Com 170 anos, de acordo com Isidoro Gomes, os Correios de Cabo Verde “acompanharam a construção” da identidade do povo cabo-verdiano. Segundo conta, inicialmente, os funcionários dos Correios eram quem escreviam as cartas. Além de entregar as mensagens, também liam as cartas para as pessoas e ensinavam-nas a escrever.
“Portanto teve um papel pedagógico desde o início da sua criação. Acompanhou essa evolução do desenvolvimento do país do ponto de vista da literacia, do ponto de vista académica, da escrita, enfim”, conta o PCA, acrescentando que, actualmente, a empresa enfrenta novos desafios.
“Actualmente as pessoas estão mais viradas em ocupar-se da sua extensão própria e essa extensão própria chama-se telemóvel e estão sempre connosco”, diz.
Novos desafios
Conforme o PCA dos CCV, a nível mundial, a tendência, neste momento, é migrar para a era da digitalização. Relembra ainda que o “Core off business”, do Correio Postal, tem vindo a cair, com a empresa a sentir a necessidade de encontrar formas de dar voltas à essa queda.
“As empresas actualmente são digitais, o cidadão é digital, o Governo é digital, os Correios também têm de migrar para a era digital. Eu sou da opinião de que o negócio dos Correios não está em crise” afirma, acrescentando que o papel dos Correios continua a ser ligar dois pontos.
“Outrora, para ligar dois pontos, aquilo que ia no meio com os correios como intermediário, eram cartas, as correspondências postais. Actualmente vai tudo, desde um simples brinco a uma enorme embalagem. Portanto, a única coisa que eu tenho de fazer é migrar-me para o digital, porque o negócio está ali”, explica.
Os negócios dos Correios
Isidoro Gomes revela que o Correio Tradicional, o Correio postal, tem vindo a cair quer a nível nacional, quer a nível internacional. Por outro lado, segundo narra, o Correio encomenda vem aumentado.
“Cerca de 27% dos rendimentos dos Correios advém dos direitos dos encargos terminais, influenciado pelo comércio electrónico”, afirma o PCA acrescentando que a maioria das compras online é da Ásia, sendo a China Post a administração postal com quem mais os Correios de Cabo Verde se relaciona.
Na mesma linha, clarifica que o negócio dos Correios é “heterogéneo”, daí a complexidade da empresa. Prosseguindo, diz que se trata de uma instituição por “excelência” financeira.
“Aliás, é a instituição financeira mais antiga de Cabo Verde. Acho que todos nós lembramos, os nossos pais, os nossos avós, melhor ainda do que nós, que era nos Correios que o Estado se representava nas comunidades”, discorre, completando que era onde funcionava as Finanças, os Bancos, o serviço postal, as telecomunicações, daí a sua “ importância na unicidade do próprio Estado”.
Para o PCA os Correios vão além de uma empresa e sempre desempenhou um papel na coesão do território nacional. Relata que a empresa continua como serviços financeiros, nomeadamente os serviços de transferência.
“Mas, além dos serviços de transferências temos questões de recebimentos, chamados utilities. Portanto pode-se pagar as facturas, impostos, taxas alfandegárias nos Correios”, revela.
Este ano, de acordo com o PCA, os Correios de Cabo Verde, em parceria com a Fundação Cabo-verdiana de Ação Social e Escolar (FICASE), ajudaram na resolução de acesso a manuais escolares.
“É possível a qualquer família no seu município fazer aquisição desses materiais desde que sejam disponibilizados pela FICASE nos Correios. Portanto, é mais um serviço que acrescentamos no nosso portfólio de serviços”, relata.
Continuando, assegurou que ainda este ano vai ser alargada a todas as lojas dos Correios as cobranças das facturas da Electra. Isidoro Gomes enunciou ainda que para além de um espaço comercial, os Correios é um ponto cultural, um ponto de turismo.
“Vamos transformá-lo num ponto de turismo e um ponto cultural. Vamos acrescentar essas duas dimensões dentro de cadeia de favor da empresa”, acrescenta.
O papel dos Correios
Na opinião de Isidoro Gomes, os Correios, sempre foram uma das “peças fundamentais” para o desenvolvimento económico de qualquer país. Tendo em conta os objectivos de desenvolvimento de Cabo Verde, segundo diz, hoje, os Correios tornam-se “mais importantes do que nunca”.
“Quando o Governo diz “eu quero que o eixo de desenvolvimento no país esteja baseado no conceito de país de plataforma, por exemplo logística digital, a dimensão digital só é impactada através do comércio electrónico. E quem promove esse negócio são os correios”, explana.
Em segundo lugar aponta para o facto de que os Correios tratarem-se de uma empresa com conhecimento e a mais bem preparada para fazer a distribuição, a entrega e o condicionamento se for necessário.
“Temos parcerias já montadas, trabalhamos com os principais Stakeholders quer no sistema da aviação, quer no sistema marítimo, quer de sistemas de controlo que vai desde a alfândega, ASA, etc”, finaliza.
O público e os Correios
Cleiça Vieira revela que vai aos Correios regularmente, mas, apenas para levantar o dinheiro através do serviço MoneyGram. Para esta cidadã os Correios actualmente são úteis pelo facto do seu serviço de transferência ser mais barato do que a concorrência além das compras online.
“Já que comprar online custa menos, os Correios tornam-se fundamentais nesse processo”, revela a jovem que conta que nunca escreveu uma carta e que está já não é tanto a função dos Correios.
Olívia Vieira, por outro lado, diz que quando era jovem ia sempre aos Correios para enviar e receber cartas dos entes queridos. Agora, entretanto, diz que para além das transferências vai apenas deixar as cartas da empresa pela qual trabalha.
“Hoje uso o Viber para comunicar com os meus familiares que se encontram longe, é mais rápido e mais barato”, revela.
Dariana Rodrigues conta que nunca trocou correspondências pelo Correio, uma vez que não é do “seu tempo”. A jovem revela que também vai regularmente receber encomendas dos familiares no estrangeiro.
“Para mim é fundamental que os Correios continuem a funcionar porque nem sempre há pessoas disponíveis para trazer as encomendas. Então prefiro pagar os Correios para me facilitar a vida, apesar da demora”, refere.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 932 de 09de Outubro de 2019.