A África Ocidental tem sido palco de muita agitação política e social nos últimos anos com golpes de Estado a ocorrerem vários países o que tem tornado esta como uma região instável no que respeita a índices de desenvolvimento.
Para Ousmane Diagana, vice-presidente regional para a África Ocidental e Central do Banco Mundial, “esta fragilidade é, infelizmente, comum para a maior parte dos países da África Ocidental e Central. Nesta região há 22 países e 11 são classificados com sendo instáveis e, mesmo naqueles que não são há bolsas de fragilidade. Obviamente isto está relacionado com a pobreza, falta de oportunidades para as populações e especialmente para os jovens que não têm acesso a um emprego”.
A região tem sido palco para golpes de Estado como aconteceu no Mali em Agosto de 2020 e, depois, um segundo em Maio de 2021. Além destes dois golpes houve ainda o golpe na Guiné-Conacri e mais recentemente no Burkina Faso. “São situações políticas e, acima de tudo, desafios económicos para que contribuem imenso as fragilidades institucionais” nestes países.
“Olhando para a população de um ângulo demográfico vemos um crescimento populacional e isso requer que prestemos especial atenção ao acesso ao emprego e ao sistema de educação, mas também à governança, à justiça e a investimentos na criação de instituições fortes”, defende o vice-presidente do Banco Mundial para esta sub-região africana. “Penso que são esses investimentos que fizeram de Cabo Verde um país estável e de progresso social e económico”, acrescenta.
O Banco Mundial e o desenvolvimento em África
Questionado sobre qual tem sido o papel do Banco Mundial no incentivo ao desenvolvimento dos países da África Ocidental, Ousmane Diagana explica que a instituição alocou, em primeiro lugar “recursos com base nos mecanismos de performance que têm em consideração os critérios CPIA (Country Policy and Institutional Assessment)” com o objectivo de saber como a governança institucional e as políticas sociais funcionam e são credíveis. Procuramos também investir no capital humano, na saúde e na educação, mas também no desenvolvimento infraestrutural. Investimos em áreas como a energia, na economia digital, na agricultura tudo com o objectivo de diversificar a economia por forma a que sejam criados empregos para a população destes países”.
Na África Central e Ocidental o Banco Mundial está a desenvolver uma estratégia focada no desenvolvimento dos países que integram esta região. As bases desta estratégia, explica Ousmane Diagana, assenta em vários pilares. O primeiro é o “desenvolvimento do contrato social, investindo na melhoria da confiança entre as pessoas e instituições e, em segundo lugar, trabalhar com os países para melhorar o seu ambiente de negócios removendo barreiras para permitir que o sector privado possa ser mais efectivo e assim criem mais empregos. Porque é o sector privado que cria empregos, não o sector público. Mas para isso é preciso que haja condições”, aponta. O terceiro pilar é a inclusão, “especialmente de mulheres e da juventude”. Por último, “mas não menos importante temos a resiliência climática, porque todos os países africanos, especialmente os da África Central e Ocidental estão sujeitos às mudanças climáticas”.
Desenvolvimento e pobreza
Com a pobreza a ser uma das principais fragilidades na região oeste africana e que leva a instabilidade política o vice-presidente do Banco Mundial para a África Central e Ocidental defende que “é preciso reconhecer” antes da pandemia da COVID-19 os países africanos vinham fazendo “grandes progressos na redução da pobreza graças a diferentes iniciativas combinadas com reformas e investimentos correctos”. No entanto, sublinha, a pandemia surgiu e congelou todo este trabalho que vinha a ser feito “no combate à pobreza. Nos últimos 25 anos antes da pandemia África vinha a crescer provavelmente ao ritmo mais acelerado a nível mundial. É verdade que podemos discutir se esse desenvolvimento foi inclusivo, mas acho que globalmente teve resultados positivos”.
A COVID, defende Diagana, “erodiu muitos desses ganhos” e a retoma do ciclo de crescimento está a ser feita com “perspectivas positivas que levará a investimentos na reforma de sectores que permitirão às economias crescerem a um ritmo mais elevado o que será essencial para a erradicação da pobreza”.
“Já mencionei a importância da diversificação das economias. Sabemos que os pobres são a maioria e que não têm acesso à educação, à saúde e educação. Por causa disso o crescimento populacional cria mais pressão sobre a economia. Por isso é importante dar mais atenção e suporte aos países para que ponham esses temas no centro das suas políticas de desenvolvimento”.
Integração regional
Olhando para os países africanos de forma individual, defende este responsável do Banco Mundial, “vemos que o nível de integração económica não é forte. Por isso, investir nas infraestruturas, incluindo as digitais é importantíssimo e aprendemos grandes lições com a pandemia”.
Explicando que, à excepção da Nigéria, os países africanos da região Oeste e Centro Africana “são relativamente pequenos” e não têm acesso ao mar, o vice-presidente do Banco Mundial para a região da África Central e Ocidental defende que se “deve criar uma solução regional e um grande programa regional para permitir um aumento das sinergias entre os países e entre os diferentes sectores será fundamental para que o crescimento seja mais inclusivo. Daí a nossa aposta na estabilidade das instituições”.
Como exemplo de melhor integração, Ousmane Diagana refere que nas maiores cidades destas duas regiões “há maior confiança para o investimento e há competências para o desenvolvimento” que devem ser aproveitadas.
Sobre Cabo Verde e o aumento das relações comerciais e económicas com os países a costa ocidental africana, Ousmane Diagana explicou que “Cabo Verde é um país muito específico na região, por causa da sua estrutura geográfica. Cabo Verde é um exemplo de um país que cresceu graças à estabilidade e aos investimentos e enfrenta desafios na área da mobilidade por causa dessa mesma estrutura geográfica. Os países da África Ocidental e Central devem cooperar, através de organizações regionais, tendo em vista o seu desenvolvimento mútuo, mas também tendo em consideração a economia de escala. Uma das organizações regionais é a CEDEAO, da qual Cabo Verde faz parte e para a qual contribui, e penso que a importância da integração regional é grande para todos os países africanos e ainda mais para países que não têm acesso ao mar ou que não têm acesso directo ao continente como é o caso de Cabo Verde”.
Só assim, acrescentou Diagana, “poderão ter acesso aos mercados e também beneficiar das melhores condições nas relações de partilha” com os outros países e “aproveitar o potencial comum assim como aprender com os países que têm experiências diferentes”.
Sobre o potencial económico da África Ocidental no cenário internacional Ousmane Diagana defende que “os países desta região têm muito potencial, mas é preciso reconhecer que o nível de industrialização é ainda muito baixo e, por isso, a sua capacidade de desempenhar um papel mais importante na economia internacional é relativamente fraco. Por isso insisto na importância das reformas, da educação e da remoção de todo o tipo de barreiras para que os países da África Ocidental consigam traduzir o seu potencial em acções para o desenvolvimento”.
Além de países com potencial na área da indústria extractiva e do petróleo, como é o caso da Nigéria, “há países ricos em água e isso é essencial para o desenvolvimento agrícola, mas é algo que tem de ser muito bem gerido e infraestruturado. Mas mais importante é que a população da África Ocidental é relativamente jovem e isso dá a energia e a possibilidade para contribuir para o desenvolvimento e de combater, através da emigração, o envelhecimento da população de outros países. São o que chamamos de dividendos demográficos. Assim é essencial que a África Central e Ocidental possa fazer da sua população jovem um factor de paz e desenvolvimento, mas para isso é necessário que desenvolvam as suas capacidades. Conseguindo isso terão uma grande vantagem comparativa com outros países”.
Guerra e extremismo religioso
O extremismo religioso também tem sido causa de instabilidade na região reconhece Ousmane Diagana que explica o surgimento destes movimentos como “uma fraqueza” justificada pela “falta de condições, de preparação pessoal, falta de emprego ou ainda pela falta de uma educação capaz e de esperança. Havendo essas condições então haverá sempre grupos que vão surgir e aproveitar-se das pessoas para serem factores de desestabilização”.
Quanto à guerra que actualmente se desenrola na Europa, com a invasão russa da Ucrânia, Diagana diz que os efeitos “são globais e África faz parte do mundo. Mas temos de ver isto de um angulo diferente: os preços da comida estão a tornar-se insuportáveis para as populações mais pobres, a energia já é muito cara e indirectamente, por causa dos refugiados causados pela guerra na Ucrânia que precisam de ser apoiados pelos países europeus, a assistência financeira que seria dada a África vai, naturalmente, diminuir e isto poderá ter impacto” nos diferentes países africanos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1061 de 30 de Março de 2022.