A medida foi tomada quando a moeda local (rial) está a perder valor com muita regularidade, levando ao aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis, e provocando receios de que a crise humanitária já existente piore.
O Unicef afirmou que a decisão foi tomada após não ter sido possível criar um 'call center' para estabelecer contacto com os beneficiários. A agência da ONU não forneceu mais detalhes sobre o caso.
Duas pessoas ligadas ao programa, citadas pela AP, disseram que os rebeldes Houthis - que controlam o norte do Iémen -- impediram o lançamento do 'call center' porque temiam que fosse revelada a sua manipulação das transferências de dinheiro.
Estas duas pessoas falaram sob condição de anonimato, temendo represálias dos rebeldes.
Os Houthis, apoiados pelo Irão, estão em guerra com uma coligação liderada pela Arábia Saudita desde Março de 2015. Os rebeldes foram repetidamente acusados de desviar as ajudas para os seus partidários.
Na semana passada, as autoridades de segurança dos Houthis proibiram o director da Agência Adventista de Desenvolvimento e Socorro (ADRA, sigla em inglês) de voltar ao Iémen.
A agência adventista foi pressionada a usar as listas de beneficiários organizadas pelos rebeldes para a distribuição de ajuda e usar funcionários ligados aos Houthis em instalações de saúde administradas pela ADRA.
Quando o director da ADRA no país, Ephraim Palmero, se opôs a esta situação, foi notificado de que não poderia voltar ao Iémen, segundo a AP.
A ADRA está entre as agências de ajuda internacional mais ativas que trabalham na prestação de ajuda a milhões de iemenitas carenciados.
Já a suspensão dos pagamentos do UNICEF é a terceira desde que o projeto foi lançado, em agosto de 2017.
O UNICEF afirmou, em várias ocasiões, que as transferências monetárias são uma "tábua de salvação" para um terço do povo do Iémen e "contribuem para evitar o risco de fome e permitem que famílias compradas comprem alimentos e medicamentos".
Com 8,4 milhões de pessoas sem saber de onde virá a próxima refeição, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários alertou no mês passado que uma nova queda no rial poderia resultar em 3,5 milhões de iemenitas em situação de insegurança alimentar e que mais de dois milhões estariam "susceptíveis de estar em maior risco de fome".
A coligação liderada pela Arábia Saudita impôs um embargo terrestre, marítimo e aéreo que impacta nas importações do país, já que 90% das necessidades do Iémen são importadas, e os Houthis colocaram restrições à entrega e distribuição de ajuda a cerca de 19 milhões de iemenitas que vivem em terras controladas pelos rebeldes.
No sul do Iémen, onde os Houthis foram expulsos há dois anos pela coligação liderada pelos sauditas, as agências de ajuda internacional também enfrentam desafios de segurança.
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmaram, num comunicado divulgado na terça-feira, que suspendeu a sua operação em Dhale, depois dos seus funcionários terem sido atacados no dia anterior, sublinhando ainda que ninguém ficou ferido no ataque.
"Devido à gravidade desses ataques e à clara falta de segurança para a equipa que trabalha lá, os MSF foram forçados a retirar os seus funcionários", disse a agência.