Investigadores espanhóis da Universidade de Valência e da Fundação para o Fomento da Investigação Sanitária e Biomédica da Comunidade Valenciana conseguiram identificar os primeiros genomas completos do vírus que provoca a covid-19 a partir de amostras retiradas de pessoas infectadas em Valência, cidade onde se verificou a primeira morte em Espanha relacionada com a pandemia.
Deste modo, foi possível confirmar que o genoma identificado em Espanha diverge do que foi identificado por cientistas chineses e divulgado a 14 de Janeiro passado, como avança o jornal El Confidencial.
A investigação agora realizada em Espanha sugere, assim, que o vírus sofreu mutações à medida que se foi espalhando pelo mundo.
“O genoma do vírus está em contínua mutação e é isso, justamente, que nos permite seguir a sua trajectória em diferentes países e rotas de transmissão”, refere ao El Confidencial o professor de Genética Fernando González que esteve envolvido na pesquisa.
A sequenciação dos genomas do vírus a partir das amostras retiradas aos três pacientes difere “em seis mutações”, num caso, e “em nove”, nos outros dois, relativamente ao “vírus originalmente sequenciado em Wuhan”, explica González, frisando que isto “é normal” porque “quase todos os vírus que foram sequenciados, até ao momento, apresentam algumas diferenças com o primeiro”.
O que foi isolado no Brasil é o que “tem mais mutações” relativamente ao primeiro. Ao todo, o vírus detectado no Brasil sofreu 16 mutações relativamente ao ‘original’ detectado em Wuhan, esclarece o cientista.
Vários laboratórios em todo o mundo estão a construir uma base de dados global com as informações sobre os diversos genomas sequenciados, uma forma de poder analisar melhor as vias de transmissão e de detectar as diferentes linhagens do coronavírus. Em Portugal, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge já conseguiu também sequenciar o genoma do coronavírus associado aos dois primeiros casos de covid-19 que foram detectados naquele país.
A capacidade de mutação do vírus é um factor que ainda está a ser estudado e cuja compreensão será essencial para desenvolver uma vacina contra ele.
A sequenciação do genoma feita em Espanha permitiu detectar que os contágios de Valência tiveram como origem Itália. “O problema, de momento, é que há disponíveis muito poucos genomas do vírus procedentes de Itália e suspeita-se que a origem lá não é única, mas que se estabeleceram, pelo menos, duas linhagens desde a China”, salienta González.
Já se tinha avançado que a versão que proliferou por Wuhan tinha tido duas mutações, uma variante L mais agressiva e mais letal e que foi mais prontamente detectada pelas autoridades, e uma variante S que provoca sintomas mais leves e que, portanto, passou um pouco indetectada, mesmo que continuasse contagiosa.
Há estudos que avançam que 86% dos casos podem ter passado indetectados precisamente por terem a variante S.
Os investigadores espanhóis acreditam que o vírus que percorre Espanha é, basicamente, o mesmo. Mas para ter a certeza é preciso sequenciar o genoma de outras amostras para tirar conclusões.