De repente, uma guerra invisível assolou o planeta e o mundo confinou-se. Mas o mesmo não estava preparado para uma onda gigantesca de ataque de tamanha dimensão. O nível de destruição do inimigo invisível é violento e a velocidade de propagação é enorme, fazendo da autoestrada global a sua autoestrada de ataque. Ataca por via terrestre, área e marítima. Nenhum homem, nenhum cientista, nenhum médico pôde ainda combater o coronavírus que perfila como uma das armas de destruição maciça mais perigosa do Séc. XXI, e que continua a sua estrada de destruição, tristeza e dor. De momento apenas sabe-se que nasceu na cidade de Wuhan, na China, e após o seu aparecimento impôs a sua força e provou a sua capacidade destrutiva. Presumivelmente, numa pequena distração das autoridades chinesas rapidamente viajou com cerca de 5 milhões de chineses para quase todas as províncias da China durante a celebração do Ano Novo chinês em Fevereiro. E a partir daí, o coronavírus invadiu o mundo, e por incrível que pareça, cientificamente ainda sabe-se pouco ou quase nada sobre como combatê-lo. “O mundo só sabe que nada sabe” sobre Covid-19 e por isso existe uma margem de especulação para cada cidadão exercer o seu direito de cidadania com responsabilidade e seriedade. Isto é uma guerra severa e séria. Enquanto isto, o mundo parou, confinou-se a ver os bombardeamentos agressivos e apreensivos da comunicação social na contabilização dos casos positivos, do número de pessoas infectadas, o número de mortes e a montagem recorde dos mais sofisticados hospitais deste planeta. Pelo meio, vai faltando os ventiladores, os PPE (equipamento de protecção individual em português) e as máscaras, porque nenhum país estava preparado para este flagelo. Nesta guerra, a classe médica e os servidores da saúde travam violentos combates contra o coronavírus e, eventualmente, poderão vir a ser os novos heróis do planeta, enquanto nos laboratórios os cientistas correm em contra-relógio para criarem uma vacina que consiga parar os estragos do vírus de mão invisível e ver quem será o próximo vencedor do Nobel da Química…
A Covid-19 no plano económico
Um dia a Covid-19 será história. Brevemente o coronavírus será tema para estudos académicos aprofundados. E em qualquer área de estudo, o valor dos seus números serão equacionados e devidamente contabilizados. Mas até o momento a equação esta longe de ser resolvida. A sua complexidade é tamanha, os variáveis são tantos e até agora poderá ser considerado o maior desafio sanitário/humanitário e matemático do Séc. XXI. O presidente Trump começou por injectar 1,6 trilhões de USD para o combate à Convid-19 na trincheira económica, aumentou para 3 trilhões de USD, e ainda é cedo demais para apurar a eficácia dessas medidas na economia americana. O Euro Grupo, liderado por Mário Centeno, acaba de aprovar um pacote financeiro de 500 bilhões de Euros para o combate à crise económica despoletada pela Convid-19, por forma a suportar as pequenas, médias e grandes empresas e adiar o flagelo social, o desemprego em massa, durante e pós crise. No continente negro, tudo indica que o Afreximbank vai disponibilizar aos Bancos Centrais dos países africanos 3 bilhões de USD no combate à Covid-19. Certamente que o tempo servirá para esclarecer as dúvidas, que medidas foram tomadas e qual foi o impacto dessas medidas na economia real e na vida dos africanos. Enquanto isto, o planeta está mergulhado numa crise sem precedentes, com vários custos ainda para serem contabilizados e a km de distância da contabilização dos custos sócios-económicos globais da Covid-19. A nível mundial, as companhias aéreas continuam a desfilar nas grandes placas dos luxuosos aeroportos de todo o mundo e estima-se que os prejuízos já ascendem os 252 bilhões de USD (dados da IATA) e começam a ser anunciadas a lista dos que morrem e dos sobreviventes. Algo jamais imaginável há 3 meses atrás. Na indústria turística, segundo as últimas previsões da Organização Mundial do Turismo, os prejuízos já atingiram a barreira dos 100 bilhões de USD. De repente o mundo parou, as pessoas confinaram-se e as grandes cidades deste planeta tornaram-se autênticas cidades fantasmas.
As nossas ilhas confinadas no meio do Atlântico da crise
Mesmo em tempo de crise, nunca é demais evocar a nossa história: reza a mesma que fomos descobertos pelos portugueses em 1460, independentes em 1975, democratizados em 1991. Ou seja, quase cinco séculos de aventura! Pelo meio ficará o período das fomes de 1947, as chuvadas de 1950, a Covid-19, possivelmente as chuvadas de Setembro de 2020, sem as quais a crise se alastrará de uma forma sem precedentes. E o apadrinhamento e o carinho incondicional da comunidade internacional, sempre presente na histórica socioeconómica do país, na formação do homem cabo-verdiano e no financiamento constante do OGE e da própria sobrevivência deste povo.
Em suma, no pós Convid-19 nada será como dantes, o turismo de massa não erguer-se-á facilmente, a procura para os grandes resorts será restrita devido a filosofia do distanciamento social e da insegurança sanitária, a natureza e o ambiente serão privilegiados. Por isso o valor acrescido de destinos como as montanhas da Ilha das Montanhas, do Vulcão do Fogo, dos destinos confinados quase que permanentes das ilhas de São Nicolau, do Maio e da Brava. O papel do Estado será repensado, a democracia modernizada, e valores socias da humanização e solidariedade resgatados. O novo mundo será um mundo mais humano, com mais saúde, mais educação e projetado nas plataformas digitais. As próximas guerras e vitórias serão travadas num mundo virtual. It´s time…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 960 de 22 de Abril de 2020.