Kretcheu, nha Kretcheu. Qual é a morna mais romântica de sempre?

PorExpresso das Ilhas,14 fev 2020 6:15

Neste dia dos namorados, momento de celebração do Amor, desafiamos várias personalidades cabo-verdianas, principalmente do mundo da música, a elegerem a morna mais romântica de sempre. Há uma vencedora quase, quase consensual. Advinha qual é?

Morna, música rainha de Cabo Verde e Património Imaterial da Humanidade, é a expressão musical da alma um povo. E é uma expressão, por natureza, romântica. Mas dentro de toda a variedade de mornas, há composições que se salientam, pela ode que fazem ao Amor e aos amores.

Para marcar este dia de São Valentim, inquirimos algumas pessoas directa ou indirectamente ligadas à música e poesia: Qual é a morna mais romântica de sempre?

Com tantas e tantas composições de excelência e referência que Morna gravou ao longo do tempo, a resposta não é muito fácil. Mas há algum consenso e um Top 3.

1 - Força di Cretcheu

Força di Cretcheu de Eugénio Tavares é, indiscutivelmente, a morna rainha entre as mornas românticas.

Foi a escolha de músicos, cantores e compositores como Betú, Teté Alhinho, Tibau, Alberto Koenig, Tó Tavares, e também do antropólogo, especialista em Eugénio Tavares, Manuel Brito-Semedo.

Seis, em oito entrevistados, colocaram-na no top das mornas românticas.

"Força di Cretcheu" de Eugénio Tavares é a morna/canção nacional que mais expressa o sentido do amor quer no nosso contexto e o amor transcendental”, avalia Tó Tavares.

Betú por seu turno justifica a sua escolha “pela elegância melódica e pela sublimação poética!”

“É um tema que tem uma dimensão do amor. Única, plena e partilhada. Única porque a estória que a inspirou é uma estória de amor sem precedentes e motivadora. Plena porque fala de um amor pleno só comparável com a dimensão do mar ou do céu e partilhada porque de tão grande, o desejo do compositor foi pedir a Deus as sementes para semeá-las em toda a gente para que também possam sentir o mesmo”, louva Teté Alhinho.

Força di Cretcheu “é a força do romantismo. Lembremo-nos da época em que Eugénio Tavares escreveu essa morna: deve ser finais do século XIX, princípios do século XX- Eugénio Tavares morreu em 1930. É o máximo do romantismo, à moda antiga, em todo um contexto literário e do romantismo”, analisa, na óptica de investigador, o antropólogo, Brito-Semedo, e autor da colecção “Morna: Música Rainha de Nôs Terra”.

De um ponto de vista pessoal, esta é também uma canção marcante. “Já a ouvia quando era adolescente, na rádio Barlavento em São Vicente, cantada por Lena Ferro - não há gravações [dessa interpretação], só em bobine, -então esta escolha tem a ver, um bocado, com a minha adolescência”, recorda. “Eu tinha essa força de cretcheu”, brinca.

Embora sem referir nenhuma canção de Eugénio Tavares, em particular, também a escritora Vera Duarte fala das mornas deste compositor-poeta-escritor.

“Acho que não há um cabo-verdiano que não goste das mornas de Eugénio Tavares, sobretudo quando ele fala de mal de amor, que é a dor do amor”, refere.

A dor do amor e o próprio amor. Para Alberto Koenig a letra “descreve o que é o amor,o que é companheirismo, o que é gostar de alguém, o que é não conseguir viver sem alguém”.

Se o conceito em torno do lugar cimeiro que esta morna ocupa na playlist das mornas dos amantes - no sentido de ‘aqueles que amam’ – em termos de melhor versão/interpretação, o consenso é bem menor.

Sãozinha Fonseca é a escolhida por Teté Alhinho e Brito-Semedo.

“Sãozinha é a pessoa que melhor interpreta Eugénio Tavares, pela característica do criolo, e ela canta muito bem a variante da Brava que tal como a sua própria voz acaba por ser muito dolente”, aprecia o antropólogo.

Outra versão escolhida, aqui pelo compositor de mornas Betú, é a interpretada por Celina Pereira

Alberto Koenig, músico de outra geração e integrante do grupo Azágua, prefere a cantada por Gardénia (outra bravense). E a mesma preferência é apontada por Tibau. “Apesar de não ser fácil a escolha de uma versão mais bonita, escolho a na voz da Gardénia Benros, arranjos do grande Paulino Vieira.

2- M’kria ser poeta

Falando de Paulino Vieira. Depois de Força de Cretcheu, é a morna M’kria ser Poeta, a mais referida.

Surge em primeiro lugar na lista de Vera Duarte, “talvez por se referir aos poetas e ao amor de uma forma tão romântica e inspirada”

“Paulino Vieira junta poesia, poetas e o amor, e poetas é muito das suas matérias de incandescentes e lava. Efectivamente, ele faz uma exaltação bonita à mulher, à beleza da mulher mas de uma forma poética muita bonita”, justifica a escritora.

E em segundo lugar no top de Alberto Koenig e Manuel Brito-Semedo.

“Ami djan kria ser poeta...o Paulino Vieira foi muito humilde em dizer aquilo porque ele foi um poeta”, considera o cantor.

“O romantismo, a poesia, a pintura que ele faz...eu queria ser poeta..., para depois fazer a comparação da beleza da amada com a natureza. É bonito. É um outro tipo de romantismo. Eugénio Tavares é um romantismo mais literário e Paulino seria um romantismo mais visual, pela descrição da paisagem”, compara, por seu lado, Manuel Brito-Semedo.

A interpretação de Ildo Lobo é a mais lembrada entre os inquiridos.

“Texto poético e bonito, a música e linguagem ternurenta e a interpretação fazem desta morna uma conjugação que é para ouvir de olhos fechados”, considera Brito-Semedo.

3- Cusas di Coraçon

Também Cusas di Coraçon, morna de Betú, um dos nossos inquiridos, se destaca nesta lista romântica.

É “uma morna muito bonita e inspirada”, elogia Vera Duarte que a integra nas suas mornas de amor preferidas.

Cusas di Coraçon é aliás a primeira escolha de Hélio Batalha.

“Mais romântica de sempre porque carrega a mais pura poesia, declara um amor para a amada. É bom de ouvir, é a nossa morna e é poético”, destaca o rapper, para quem a melhor versão/interpretação surge pela voz... mais uma vez, de Ildo Lobo.

Outras escolhas

Entre outras Mornas referidas está "Minduca" de Tututa, seleccionada por Alberto Koenig.

Na verdade, confessa o músico, esta é a sua preferida, mas considera 'Força de Cretcheu' de Eugénio Tavares e 'N’Cria ser pPoeta' de Paulino Vieira “como sendo as mais românticas”, explica.

“É, pessoalmente a minha preferida, porque para além da letra, melodia e harmonia e tem uma das falas mais bonitas que eu já ouvi na morna que é ‘nem ki mar bira tinta, ki céu bira papel n ka ta podi skrebeu’, é uma metáfora enorme”, refere.

E Tó Tavares, que coloca no pódio Força de Cretcheu, dá a prata a "Nôs Amizade" de Betú.

Isto, porque é uma morna que retrata “o amor puro de um homem para uma mulher, ou vice-versa. Um amor para além qualquer barreiras. De alguém capaz de enfrentar a tempestade, convicto de que o amor verdadeiro é isso mesmo, na esperança que após a tempestade em o arco-íris”, ilustra.

E muitas mais se poderiam juntar a esta pequena recolha, face à imensidão de mornas de Amor que há. Cada qual terá as suas preferidas, mas muito provavelmente as deste Top3 estarão na playlist pessoal de cada um.

*Imagem de Capa - Pedro Gregório Lopes

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Autoria:Expresso das Ilhas,14 fev 2020 6:15

Editado porSara Almeida  em  9 nov 2020 23:21

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