​África exige investimento a longo prazo com privados e sociedade civil

PorExpresso das Ilhas, Lusa,2 ago 2018 10:03

Graça Machel
Graça Machel

A viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, desafiou hoje, na África do Sul, os líderes africanos a criarem um pacto nacional de longo prazo com o sector privado e a sociedade civil na defesa dos interesses do cidadão comum.

No Fórum Africano de Filantropia, a decorrer em Joanesburgo, num debate sobre "a nova face da liderança em África", Graça Machel disse que "qualquer nação deveria ter um pacto nacional com uma visão clara, objectivos bem definidos e resultados específicos a alcançar" com um relacionamento de confiança "mais próximo" entre sector público e privado.

"Muitas vezes, os governos têm as políticas, mas falta-lhes a capacidade de gestão na implementação das mesmas, e julgo que o sector privado empresarial poderia dar o seu contributo no sentido de ajudar a transformar políticas governamentais em resultados práticos que beneficiem os cidadãos", disse a antiga primeira-dama de Moçambique e viúva do prémio Nobel da Paz, Nelson Mandela.

Neste sentido, referiu que as organizações da sociedade civil podem ajudar a criar estabilidade quer na implementação como na melhoria de políticas, "quando os governos (em África) se mostram receptivos a ouvir".

Graça Machel, que participou quarta-feira num painel de debate ao lado da ex-presidente das Maurícias, Ameenah Gurib-Fakim, sublinhou que é necessário melhorar o "clima de desconfiança" existente entre governos, sector privado e sociedade civil em África na procura de uma "liderança colectiva" que se traduza em resultados de qualidade.

Na sua intervenção, Graça Machel destacou a Alemanha e as suas instituições públicas e não-governamentais como "exemplo de boas práticas na gestão e implementação de planos de desenvolvimento nacional".

"Há várias instituições alemãs que recebem fundos do Governo mas existe uma coordenação muito precisa entre elas em termos de implementação e objectivos pretendidos. Nós em África não temos isso", afirmou.

"Por isso temos de criar relações de confiança, planear em conjunto, trabalhar de forma diferente, avaliar e colaborar a bem do interesse da nação e dos cidadãos", adiantou.

Graça Machel sublinhou que África precisa de "instituições sólidas" e que, além da confiança, é necessário também haver investimento em capacitação institucional de excelência.

"Uma das questões que me preocupa nesta narrativa africana sobre a construção das nossas instituições é saber como gerar conhecimento que transforme estas instituições. Porque será necessário recorrer sempre a instituições como Harvard e Cambridge quando temos em África instituições de excelência?", questionou Graça Machel.

"Já é altura de os líderes africanos investirem nas nossas instituições académicas para se gerar conhecimento e promover os nossos cientistas, ligando o conhecimento às realidades (dos nossos países) ", afirmou.

De acordo com Graça Machel, "temos muitas centenas de estudos de pesquisa a apanhar pó" que não são utilizados na resolução dos "problemas de África", acrescentando que "ainda assim vamos às instituições do norte à procura de conhecimento que tem sido desenvolvido com base no que pretendem pesquisar sobre o continente, enquanto a iniciativa deveria ser nossa".

"Por exemplo, porque é que não sabemos o suficiente como produzir alimentação diversificada em quantidade e qualidade neste continente, que nos permita confrontar situações como o crescimento infantil retardado?", questionou.

Segundo Graça Machel, 43% das crianças no continente africano sofrem de crescimento retardado. "Mas onde é que temos um estudo credível a servir de base para uma política nacional e subsequente implementação para podermos solucionar esta problemática? As nossas instituições têm que ter uma visão de futuro", defendeu.

Na opinião de Graça Machel, "os governos (africanos) estão mais preocupados com mandatos de cinco a dez anos", quando é exigida "uma perspectiva a longo prazo".

"Este é o tipo de contribuição que o sector privado e a sociedade civil podem fazer na discussão com o Governo porque o que precisamos em África é de investimento e não de soluções rápidas que ajudem numa reeleição", concluiu Graça Machel.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,2 ago 2018 10:03

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  23 abr 2019 23:23

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