Por enquanto, trata-se de uma ideia que ganha forma a partir de experiências internacionais semelhantes, mas o governo acredita ser viável a passagem dos actuais motores fora de borda, a gasolina, para outros, eléctricos, alimentados por baterias de lítio.
A transição, alinhada com o programa nacional de reconversão energética, implica um investimento, por bote, a rondar um milhão de escudos. De acordo com Antunio Barbosa, assessor do MEM, esse valor será recuperado em pouco mais de um ano, com a poupança em combustível.
“O combustível constitui um encargo enorme ao longo do ano. Sendo o motor eléctrico, alimentado por baterias, que por sua vez podem ser recarregadas com uma fonte renovável, o custo operacional do combustível desaparece”, explica.
A não emissão de gases poluentes e a diminuição da dependência do petróleo são vantagens que se juntam à diminuição de custos de operação.
“Os botes com motores a gasolina consomem, em média, entre 400 a mil contos [por ano], dependente do regime (…) Se convertermos todos os botes para propulsão eléctrica, estamos a falar de uma redução de emissões de 15 mil toneladas de dióxido de carbono [anuais]”, calcula o perito.
Conforme o MEM, actualmente existem 1.600 botes de boca aberta em Cabo Verde. Desses, cerca de 1.300 estão motorizados. Os restantes operam a remos ou à vela. A solução em estudo inclui duas baterias - uma como reserva - e recomenda a instalação de painéis solares, que permitiriam recarrega-las a bordo.
Em parceria com a alemã Torqeedo, foram encomendados quatro conjuntos de motores e baterias, que irão equipar outros tantos barcos, num período de testes que deverá arrancar em Janeiro. Para já, e durante a Ocean Week, um bote vai proporcionando aos interessados viagens de demonstração, na baía do Mindelo.
“Faremos um teste mais alargado, indo a Santa Luzia, indo a Monte Trigo, distâncias mais compridas, falar com os pescadores, saber das suas necessidades, das fainas, duração, tempo de viagem, velocidade, como é que eles operam”, antecipa Antunio Barbosa.
No início do mês, o secretário de Estado-adjunto para a Economia Marítima referiu-se ao projecto de conversão de botes de pesca.
“É importante ter motores de bordo eléctricos e com baterias que podem ser carregadas através de energias renováveis porque dará alguma autonomia aos nossos pescadores”, sustentou, ao falar no V Simpósio Germano-Cabo-verdiano de energia.
A propulsão eléctrica naval tem conhecido avanços nos últimos anos, acompanhando uma tendência global do mercado. Em Novembro, foi apresentado o maior E-Ferry do mundo, o “Ellen”, que navegará nos mares da Dinamarca, sem emissão de dióxido de carbono. O navio tem autonomia de 22 milhas náuticas, cerca de 41 quilómetros.
A Torqeedo é uma das pioneiras no desenvolvimento de soluções eléctricas, não poluentes, para o mundo naval. Fundada em 2005, a empresa está actualmente presente em 50 países, de cinco continentes.