Hoje o velho continente e o mundo inteiro vêm as suas criancinhas, jovens e adolescentes impedidos de sair à rua e assistem ansiosamente da palma das suas mãos, no sofá das suas casas, à grande guerra do Séc. XXI. Em contramão estão aqueles que não dispõem ainda dos sofisticados brinquedos da quarta geração ou de uma simples TV, violando um direito fundamental, por precaução e medida de segurança pública, o direito a ir assistir às suas aulas e se calhar, brincar com os seus coleguinhas, sobre o ar preocupado dos pais e do mundo.
As estatísticas que começam a ser publicadas estimam que neste momento existem 300 milhões de crianças e jovens à escala mundial, impedidos de irem à escola em 70 países. As previsões apontam para 500 milhões brevemente. Esta progressão tem sido exponencial. Jamais vista.
O terremoto laboratorial da terra
Desta vez e contrariamente a todas as previsões, não foi nenhum ataque bélico que fez tremer o mundo e despoletou uma nova guerra mundial. O vírus/guerra que presumidamente terá sido despoletado na cidade chinesa de Wuhan rapidamente invadiu as fronteiras do nosso planeta por via terrestre, área e marítima. Num mundo global de hoje onde a acessibilidade é contagiante, em fracções de segundos, em horas e dias, a um click da palma das nossas mãos destronam-se governos, apela-se à paz e assiste à circulação de milhões de pessoas e milhões de toneladas de carga em grandes aeronaves, grandes navios e maravilhosos hotéis flutuantes. Esta é a velocidade actual do planeta. Contudo, o ser humano esqueceu que mesmo a velocidade tem que ter limites e respeitar determinadas regras. E de repente, o planeta aqueceu e o motor arrebentou estrondosamente. O epicêntro do sismo já fez tremer o Dragão gigante e tudo indica que o mesmo deslocou-se a grande velocidade para o velho continente onde se implantou e o planeta continua a tremer.
O combate sem trégua prossegue, o confronto do homem contra um novo vírus que se pretende compreender a sua origem e razão de ser, num mundo onde os estados gastam bilhões em armamento sofisticados de destruição massiva.
Contrariamente a todos as previsões, hoje os quarteis foram transformados em hospitais. Hospitais de todo o mundo e as equipas médicas de todo o planeta vão tentando criar soluções para salvar vidas humanas, enquanto nos laboratórios do planeta, o homem incansavelmente busca solução para estancar o vírus. A equação Covid-19 esta lançada e será vencedora a equipa que trouxer a proposta concreta e autorizada ao mundo. A maratona dos laboratórios já arrancou. O importante será chegar à meta e ter um vencedor. Desta vez trata-se de uma maratona num piso desconhecido, escorregadio que exige velocidade, elevados recursos financeiros, esforço físico, mental, conhecimento do terreno e dedicação. O vencedor será sem dúvida o campeão e aquele que vai salvar o planeta de uma pandemia jamais prevista, pois todos sabemos que o mundo não vai acabar e que a Covid-19 tem dias ou meses contados. Efetivamente quem for o campeão será com certeza Prémio Nobel da Medicina 2020 ou 2021.
A simplicidade, a disciplina e o comportamento humano
Enquanto isto, nas redes sociais e na imprensa internacional seguem os conselhos dos especialistas em saúde pública e não só. E ao que parece os conselhos assentam sobretudo na simplicidade, na disciplina e no comportamento humano. Começa com o básico, lavar bem as mãos sempre que possível, evitar o contacto físico, respeitar a distância aconselhada e evitar a concentração de pessoas…Já começam a perfilar alguns campeões dessas medidas seguidas linearmente ainda que seja muito prematuro declarar a vitória final. Na Asia temos os casos de Macau, Hong Kong e Taiwan, pela homogeneidade da sua população, do seu rigor e da sua disciplina como povo, adicionado a uma certa experiência com outras epidemias anteriormente vividas nesses territórios. Na outra face da moeda temos o caso da Itália que neste momento é o epicentro das preocupações, seguida da França e Espanha, e que a qualquer momento pode ser que haja um estancamento do vírus, para a tranquilidade desses países, da Europa e do mundo.
O efeito da Covid-19 na economia mundial
É cedo demais para um diagnóstico global do efeito da Covid-19 na economia mundial. Contudo, vai-se equacionando o efeito do vírus em algumas indústrias estratégicas do planeta.
A IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) estima que os prejuízos das companhias aéreas causadas pela Covid-19 (até 20 de Fevereiro 2020) poderá ter atingido um montante que oscila entre 63 a 113 bilhões de USD. Outra indústria transversal e de dimensão mundial, o turismo, que segundo a OMT em 2018, terá contribuído com 10,4 % de toda a actividade económica do planeta, gerando 319 milhões de novos postos de emprego com um valor total calculado em 8.8 trilhões de USD. Como poderão ver, são valores desaconselháveis para os pseudo-gestores com problemas de enfarte financeiro, desonestidade intelectual e ganância.
O combate entre a Covid-19 e a Reserva Federal dos EUA
Mesmo com o pacote financeiro de emergência avançado este domingo pela Reserva Federal dos EUA (Fed-estimado em 700 bilhões de USD) para aquisição de instrumentos financeiros, o mesmo não conseguiu tranquilizar os mercados financeiros nos Estados Unidos e em todo o mundo. Esta segunda-feira as bolsas abriram em queda livre e há sinais de terremoto financeiro em todas as praças financeiras internacionais.
Enquanto o combate à Covid-19 prossegue nos hospitais e nos laboratórios de todo o planeta, foram lançadas as equações na área económica e financeira e procura-se os novos Nobel da Economia.
Em suma, como tudo na vida, o bom senso faz a diferença. E tudo indica que brevemente teremos um antes e um pós Covid-19.
Mas o pós Covid-19 não será com dantes, exigirá um mundo mais humanizado, um mundo mais racional, mais sério, mais solidário e mais sustentável com um denominador comum: a redução das desigualdades sociais.
Uma nova era económica bate-nos à porta. Deverá ser uma era económica oxigenada, verde, limpa, com a tecnologia na linha da frente, com o foco na Educação e na Saúde, a base de qualquer sociedade devidamente estruturada. A mobilidade será redesenhada e a forma de trabalhar ajustada aos tempos modernos. Não será difícil adivinhar o futuro se revisitarmos alguma literatura antiga e moderna, antes que seja tarde demais. It’s time…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 955 de 18 de Março de 2020.