Trump é acusado de pressionar o Presidente ucraniano, Volodimir Zelenskii, forçando-o a anunciar a abertura de uma investigação contra o filho de um dos favoritos à nomeação Democrata para as presidenciais de 2020, Joe Biden. Em troca, o presidente dos EUA aceitaria receber Zelenskii na Casa Branca, desbloqueando um pacote de ajuda militar à Ucrânia, no valor de 391 milhões de dólares.
O processo compreende uma segunda acusação, relativa à forma como Donald Trump reagiu à abertura do inquérito, proibindo a colaboração da Casa Branca com a Câmara dos Representantes.
Sem surpresa, o Partido Republicano contesta as acusações. A estratégia de defesa tem passado por afirmar que Trump suspendeu a ajuda militar porque tinha dúvidas sobre o compromisso ucraniano no combate à corrupção.
A maioria Republicana no Senado, a câmara alta do congresso (os democratas têm maioria na Câmara dos Representantes, a câmara baixa) deverá ser suficiente para garantir a manutenção do Presidente no cargo.
Expresso das Ilhas: Não obstante todo o processo e aquilo que se foi sabendo ao longo dos últimos meses, não verificamos uma mudança significativa naquela que é a base de apoio do Donald Trump.
Germano Almeida: Sim. É preciso dizer que a base de apoio de Trump não tem como primeiro elemento de avaliação o desempenho do Presidente, mas olha o presidente como o seu campeão contra o sistema, contra os políticos, contra os media e há aqui uma luta que não passa pelo desempenho, nem pela verdade, passa por percepções e guerras ideológicas. Cada vez mais, mostra-se que é assim. Ele de facto mantém a base muito segura no campo Republicano, na ordem dos 90 por cento, o que dará um apoio total na ordem dos 40 a 42 por cento.
Na primeira votação, para que avançasse o processo na Câmara dos Representantes, todos os congressistas Republicanos votaram contra este processo, são a minoria, 194 em 435, mas votaram todos com o Presidente. No Senado, em 53 senadores Republicanos, poderá haver um ou outro, no máximo 4, que votem pela destituição, mas não acredito que 20 votem nesse sentido e isso dê os dois terços necessários.
Apesar dos factos e das evidências, tudo indica que Trump não será destituído.
Não é vulgar esta unanimidade, dentro do Partido Republicado, perante um tema tão fracturante.
Explicamos isso com o forte apoio que Trump tem no eleitorado e também com uma certa chantagem que Trump fez com os Republicanos, tornando-os reféns. Agora vergaram-se.
Nestes momentos, vêem-se honrosas excepções, mas muito poucas. A principal, a que tinha mais dimensão politica, histórica e simbólica morreu há 14 meses, John McCain. Restam outros, com menos dimensão. Diria que o elemento político mais relevante dos republicanos, que vai contra o Presidente, será Mitt Romney, com menos força política e de forma um pouco mais ambígua, mas não tenho a certeza que Romney vá votar pela destituição.
Isto mostra a polarização cada vez maior que há nos Estados Unidos. Há uma guerra entre Republicanos e Democratas e longe se vão os tempos, como há 20 ou 25 anos, em que víamos senadores Republicanos fazerem propostas bipartidárias com os seus amigos democratas.
Sendo muito provável que o processo não resulte da destituição, o que é que o Partido Democrata ganha com isto tudo? Desgaste político do Presidente?
Sim. Posicionamento e um maior alinhamento. Ou seja, antes deste processo havia uma clara divisão entre os Democratas, a maior parte dos candidatos presidenciais, com excepção de Joe Biden, defendia um impeachment mas a liderança democrata no Congresso não o defendia, Nancy Pelosi não o defendia e havia essa divisão. Pelosi muda de ideias perante a dimensão dos factos, dizendo que não havia forma de não actuar perante essas evidências. Isso provoca um certo alinhamento nos Democratas.
A tese geral é que Trump vai sair beneficiado com isto, no fim do processo não é destituído. Mesmo que ele não saia, não me parece inócuo.
O que vemos ao longo deste processo é que na opinião pública tem subido ligeiramente a ideia de que Donald Trump vai ser destituído, mas de forma muito ligeira. O país está praticamente dividido, como em quase tudo, em quem é a favor ou quem é contra Donald Trump.
Estamos neste momento perante uma guerra ideológica e de argumentos e não de factos.