As empresas do sector pesqueiro e de transformação de pescado, principalmente de atum, têm necessidade de se concentrar na diferenciação dos seus produtos, apostar em novas fórmulas e na qualidade se quiserem competir com as importações baratas de fora do bloco, disse o director de operações da Atunlo, Alberto Gros ao site de noticias UndercurrentNews.
Segundo Gros, as empresas estão hoje obrigadas a apostar na apresentação do atum em diferentes formatos para além do atum conservado em lata. “Não podemos estar todos os dias em guerra sobre o preço das latas”.
A descida dos preços foi parcialmente impulsionada pelo aumento das importações de lombos de atum pescados por países fora do bloco e que competem com as frotas da UE.
Durante a IX Conferência Mundial do Atum, realizada em Outubro em Vigo, Espanha, um apresentador destacou o rápido aumento das exportações de lombo da China, Papua Nova Guiné (PNG) e Filipinas e também o aumento de latas do Equador, que tem 0% de imposto devido a um acordo de livre comércio. Grandes volumes de lombo vêm da China sob o regime de cotas tarifárias autónomas (ATQs) da UE e, segundo os ATQs, 50.000 toneladas métricas de lombo de países com os quais a UE não possui acordos comerciais podem entrar no bloco isentas de impostos.
No mesmo encontro foi dito que só entre Janeiro e Agosto, a UE importou 22.300 t de atum da China, um aumento de 38% em relação ao ano anterior, de acordo com dados de exportação chineses. Em 2018, a China vendeu 19.747 toneladas de lombo para a UE, 73% acima do ano anterior e 141% em relação a 2017.
"Para nós [como grupo e processador de pesca da UE] dizermos que a China pode ser um problema, talvez seja compreensível", disse Gros que continuou “mas também ouvimos isto de empresas que antes promoveram a compra de lombo congelado da China”.
“Se fôssemos apenas um processador de conservas, não sentiríamos a dor que os pescadores sentem. Mas porque temos pescadores como accionistas, sentimos essa dor. Se você está investindo muito na frota e no bem-estar da tripulação, esse é o motivo da frustração. É um ponto sensível”, disse Ian Bagshaw, que administra as vendas da Atunlo no norte da Europa.
"Temos observadores independentes a bordo e boas condições para as tripulações, mas temos que competir com frotas que não fazem o mesmo", defende Gros que acredita que os operadores devem olhar para o mercado de forma diferente e entender quais as necessidades que precisam de uma resposta por parte das empresas da União Europeia.
"Temos de ouvir o mercado e falar com os donos dos barcos de pesca. Nós sabemos que os barcos estão a pescar e podemos basear a nossa operação comercial naquilo que eles estão a apanhar. Algum deste peixe de alta qualidade pode ser usado de diversas formas, sashimi, por exemplo, e bifes", defendeu o responsável de operações da Atunlo.
Para além de unidades de produção em Espanha e Portugal, a Atunlo tem uma fábrica de processamento de pescado no Peru e outra em São Vicente, sendo uma das empresas associadas da Frescomar (o maior exportador de Cabo Verde). "No total temos uma produção de 600 toneladas por dia, incluindo as unidades que temos no exterior, como no Peru ou Cabo Verde", concluiu Gros.
Frescomar vai aumentar produção em 20%
Em Cabo Verde, a Frescomar prevê aumentar no próximo ano entre 15 a 20% a produção actual, de 51 milhões de latas de conserva correspondendo a 25 mil toneladas de pescado processado, conforme revelou o à agência Lusa, o director comercial desta empresa de transformação de pescado, Luís Pinto.
O aumento da produção terá também impacto na criação de empregos, garantiu, sendo que a Frescomar prevê passar dos 1.650 trabalhadores com que opera neste momento, para 2.000 trabalhadores, no próximo ano. Um número que inclui todas as unidades do grupo espanhol de transformação de pescado Ubago.
“Talvez no final de 2020 cheguemos às 2.500 pessoas. Somos o maior empregador privado cabo-verdiano”, explicou Luís Pinto.
O grupo Ubago, que é proprietário da Frescomar desde 2008, quando assumiu a sua revitalização, tem unidades de transformação de pescado e conservas em Cabo Verde, Espanha, Portugal e Marrocos.
Em Cabo Verde, o grupo, que trabalha essencialmente com cavala, atum e melva (tunídeo), pescado em águas nacionais, é responsável por 80% das exportações nacionais.
O Grupo Ubago tem a fábrica da Frescomar em São Vicente e a concessão de um cais de descarga de pesca local, bem como um entreposto frigorífico no Mindelo. Na ilha do Sal conta com uma outra unidade de recepção de pescado.
Em Maio deste ano o Governo cabo-verdiano e a Frescomar SA assinaram mais uma Convenção de Estabelecimento, que tem como base o projecto de reinvestimento de oito milhões de contos da Frescomar. Esse investimento prevê, entre outras coisas, o aumento do volume de exportação, bem como a criação de 250 postos de trabalho (número que, face às novas perspectivas divulgadas à Lusa, poderá ser excedido).