De acordo com um despacho governamental que entrou hoje em vigor, a que a Lusa teve acesso, “para colmatar a situação financeira que enfrenta de momento”, a empresa negociou um empréstimo bancário de 20 milhões de escudos, que terá o aval do Estado por dez anos, o período de maturidade do empréstimo.
“Esta operação de crédito não se destina a um investimento económico, todavia, dado que o país vive uma conjuntura macroeconómica e financeira muito adversa, decorrente da crise pandémica, e tendo o Estado a participação na empresa como accionista maioritário, é reconhecida a necessidade deste apoio financeiro extraordinário que permite a recuperação da empresa e a protecção dos postos de trabalho”, lê-se no mesmo despacho, do Ministério das Finanças e do Fomento Empresarial.
O documento recorda que a Sociedade Cabo-verdiana de Sabões é uma empresa do ramo industrial que opera na produção e comercialização de sabões e detergentes, com sede em Ribeira de Julião, ilha de São Vicente, sendo constituída por capital misto, mas no qual o Estado tem uma participação de 68,9%, sendo assim o accionista maioritário.
Reconhece igualmente que a empresa “tem envidado esforços para lançar novos produtos no mercado”, mas encontra-se “numa situação económica e financeira muito fragilizada nos últimos anos, devido ao impacto da nova conjuntura económica em Cabo Verde decorrente da pandemia covid-19, que afecta directamente as suas atividades financeiras e operacionais, reflectindo na sua capacidade de inovação, no escoamento de produtos e na sua competitividade no mercado nacional”.
“A empresa tem suportado, também, elevados custos financeiros, resultantes das sucessivas cauções exigidas pelo tribunal por conta do processo judicial interposto pela ex-directora geral, situação que tem sido assegurada através de uma conta caucionada”, lê-se no mesmo despacho, que autoriza a Direcção-Geral do Tesouro a emitir o aval do Estado ao empréstimo bancário.
A Lusa noticiou em Novembro passado que a SOCASA reduziu os prejuízos para quase metade de 2019 para 2020, para cerca de 1,5 milhão de escudos.
Segundo o relatório e contas de 2020 daquela sociedade, os prejuízos caíram praticamente 41%, face ao resultado negativo de 2,6 milhões de escudos em 2019, enquanto os custos com pessoal caíram quase 4%, devido ao recurso da empresa ao regime ‘lay-off’, instituído devido à pandemia de covid-19.
“As vendas da empresa [58,5 milhões de escudos, 528 mil euros] mantiveram-se idênticas a 2019, o que significa que se conseguiu conter a erosão dos resultados”, lê-se no relatório.
Depois de um pico de mais de 7,1 milhões de escudos de lucros em 2013, desde 2017 que a fábrica apresenta prejuízos, apesar de uma melhoria de 18,5% de 2018 para 2019.
A empresa referiu que o exercício de 2020 decorreu num cenário de pandemia, que é “uma doença que exige higienização geral como condição necessária para travar o seu avanço”, pelo que “seria de esperar um impacto positivo” no consumo de sabão e outros produtos de limpeza.
“Contudo, as medidas de confinamento e encerramento de vários serviços contribuíram para o agravamento de alguns fatores económicos, contrariando o esperado aumento dessa procura”, acrescenta o relatório e contas da SOCASA, cuja fábrica de sabão de São Vicente empregava no final de 2020 quase 20 trabalhadores.
A SOCASAproduziu em 2020 quase 480 toneladas de sabão em barra (+19%) e mais de 51 mil litros de detergente, mas a administração admite que a atividade produtiva foi afetada pelas dificuldades no transporte dos produtos acabados para o mercado da zona sul do país, nomeadamente a ilha de Santiago, que concentra os principais clientes.
Com um capital social de 73.120.000 escudos, a SOCASA tem o Estado cabo-verdiano como o principal credor da empresa, sobretudo no pagamento de IVA, numa dívida total que ascendia a mais de 23,6 milhões de escudos no final de 2020.