“Estamos em crer que o inverno [época alta no arquipélago] poderá não ser como antigamente, não estamos a dizer que vamos atingir os valores de 2019, mas estaremos a atingir um ponto de não retorno. E isso é bom porque significa que os operadores e os países começam a confiar no destino Cabo Verde, que reúne as condições de segurança sanitária”, afirmou Carlos Santos, em entrevista à Lusa, na Praia.
O ministro que tutela o sector do Turismo acrescenta que o processo de vacinação em Cabo Verde é já um “cartão-postal” para vários países emissores de turistas, depois de o arquipélago ter atingido no início do mês de Setembro 70% da população adulta com pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, tendo agora o objetivo de garantir a cobertura de 85% até final do ano.
“Estão a confiar e por isso estão a abrir os corredores aéreos para o país”, disse Carlos Santos.
O retorno, desde a semana passada, nas operações da TUI Alemanha, com voos e turistas semanais para as ilhas do Sal e da Boa Vista, além da procura que já existia de países do sul da Europa, como Portugal, e outros, ajudam a alimentar a expectativa positiva do governante.
“Com a entrada em vigor desta decisão da TUI Alemanha, que avançou com quatro voos semanais com a tendência de aumentar, também com a manifestação de interesse do operador da República Checa, também da Roménia, que já manifestou a vontade, e outros operadores”, justificou.
Contudo, Carlos Santos admite que o cenário ainda é de incerteza a nível global e que o maior entrave à recuperação do turismo em Cabo Verde é a ainda ausência dos turistas britânicos, que representavam mais de um quarto da procura turística pelo arquipélago antes da pandemia.
“Nós continuamos a ter notícias de alguns países que, semana sim semana não, têm uma situação de recrudescimento mesmo que pontual, mas também porque o principal mercado, que é o mercado britânico, ainda não tem acesso ao turismo e porque Cabo Verde está ainda integrado nas chamadas listas vermelhas desses países”, reconheceu, assumindo por isso que “ainda é cedo” para “vaticinar cenários” para o desempenho de 2021.
“E porque o primeiro semestre também não foi aquilo que não estávamos à espera”, reconheceu.
Acrescentou que o Governo cabo-verdiano tem desenvolvido uma “acção diplomática muito forte” junto dos países da União Europeia, para demonstrar as medidas adoptadas na prevenção da covid-19, além da vacinação, que já cobre 75% dos cerca de 10.000 trabalhadores do sector do turismo que deveriam ser vacinados.
“Tomámos todas as medidas de segurança sanitária, designadamente as regras e protocolos adoptados por todos os actores que actuam no circuito do turismo, estamos a falar de hotéis restaurantes, aeroportos. Aprovamos legislação muito restritiva de acesso aos espaços públicos para estimular a vacinação (…) E criamos centros de tratamento covid-19 nas duas ilhas para, em caso de uma situação, termos condições para tratamento dos doentes em Cabo Verde”, apontou.
“Isto tudo com o objectivo de enviar uma mensagem clara aos nossos parceiros, aos mercados de origem, e dizermos claramente que Cabo Verde neste momento tem condições para receber os turistas em segurança”, insistiu.
Carlos Santos garante que nas ilhas do Sal e da Boa Vista, que concentram o turismo em Cabo Verde, o processo de vacinação está ainda mais avançado junto dos trabalhadores dos hotéis.
“É um sinal demonstrativo de que todos nós, trabalhadores, entidades patronais e o Governo, estamos unidos nesse objetivo que é a vacinação, para permitir que possamos passar sempre essa imagem de que o país está a tratar a sua população, está a cuidar da saúde pública, para poder receber aquele que nos queira visitar”, concluiu.
O turismo representa cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) de Cabo Verde, mas o sector está praticamente parado desde final de Março de 2020, devido às restrições às viagens, impostas para conter a transmissão de covid-19, após o recorde histórico de 819 mil turistas em 2019.
Em todo o ano de 2020, o sector perdeu mais de 600 mil turistas, uma quebra superior a 70% face ao ano anterior.
Na previsão do Governo, Cabo Verde deverá receber este ano apenas cerca de 300 mil turistas, recuando a números de 2005.
Os hotéis cabo-verdianos receberam mais de 21 mil hóspedes no segundo trimestre do ano, o dobro face ao trimestre anterior e novamente com os provenientes de Portugal na liderança.
De acordo com o relatório sobre Movimentação de Hóspedes no segundo trimestre do ano, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Cabo Verde, os hotéis do arquipélago receberam neste período 21.562 hóspedes, que se somam aos 12.098 de Janeiro a Março, enquanto o número de dormidas cresceu de 28.912 para 87.719.
Trata-se ainda de um aumento de 308% no movimento de hóspedes, face ao segundo trimestre de 2020, em que o país estava fechado a voos internacionais e ligações interilhas para conter a pandemia de covid-19, e um crescimento também homólogo de mais de 614% nas dormidas.
Contudo, são números significativamente abaixo do mesmo período de 2019, antes da pandemia, quando Cabo Verde recebeu, de Abril a Junho, 179.874 hóspedes (mais 7% face a 2018) e 1.137.199 dormidas (+5,3%) nos estabelecimentos hoteleiros.
No segundo trimestre de 2021, Portugal continuou a ser “o principal país de proveniência de turistas”, segundo o INE, equivalente a 16,4% do total – seguido dos Estados Unidos, com 5,1%, e da França, com 4,8% -, enquanto os provenientes do Reino Unido “foram os que permaneceram mais tempo em Cabo Verde, com uma estadia média de 6,6 noites.