"Em primeiro lugar, há uma responsabilidade dos Estados em relação aos seus próprios cidadãos", declarou Panos Moumtzis, coordenador regional da ONU para a Síria, numa conferência de imprensa em Genebra.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), cerca de 3.000 crianças de 43 países (entre as quais também poderão constar crianças filhas de cidadãos portugueses) vivem atualmente no campo de deslocados de Al-Hol (norte da Síria), após a ofensiva final contra o EI lançada em dezembro passado pelas forças árabes-curdas apoiadas pela coligação militar internacional anti-'jihadista' liderada por Washington.
O campo, gerido pelos curdos, viu a sua população aumentar exponencialmente, passando de 10 mil para mais de 75 mil pessoas, realçou Panos Moumtzis.
As condições no acampamento e nas imediações, nomeadamente nas estradas, eram terríveis, indicou o alto funcionário da ONU.
Dados avançados pela organização internacional indicam que 260 pessoas, incluindo 211 crianças com menos de cinco anos, morreram durante o percurso até ao campo de deslocados ou à chegada ao acampamento entre o período de 04 de dezembro a 17 de abril.
As mulheres e as crianças filhas de combatentes do EI estão a viver numa área separada do acampamento.
Vários governos recusam repatriar os seus cidadãos retidos na Síria, os combatentes 'jihadistas' e as respetivas mulheres, e no que diz respeito às crianças admitem analisar caso a caso.
Panos Moumtzis lembrou, no entanto, e de acordo com o Direito Internacional, "os Estados devem tomar todas as medidas possíveis para garantir a protecção, os procedimentos judiciais, o repatriamento, a reabilitação e a reintegração" destas mulheres e crianças.
O representante insistiu na necessidade de atribuir a estas crianças a nacionalidade dos respectivos progenitores e os direitos inerentes.
"Ninguém deveria ser apátrida", referiu o responsável.
Panos Moumtzis apelou ainda aos países doadores, que prometeram em Bruxelas em abril uma ajuda de quase sete mil milhões de dólares (6,2 mil milhões de euros) para este ano, para desembolsarem rapidamente tais fundos para ajudar as pessoas deslocadas na Síria.
"Neste momento, não há muito dinheiro no banco", concluiu.
A 8 de Abril, à margem de uma reunião de chefes de diplomacia da União Europeia, no Luxemburgo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse que Portugal continuava a trabalhar para encontrar "a menos má das soluções" para cidadãos portugueses com ligações aos 'jihadistas', tendo esclarecido na mesma altura que os pedidos de repatriamento que tinha recebido "não eram apenas de crianças".