O Iémen, a República Democrática do Congo, o Afeganistão, a Etiópia, a Síria, o Sudão, o Sudão do Sul e o norte da Nigéria são os oito países do mundo que estão a sofrer as piores crises alimentares, segundo o relatório.
O documento foi apresentado hoje conjuntamente pela União Europeia (UE), pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), entre outros organismos.
O relatório também refere que, nos últimos três anos, cerca de cinquenta países têm cada vez mais dificuldades em alimentar a sua população.
Os países africanos são tocados de forma "desproporcional" pela fome aguda, com quase 72 milhões de pessoas afectadas, disse Dominique Burgeon, chefe de emergências da FAO, numa entrevista à agência de notícias francesa AFP.
Os conflitos foram a principal causa de insegurança alimentar em 2018 no mundo.
Cerca de 74 milhões de pessoas, ou dois terços da população total que enfrenta a fome aguda, estavam em 21 países ou territórios em guerra, um dado que permanece estável em comparação a 2017.
"Nesses países, até 80% das populações afectadas dependem da agricultura", disse Burgeon.
"Estas pessoas precisam de receber assistência humanitária de emergência para se alimentarem e condições para impulsionar a agricultura" e a produção de alimentos, defendeu o responsável da ONU.
Em 2018, o número total de pessoas à beira da fome diminuiu ligeiramente em comparação a 2017 (124 milhões), tendo alguns países sido menos expostos a riscos climáticos violentos, como secas, inundações ou chuvas.
"Este recuo no valor absoluto é um epifenómeno", relativizou Burgeon, referindo que ocorreu "devido à ausência do fenómeno climático 'El Nino', que afectou muito as culturas na África Austral e no Sudeste Asiático em 2017".
"Por causa dos violentos ciclones e tempestades em Moçambique e no Maláui este ano, já sabemos que esses países estarão no relatório do ano que vem", previu.
O ciclone Idai atingiu a região centro de Moçambique, o Maláui e o Zimbabué a 14 de Março. O número de mortos provocados pelo ciclone e as cheias que se seguiram subiu para 598, anunciaram hoje as autoridades moçambicanas.
"É evidente no relatório global que, apesar de uma ligeira queda em 2018 no número de pessoas com insegurança alimentar aguda - a forma mais extrema de fome -, o número ainda é alto demais", declarou o director-geral da FAO, José Graziano da Silva.
De acordo com o responsável da FAO, é preciso agir em grande escala no âmbito do desenvolvimento, da ajuda humanitária e da construção da paz "para construir a resiliência das populações afectadas e pessoas vulneráveis".
"Para salvar vidas, também temos que salvar os meios de subsistência", declarou José Graziano da Silva.
"Para realmente acabar com a fome, devemos atacar as causas básicas: conflito, instabilidade, o impacto dos choques climáticos. Rapazes e raparigas precisam ser bem nutridos e educados, as mulheres precisam de ser verdadeiramente fortalecidas, a infraestrutura rural deve ser fortalecida para conseguirmos esse objectivo de fome zero", sublinhou director-executivo do PAM, David Beasley.
As conclusões do relatório pedem uma cooperação fortalecida que ligue a prevenção, a preparação e a resposta para atender às necessidades humanitárias urgentes e às causas profundas, que incluem a mudança climática, choques económicos, conflitos e deslocamentos.