No relatório a estabilidade financeira de 2022 divulgado hoje, o banco central salientou que apesar da tendência de redução da proporção de créditos em incumprimento em relação ao total de crédito, para níveis de um dígito, o rácio em Cabo Verde continua a ser mais elevado do que os valores observados nas Maurícias e Seychelles, ou seja, o diferencial face aos principais países pares permanece elevado.
“O alto custo do risco de crédito continua a condicionar o nível de intermediação financeira, a solidez e a rentabilidade do setor bancário”, realçou o BCV no relatório.
Outro aspecto apontado no capítulo das vulnerabilidades tem a ver com elevado nível de concentração bancária nos mercados de crédito e de depósitos.
Segundo o BCV, a concentração nos mercados de crédito e depósitos no sector bancário continua igualmente elevada, apesar da tendência de redução observada nos últimos cinco anos, situação que reflecte, também, a elevada exposição a operações de maior risco e a dependência de financiamento de depositantes institucionais.
Essa situação, de acordo com a mesma fonte, pode aumentar ainda o risco sistémico e de contágio para todo o sistema bancário, afectando, assim, a estabilidade financeira.
Por outro lado, aponta para o elevado nível de endividamento público e do ‘nexus’ entre a banca e o Estado, indicando que apesar da melhoria do défice público, que se reduziu para 4,2% do PIB em 2022 (7,3% do PIB em 2021), o stock de dívida pública e o seu rácio em relação ao PIB (128,5%) permanecem elevados.
“Isso é atribuído, em grande parte, às empresas pertencentes ao sector empresarial do Estado, num contexto de forte ligação entre a banca e o setor público – a exposição da dívida soberana bancária aumentou para 23,4% dos activos do sistema bancário em 2022 (21,1% no ano anterior). Essas circunstâncias colocam forte pressão sobre o sector público para cumprir as suas obrigações contratuais com o sector bancário, mas o espaço fiscal é limitado, o que configura um alto risco soberano”, sustentou.
A forte dependência externa do país, enquanto pequena economia aberta, sujeita a choques externos adversos a deterioração da situação financeira do sector não financeiro, a crescente digitalização dos serviços bancários e da oferta de novos produtos financeiros e emergência das alterações climáticas são aspectos que o BCV como sendo as vulnerabilidades do sistema financeiro cabo-verdiano.
Conforme sustentou, o agravamento das vulnerabilidades e riscos suspcetíveis de ameaçar a estabilidade financeira reflectem as consequências de um enquadramento macrofinanceiro externo menos favorável.
Apesar das vulnerabilidades, o BCV indicou que em 2022, o sistema financeiro cabo-verdiano continuou resiliente, mantendo a sua integridade e estabilidade apesar do contexto desfavorável devido aos efeitos da guerra na Ucrânia e à desaceleração da actividade económica global.
“De acordo com as análises realizadas pelo Banco de Cabo Verde, o Índice de Estabilidade Financeira apresentou um desempenho positivo, influenciado pela evolução do índice de robustez bancária, apesar de ter sido afectado negativamente pelos índices de vulnerabilidade financeira e de clima económico externo”, refere o relatório.