"Fomos miseravelmente traídos. É traição, traição mesmo. Palavra dada e não cumprida, clandestinidade, acertos falsos, dinheiro. (...) (Fui traído) pelo ex-presidente Lula e pelos seus seguidores", disse o candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), numa entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo.
Ciro Gomes acrescentou ainda que não declarou o voto público a Fernando Haddad por não querer voltar a fazer campanha pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
O candidato derrotado esclareceu que foi convidado para ser vice do ex-presidente Lula da Silva, caso este conseguisse concorrer, na vez de Fernando Haddad, mas que recusou o convite por se ter sentido "insultado".
"Para essa fraude, fui convidado a praticá-la. Esses fanáticos do PT não sabem, mas o Lula, num momento de hesitação, convidou-me para cumprir esse papelão que o Haddad cumpriu. E não aceitei. Considerei-me insultado", afirmou.
O político de esquerda aproveitou ainda para analisar os possíveis erros que Fernando Haddad cometeu ao longo da corrida presidencial, assumindo que a proximidade constante a Lula da Silva foi um deles.
"O Haddad é uma boa pessoa, mas ele, se fosse uma pessoa que tivesse mais fibra, jamais deveria ter aceite esse papelão. Todas as segundas-feiras ir lá [visitar Lula à prisão]. Acha que o povo vai eleger uma pessoa assim? Lula nunca permitiu nascer ninguém perto dele. E eles empurram para a direita, que é o querem fazer comigo", afirmou Ciro.
Questionado acerca da sua viagem pela Europa, incluindo uma passagem por Portugal, logo após a primeira volta, onde foi acusado de "descaso" pela situação que o Brasil atravessava, Ciro Gomes defendeu-se dizendo que se sentiu impotente: "Descaso não, é de impotência. De absoluta impotência. Se há um brasileiro que lutou, fui eu. Passei três anos a lutar", disse ao jornal.
Depois de ter afirmado que choraria e deixaria a política caso Bolsonaro chegasse à presidência do Brasil, o que aconteceu, Ciro Gomes voltou agora com a palavra atrás, não confirmando, no entanto, uma recandidatura para a eleição de 2022.
"Eu disse isso comovido porque um país que elege o Bolsonaro eu não compreendo mais (...). Entretanto, do exato momento que disse isso até ao dia de hoje, ouvi um milhão de apelos de gente muito querida", disse, acrescentando que "depois de tudo o que acabou por acontecer" considera que a sua "responsabilidade é muito grande".
"Não sei se serei mais candidato, mas não me posso afastar agora da luta. O país ficou órfão", concluiu o ex-candidato do PDT.
Na segunda volta, disputada no dia 28 de outubro, o candidato do Partido Social Liberal (PSL, extrema-direita) Jair Messias Bolsonaro, 63 anos, capitão do Exército reformado, foi eleito o 38.º Presidente da República Federativa do Brasil, com 55,1% dos votos.
De acordo com os dados do Supremo Tribunal Eleitoral, Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), conquistou 44,9% dos votos, com o escrutínio provisório (99,99% das urnas apuradas) a apontar para 21% de abstenção do total de eleitores inscritos (mais de 147,3 milhões).