A União Europeia (UE), nomeadamente a Comissão Europeia, resolveu replicar o alheamento demonstrado pela primeira-ministra britânica, Theresa May, nas últimas semanas, ignorando hoje o seu anseio, corroborado pelo parlamento britânico, de regressar a Bruxelas para renegociar o mecanismo de salvaguarda, o chamado ‘backstop’, para a fronteira irlandesa.
Ao contrário do que aconteceu em 15 de Janeiro, quando a Câmara dos Comuns chumbou o acordo de saída do Reino Unido do bloco comunitário, não houve reacções imediatas, comunicados pré-preparados ou um dilúvio de ‘tweets’ das mais proeminentes figuras da política europeia.
Ontem à noite, em Bruxelas, a resposta reservada a Theresa May e ao parlamento britânico foi um profundo silêncio, amenizado apenas por um comunicado distribuído a (alguns) jornalistas pelo gabinete do presidente do Conselho Europeu.
Na nota, atribuída a um porta-voz de Donald Tusk e não ao próprio, os 27 reiteraram que o acordo de saída, endossado pelos chefes de Estado e de Governo numa cimeira extraordinária em 25 de Novembro, “é e continua a ser a melhor forma de assegurar uma saída ordenada do Reino Unido da União Europeia” e “não é renegociável”.
A mensagem, tantas vezes repetida, pelo Conselho Europeu, pela Comissão Europeia, pelo Parlamento Europeu – hoje, o seu coordenador para o ‘Brexit’, o belga Guy Verhofstadt, apontou para a inexistência de uma maioria “para reabrir ou diluir” o acordo de saída na assembleia europeia - ou pelos líderes dos outros Estados-membros, parece ainda não ter ecoado em Londres, com o Governo britânico a “fazer orelhas moucas” à indisponibilidade dos seus parceiros europeus para renegociar aquele documento.
Já depois de May ter admitido querer reabrir o texto que acordou em Novembro com a UE, o parlamento britânico aprovou, por 317 votos a favor e 301 contra, uma proposta do deputado Graham Brady que preconiza a substituição do ‘backstop’ inscrito no acordo de saída do Reino Unido do bloco comunitário por “disposições alternativas”, com vista à ratificação daquele texto pela Câmara dos Comuns.
Após a aprovação da emenda, a primeira-ministra britânica voltou a reconhecer, na Câmara dos Comuns, que "não vai ser fácil" convencer Bruxelas a fazer mudanças no acordo
Numa reacção antecipada, os chefes de Estado e de Governo dos países do sul da União Europeia, reunidos em Nicósia (Chipre), subscreveram uma declaração comum em que fecham a porta a uma renegociação do acordo de saída do Reino Unido, defendendo "firmemente" o texto já endossado pelos líderes dos 27.
Esta posição foi subscrita pelo primeiro-ministro português, António Costa, e pelos chefes de Estado e de Governo da França (Emmanuel Macron), Itália (Giuseppe Conte), Grécia (Alexis Tsipras), Malta (Joseph Muscat) e Chipre (Nicos Anastasiades).