Pedro Gomes Soares, CEO do Banco Interatlântico: “O contexto actual obriga a uma constante adaptação”

PorJorge Montezinho,20 abr 2025 6:53

Vivem-se novos tempos, que também mexem com os bancos, como refere o CEO do Banco Interatlântico ao Expresso das Ilhas. Da viagem pela história da instituição, até aos desafios e às oportunidades que para o sector bancário cabo-verdiano, a entrevista com Pedro Gomes Soares, Presidente da Comissão Executiva do Banco Interatlântico, S.A.

Que análise faz à história do sector bancário em Cabo Verde?

É uma história de sucesso e de boas práticas e boa governação. Fomos o primeiro Banco privado criado em Cabo Verde, em 1999, numa parceria entre a Caixa Geral de Depósitos e um grupo de empresas e personalidades reconhecidas em Cabo Verde. Trouxemos a primeira ATM para o País. Hoje somos o terceiro banco em alguns indicadores, num mercado em que já temos 8 bancos comerciais a operar, em fortíssima competição. Continuamos a inovar e a trazer simplicidade, transparência e confiança aos nossos clientes e ao mercado, enquadrados por uma regulação do Banco Central cada vez mais vigilante e sólida e, no caso do Banco Interatlântico, respondemos também perante a supervisão do BCE, o que nos acresce robustez.

Como é que o Banco Interatlântico está a 'navegar' nestes tempos de incerteza?

A incerteza faz parte integrante das nossas vidas e naturalmente também das vidas das organizações. Até à pandemia pensávamos já ter enfrentado todas as incertezas e desafios. Com a pandemia aprendemos que podemos superar desafios ainda maiores e mais impactantes. A atitude é o essencial para “navegar”, como diz. Nunca perdemos o foco na razão de ser da nossa existência: o serviço aos clientes. Nunca perdemos o foco no papel fundamental que um banco tem na sociedade: apoiar famílias e negócios, apoiar o desenvolvimento económico, ajudar a fomentar criação de emprego e melhores condições de vida, com inovação permanente para acompanhar o evoluir das necessidades dos clientes e melhorar serviço e sempre garantindo a confiança dos clientes, com uma forte cultura de risco, de que o seu dinheiro está seguro junto do Banco Interatlântico. Investimos muito nestas vertentes e, enquanto parte do Grupo Caixa Geral de Depósitos, somos referência de solidez e confiança do sector financeiro e estamos a ser cada vez mais relevantes no mercado.

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A actual geopolítica/geoeconomia está a obrigar a mudanças de estratégia?

O contexto actual obriga a uma constante adaptação. Para um país como Cabo Verde, muito dependente do exterior — nomeadamente da Europa e de Portugal — os choques geopolíticos e económicos representam riscos elevados, representando riscos significativos de perturbação económica, desde flutuações nos preços das matérias-primas e transportes, até à redução de fluxos financeiros e turísticos. No entanto, o país tem demonstrado resistência e capacidade de recuperação às diversas adversidades. O país conta com instituições estáveis, um sistema financeiro sólido e parceiros estratégicos que têm desempenhado um papel fundamental nas respostas rápidas e eficazes aos diversos choques externos que enfrentámos nos últimos anos — desde crises financeiras internacionais a choques pandémicos e climáticos. No Banco Interatlântico, estamos atentos aos vários riscos e contamos com o forte suporte do Grupo CGD, o que nos dá acesso a ferramentas avançadas de gestão e planeamento. Esta base sólida permite-nos responder com confiança, agilidade e foco no desenvolvimento sustentável do país.

Como analisa o desempenho do Banco Interatlântico nos últimos anos?

O Banco cresceu e transformou-se, tem um balanço muito sólido, rácios de capital elevados e um risco de crédito na carteira muito reduzido. A esta data não temos ainda os dados consolidados do sector a Dezembro, mas o Banco terá menos de um terço do risco de crédito do sistema. Isto quer dizer que estamos a conseguir negociar boas soluções com os nossos clientes e a apoiar os projectos empresariais certos e que estão a ajudar Cabo Verde a crescer. Os próximos anos vão ser de melhoria contínua, desejamos que o Banco continue a crescer e a ser cada vez mais relevante no mercado. 2024 foi o melhor ano da história do Banco e estamos a trabalhar para que 2025 seja ainda melhor. Em prol dos nossos clientes e do País.

Que prioridades para o curto/médio prazo?

Continuar a servir os nossos clientes elevando os padrões de serviço e qualidade para os melhores standards internacionais. Garantir que os clientes sabem que aqui têm o melhor serviço, mais robusto e competitivo, e a solidez que o Grupo Caixa Geral de Depósitos consegue trazer ao mercado.

Que inovações podemos esperar de um sector, por norma, conservador?

Um serviço ao cliente cada vez mais próximo das necessidades dos clientes. A inovação é essencial para a continuidade do negócio e das operações, mas também para assegurar a satisfação das necessidades dos clientes. O Banco tem de ser, cada vez mais, um suporte ao cliente na sua vida. Uma conveniência para apoiar decisões das famílias, transparente na sua relação e um apoio essencial ao desenvolvimento das empresas, ao seu crescimento e à sua actividade. Os clientes não querem produtos: querem serviço onde, quando e como precisam. Este ano contaremos com uma APP totalmente nova, que permitirá a contratação de operações de crédito, e o reforço do nosso processo de gestão desmaterializada de crédito, que permite, já hoje, a decisão de crédito ao consumo com desembolso na conta em 45 minutos. Iremos ainda reformular mais agências para o novo layout, de modo a que se adequem ao novo modelo de serviço.

Quais as oportunidades para os bancos em Cabo Verde, tendo em conta o contexto e as tendências nacionais e internacionais?

Os bancos têm de conseguir servir cada vez melhor os clientes, com mais agilidade e mais transparência. Existe sempre a necessidade de aumentar a literacia financeira das famílias e das empresas e existem sempre novos temas a surgir. Hoje em dia temos o desafio do ESG (ambiente, sociedade e governação), dos seus riscos e das suas oportunidades. O Banco Central Europeu já tem guidelines muito fortes neste âmbito e o BCV está agora a introduzir as suas orientações, em alinhamento internacional. É um desafio enorme, para todos: Bancos, empresas e famílias, mas é essencial para garantir um futuro mais sustentável e combater os riscos actuais que as alterações climáticas nos trazem, mas também para assegurar melhor governo nas empresas e maior impacto social.

Para onde e como querem crescer?

Queremos crescer sempre onde os nossos clientes precisam: apoiar as famílias cada vez melhor nas suas necessidades, apoiar as empresas nas suas actividades e ajudar no crescimento económico reprodutivo que gera emprego e melhores salários, ajudando o País a crescer. Queremos continuar a ser um Banco muito sólido que os investidores estrangeiros reconhecem como uma referência e que as empresas nacionais sabem que os pode acompanhar em projectos sólidos e geradores de riqueza.

E quais considera serem os principais riscos?

A maior parte dos riscos mais impactantes são sempre externos, num país como Cabo Verde e principalmente quando temos uma cultura de risco tão desenvolvida. Queremos mostrar a cada vez mais clientes que temos capacidade de servir bem, que estamos bem equipados para apoiar famílias e empresas, de forma segura, rápida e transparente.

Qual o impacto do aumento da taxa de juro por parte do Banco Central para o banco e para os clientes?

O Banco Central tem feito uma gestão da política monetária e de taxas de juro muito cuidadosa. Foi possível evitar que a enorme volatilidade das taxas de juro europeias fosse reflectida nos clientes em Cabo Verde e mais recentemente está-se a fazer um ajustamento das taxas de juro, mas já sem os impactos que ocorreram na Europa. As taxas de juro ainda estão abaixo das europeias em alguns aspectos, o que não é natural, mas a convergência já se faz para um cenário de diminuição de taxas na Europa e protegendo os impactos nos clientes. É natural que se observe um crescimento ligeiro nas taxas de crédito e de depósitos, mas não é provável que se vejam movimentos muito fortes. Lembrar sempre aos clientes que sempre que as taxas dos depósitos estão acima da média do mercado em algum operador é porque o risco é maior e quanto ao crédito, os clientes devem fazer a consulta sempre a mais do que uma instituição para conseguir negociar melhores condições. Sugerimos às famílias e às empresas que nos consultem para termos a oportunidade de apresentar a nossa proposta de valor a cada vez mais clientes.

Estão a trabalhar em novas formas para melhorar a experiência dos clientes?

Sempre. O Banco Interatlântico quer estar cada vez mais onde os nossos clientes estão e servi-los onde e quando eles querem.

Qual o valor que dão à responsabilidade social?

A responsabilidade social tem muitas dimensões e o Banco Interatlântico promove todas elas: políticas de crédito sustentáveis e responsáveis, muita transparência na relação com os clientes, apoio à cultura e ao património artístico, recentemente iniciámos os ciclos de programação regular no nosso Auditório, apoiamos organizações sem fins lucrativos e de forte impacto social. As Instituições são parte do tecido social e têm sempre impacto nas comunidades. Queremos que o nosso seja sempre positivo e faça a diferença no maior número de pessoas possível.

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Em Fevereiro de 1998, a CGD inaugurou uma Sucursal em Cabo Verde – e complementou a presença da CGD no território, que já existia sobre a forma de Escritório de Representação do ex-Banco Nacional Ultramarino. Em 1999, a sucursal transformou-se em banco de direito cabo-verdiano, sob a denominação Banco Interatlântico, S.A., passando a CGD a deter 70% do capital social. A restante participação accionista encontra-se repartida por um conjunto de empresários e empresas locais.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1220 de 16 de Abril de 2025.

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Autoria:Jorge Montezinho,20 abr 2025 6:53

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  20 abr 2025 6:56

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