Fidalgo “porque quando um tour operador, distribuidor, resolve implantar-se num local e não ficar apenas a transportar turistas, quer dizer que acredita no futuro desse destino”.
“Estes três projectos, mais o de Ponta Sinó cuja convenção ainda não foi assinada, mas será assinada em breve, mais o projecto RIU, também para Ponta Sinó, da minha concepção, são mais mil quartos. São estes cinco projectos que, em princípio, garantem que em 2021 Cabo Verde atinja um milhão de turistas”, sublinha o economista.
A Associação de Turismo de Santiago trouxe seis associados ao fórum, todos tiveram encontros com potenciais financiadores e para o presidente, Eugénio Inocêncio, o encontro do Sal é considerado um sucesso. “Foi um bom ponto de chegada, mas é sobretudo um ponto de partida”, disse ao Expresso das Ilhas.
“Agora vamos recomeçar a trabalhar, cada projecto trazido a este Fórum vai ser trabalhado para que tenha sucesso, em termos de organização, em termos de financiamento, em termos de montagem, em termos de funcionamento. E vamos ganhar expertise para passarmos a fazer isso em relação aos outros projectos que não puderam vir. Há dezenas de projectos que não conseguiram chegar a tempo, mas há um trabalho já feito. Vamos aproximar-nos desses outros projectos e ajuda-los a avançar”, reforçou Eugénio Inocêncio.
Joaquim Coimbra, representante da Inpharma, não esteve no Sal à procura de financiamento para a nova fábrica da empresa de medicamentos, mas admitiu que o fórum foi importante para Cabo Verde por que “juntou este grupo de empresários, de investidores e de promotores”.
25 anos depois, a Inpharma está a avançar para uma nova unidade fabril, com o objectivo de quadruplicar a produção e virar-se para o mercado de exportação. “Vamos construir uma nova fábrica, certificada com as normas internacionais do mais alto nível, com a tecnologia mais moderna e com capacidade de produção de outro tipo de produtos que hoje não produzimos”, explicou Joaquim Coimbra. “Portanto, a vocação é não só para o mercado nacional. O seu grande foco vai ser exportação. Para o mercado africano e não só, estes certificados permitem-nos exportar para qualquer mercado”.
De acordo com a agenda, a nova unidade, um investimento de sete milhões de euros, deve estar a funcionar dentro de dois anos. A construção começa no início do próximo ano, os trabalhos vão decorrer durante todo o ano de 2020, depois terá início o processo de certificação das máquinas e dos equipamentos. “Concluído esse processo, em Maio ou Junho de 2021 queremos estar com a nova unidade em produção”, diz o empresário.
Mas nem só de turismo e indústria se fez o fórum. As TIC e a economia digital estiveram também em destaque, com o foco direccionado para a vontade de Cabo Verde se transformar também num hub tecnológico. Júlia Carvalho, Directora-Geral da IBM para Cabo Verde, Angola e São Tomé e Príncipe, disse ao Expresso das Ilhas que a criação desse hub é possível, desde que seja bem planeado.
“Penso que o governo tem a visão certa, mas também precisa de ter um mapa e saber como se vai lá chegar. E tem de ser muito concreto. É sempre bom falar que gostávamos de ter isto, mas temos de saber que passos precisam de ser dados para se chegar lá. Uma das coisas fundamental, apesar de serem precisas muitas, é por exemplo as competências digitais, ter pessoas para criar o hub, porque não se pode criar um hub digital sem pessoas para trabalhar. Se o governo, para além da visão tiver o plano concreto como vai chegar lá, penso que reúne todas as condições”.
“Cabo Verde tem uma coisa singular em África, está numa posição geográfica que é boa, mas também é um país fácil de aceder para os outros países africanos. É mais fácil, em termos de vistos, para um africano vir para Cabo Verde, do que para a Europa ou para a América. Portanto, pode-se atrair estudantes, ter aqui um hub que ensina competências digitais, mas para isso é preciso ter qualidade, dar confiança, ser um país onde é fácil fazer negócio, os investidores têm de saber como se abre uma empresa, como são os impostos, ou como funciona a justiça”, sublinha a executiva.
“Este Fórum permitiu colocarmos Cabo Verde no centro e dar oportunidade às empresas para poderem conhecer as oportunidades de negócio”, disse ao Expresso das Ilhas Ana Barber, PCA daCabo Verde TradeInvest. “Estamos a falar de empresas nacionais, das empresas estrangeiras, da nossa diáspora e de perceber que a potencialidade que temos é enorme. Perceber que é preciso mudarmos a nossa forma de agir e esta mudança só acontece com o conhecimento, com o relacionamento e com as parcerias”.
Segundo a responsável da organização que promove o comércio e os investimentos, a continuação natural do Fórum será materializar as parcerias e os financiamentos que ficaram acordados no Sal. “Houve uma abertura total dos bancos, dos financiadores internacionais, com acesso a todos, para as pessoas perceberem que é importante ter um projecto bancável, não interessa a dimensão, interessa é que se possam concretizar, implementar e tenham impacto no desenvolvimento”.
“Este é o caminho certo. Cabo Verde é uma plataforma para o mundo, geograficamente está bem colocado, tem estabilidade política e económica e mostrámos que temos capacidade e que estamos preparados. É este o nosso objectivo, continuar a crescer, mas também dotar o país de instrumentos para irmos mais longe. Temos metas, sabemos onde estamos, sabemos onde queremos chegar e este é o percurso que temos de percorrer”, reiterou Ana Barber.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 919 de 10 de Julho de 2019.