O alerta é de Vera Songw, secretária executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África, que frisa, em declarações à Bloomberg, que o continente africano, que tem um sistema de saúde já fragilizado, pode ser assolado por uma tempestade “tão brutal” como aquela que atingiu Espanha e Itália, os países europeus mais afectados com a pandemia.
Por isso, defendeu a responsável, é importante que o continente receba rapidamente um forte estímulo financeiro, podendo metade deste valor ser oriundo da renúncia de pagamentos de juros a instituições multilaterais.
Segundo Songw, esta almofada financeira permitiria aos países impor medidas de distanciamento social, ampliar redes de segurança social e equipar hospitais para tratar doentes ainda antes do aumento esperado de infecções por COVID-19.
“Se queremos ter uma possibilidade de lutar, precisamos [desta oportunidade] imediatamente (…) Nas próximas duas a três semanas, se agirmos de forma decisiva, podemos ser capazes de aplanar a curva e, quando a tempestade chegar, não será tão brutal como se verifica na Europa”, considerou a responsável.
Tal como recorda o jornal Observador, vários responsáveis internacionais têm alertado para a situação de África. A directora da Organização Mundial da Saúde para África, Matshidiso Moeti, começou por classificar a evolução de casos da COVID-19 como “dramática”.
Recentemente, John Nkengasong, chefe do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, corrigiu as suas declarações: “Antes disse que era uma ameaça iminente para o continente, agora digo que é um desastre iminente“.
Em declarações ao jornal espanhol La Vanguardia, vários especialistas dão conta que a progressão do vírus em solo africano é semelhante à que se verificou em Itália ou Espanha, apesar de já terem sido tomadas algumas medidas restritivas.
África pede perdão de dívida total
Os ministros das Finanças africanos alertaram esta quarta-feira que o continente pode levar até três anos para recuperar dos efeitos da pandemia e defenderam um perdão de toda a dívida, e para todos os países, durante esse período.
No segundo encontro dos ministros das Finanças africanos, liderado pela secretária executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), os governantes defenderam que o continente “está a enfrentar um profundo e sincronizado abrandamento económico e que a recuperação pode demorar até três anos”.
No comunicado de imprensa que dá conta das conclusões da reunião, os governantes concordaram que “o foco imediato deve permanecer na frente humanitária e de saúde” e apontaram a necessidade de “continuar a alertar as pessoas sobre a importância dos testes e do distanciamento social”.
Para além da questão de saúde, os ministros africanos insistiram na necessidade de haver um perdão da dívida, mas alargaram o pedido a todo o tipo de dívida e a todos os países do continente, durante os próximos três anos, alargando, assim, a proposta feita na semana passada.
“Os ministros pediram um alívio da dívida por parte dos parceiros bilaterais, multilaterais e comerciais com o apoio de instituições financeiras multilaterais e bilaterais, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a União Europeia, para garantir que os países africanos garantem a margem orçamental de que precisam para lidar com a crise da COVID-19”, lê-se no comunicado que dá conta das decisões da segunda reunião, feita à distância e na qual alguns ministros já aparecem a usar máscaras.
Este pedido sobre a dívida, salientam, “deve ser para toda a África e deve ser feito de forma colaborativa e coordenada, através da criação de um veículo financeiro especial que lide com as obrigações da dívida soberana”.