De acordo com a Agência Cabo-verdiana de notícias, numa carta, Américo Borges justificou que a redução da actividade da empresa com a redução do número de voos operados originou “uma drástica redução” da receita, que colocou a TICV numa situação económico-financeira “muito difícil” que, com as agravantes consequências da COVID-19, “obriga a desencadear um processo de reestruturação, que se torna imprescindível”, para a garantir a “continuidade e sustentabilidade” da empresa.
Por esse motivo, acrescentou na mesma carta, a empresa “está obrigada” a proceder à extinção de alguns postos de trabalho nos seus diversos departamentos.
Revelou ainda que “cessará os contratos agora em vigor a partir do dia 20 de Novembro, garantindo os direitos subsequentes a cada trabalhador, derivado do contrato firmado com a empresa, tudo dentro do estrito cumprimento da lei e espírito de equidade”, vincou.
Ao todo, conforme o mesmo documento, serão despedidos 60 trabalhadores, nos diferentes departamentos como call center e lojas, assistência a passageiros e cargas, auxiliares e técnicos de manutenção, pessoal navegante de cabine, pessoal navegante técnico e pessoal administrativo.
O director-geral aproveitou, igualmente, para solicitar aos trabalhadores que informem à empresa, num prazo de cinco dias, a existência de trabalhadores sindicalizados, para dar seguimento ao processo, sob pena de em falta dessa informação se entenderem que não estão sindicalizados.
“Não resta outra alternativa que não seja o de proceder ao despedimento colectivo, disposto no artigo 220 e seguintes do Código Laboral Cabo-verdiano. Estão reunidos os requisitos legais e motivos ponderosos e que se prendem com a viabilidade do projecto da TICV em Cabo Verde”, justificou.
Entretanto, o Expresso das Ilhas falou com um dos 60 funcionários e esteconfirmou o despedimento do pessoas do call center e lojas, assistência a passageiros e cargas, auxiliares e técnicos de manutenção, pessoal navegante de cabine, pessoal navegante técnico e pessoal administrativo.
“Fomos chamados a reunir com o director-geral e os Recursos Humanos (RH) em horários diferentes. Na reunião disseram que o objectivo era dar a conhecer a situação da empresa. Situação essa que até hoje nunca ninguém falou. Se a TICV não tinha condições então porque a compraram? “, questiona a funcionária que não quis se identificar.
A mesma fonte revela ainda que a empresa afirma não haver condições para suportar todos os funcionários, devido à existência de um único avião que estava a fazer vários voos.
“Vão ficar apenas com a tripulação e pessoal financeiro. Disseram que o despedimento é colectivo, mas não é colectivo. Se fosse colectivo não teria mencionado 60 funcionários, somos muito mais do que 60. Disseram que até sexta-feira cada um vai receber uma carta com as contas feitas e que a partir daí, temos cinco dias para arranjar um advogado, sindicato, ou alguém que possa ver se a conta está ou não correcta”, menciona, acrescentando que depois de todos reunirem com o director-geral e o RH vão se organizar e reivindicar os seus direitos.
A 14 de Maio, o governo anunciou que concessionou a exploração do serviço público de transporte aéreo regular interno de passageiros, carga e correio ao operador aéreo BestFly Angola, por um período de seis meses.
Na altura, o Executivo justificou que a decisão surgiu na sequência da manifesta decisão do operador de transporte aéreo, a TICV – Transportes Interilhas de Cabo Verde, vulgarmente conhecida por Binter CV (anterior designação), de cessar as suas operações, a partir de 17 de Maio, sendo o único operador aéreo que garantia os voos domésticos, e perante a imperiosa necessidade de garantir os voos internos e assim o direito constitucional de mobilidade dos cabo-verdianos.
No início de Julho a empresa comprou 70 por cento (%) do capital social da TICV aos espanhóis da Binter, ficando 30% com o Estado, e os voos domésticos foram assumidos pelo grupo BestFly, que integrou a frota da TICV.
Na ocasião, fonte oficial da Transportes Interilhas de Cabo Verde (TICV) garantiu à Lusa que o objectivo da empresa era “começar a operar o mais cedo possível em Agosto”, coincidindo com a chegada ao arquipélago de uma segunda aeronave ATR72-600, para a operação. Isto porque a TICV não realizava voos domésticos desde 16 de Maio.
Sobre o futuro da TICV, a mesma fonte garantiu também, na altura, que “ como empresa tinha assegurada a sua continuidade” e que “a prioridade era a sua reactivação”.
Assegurou, igualmente, que a companhia pretendia manter “o maior número de postos de trabalho possível” da TICV, mas “sem colocar em causa a continuidade e a sustentabilidade” da companhia, admitindo “reajustes” ao nível do pessoal, incluindo a possibilidade de alguns serem reintegrados no universo BestFly.