Em entrevista ao Panorama 3.0, da Rádio Morabeza, o activista, obrigado a exilar-se em Portugal há quase 8 meses, devido a ameaças de morte, faz uma avaliação negativa da situação política actual do seu país.
“Não há um plano de governo porque ganhou as eleições na base do trabalho mediático, da Internet, na base do impacto político do discurso de ódio, contra gays, mulheres, contra populações negras, de favelas, e o Bolsonaro é um representante do discurso do ódio na América latina. O novo presidente além de não ter um programa de governo, agravou e violou os direitos humanos e de expressão no Brasil”, resume.
"Não há um plano para a educação, a habitação, não há um plano para a redução da fome, que é um grande problema no Brasil e não há ainda um plano económico para recuperação da economia brasileira.O que vimos é, nos últimos seis meses, foi o governo de forma amadora apresentar a sociedade, pequenas soluções que se perdem com o tempo", acrescenta.
Para os analistas políticos brasileiros, Jair Bolsonaro ainda não conseguiu implementar a sua agenda, devido ao que chamam de “derrotas” no Congresso, onde não tem uma base de apoio, e no Supremo Tribunal Federal. Anderson França diz que isto deve-se também aos escândalos de corrupção que envolvem os membros do governo.
“A nova agenda que Bolsonaro prometeu efectivamente não se estabelece porque são muitos os políticos da base aliada dele envolvidos com corrupção, com crimes de melícia, que têm que ver com mortes e assassinatos de pessoas, inclusive da vereadora e activista Marielle Franco, de modo que não consegue desenvolver uma nova agenda e, pelo contrario, decepciona até os seus eleitores”, indica.
Panorama 3.0 #113 - Moisés Rodrigues, Anderson França, Sumaila Jaló, Joacine Katar Moreira
Podcast do programa de grande informação da Rádio Morabeza. Episódio de 19 Junho de 2019
Em Junho, o Intercept Brasil publicou mensagens que mostram uma alegada colaboração entre o ex-juiz Sérgio Moro, agora ministro da Justiça, e o procurador Deltan Dallagnol, no decorrer do processo Lava Jato, que culminou com a prisão do ex-presidente Brasileiro, Lula da Silva. Sobre o chamado vazajato, Dinho acredita que os envolvidos sairão impunes.
“O Supremo Tribunal Brasileiro está dividido, não toma uma posição, nem de um lado, nem para outro, quando na verdade deveria pegar as provas e punir os responsáveis. Eu acredito que o que vai restar da justiça brasileira, infelizmente, vai ser a impunidade", lamenta.
"Gostaria de acreditar que o juiz Sérgio Moro e o Deltan [procurador] e todos os que se envolveram nesta corrupção fossem julgados, mas eu acho que ao governo que aí está interessa que ninguém seja punido, porque se forem punidos, o Lula é solto e se o Lula for solto, o Brasil vai ter uma reviravolta política nunca antes vista na América Latina”, afirma.
Sobre o PT, Anderson defende que o partido ainda não tem um nome e uma solução para as próximas eleições.