“Este é um momento difícil para os viajantes. Desde que grande parte do mundo se fechou para abrandar a propagação da COVID-19, as viagens internacionais sofreram uma quebra enorme”, escreve o The Economist na sua edição do passado dia 29 de Abril.
Segundo a mesma publicação, a capacidade global de aeronaves actualmente disponíveis para voar diminuiu 73%, entre 2019 e 2020, de acordo com a OAG, uma empresa de dados. “Cerca de 164 companhias aéreas imobilizaram a totalidade das suas frotas; outras 91 utilizam menos de 10% das suas. As restrições de viagem, entretanto, não mostram sinais de desaparecer”, escreve o The Economist que recorda que um novo relatório da Organização Mundial do Turismo (UNWTO) mostra que mais de 200 países e territórios introduziram restrições de viagem por causa da COVID-19. Até 20 de Abril, nenhuma tinha sido levantada.
A COVID-19, como já foi referido, não é a única responsável pelo cenário que se vive actualmente no sector da aviação e do turismo.
“Agora enquanto estamos presos em casa, a fantasiar sobre as alegrias e liberdades das viagens, lá fora, as economias que dependem dos visitantes estão a murchar”, aponta por seu lado o Financial Times.
As desvantagens das viagens em massa estiveram em foco ao longo dos últimos 12 meses, mas os apelos a um encerramento total foram sempre uma resposta demasiado extrema e demasiado simplista.
Talvez a crise actual nos possa empurrar para um caminho intermédio - uma forma mais responsável e ponderada de viajar que minimize as emissões de carbono, gere o turismo massivo e maximize o contributo para as economias locais.
“Não vamos abrir as portas e voltar ao que estava a acontecer antes”, diz Tony Wheeler, co-fundador da editora de viagens Lonely Planet ao Financial Times. “Não creio que a abordagem ‘para onde vamos na Europa no fim-de-semana?’ vá voltar da mesma forma casual”.
Voar vai ser quase de certeza mais difícil, desagradável e caro. Um número mais reduzido de transportadoras irá operar horários reduzidos - possivelmente com medidas de distanciamento social, tais como deixar os lugares médios vazios, o que aumentaria significativamente os custos.
Os cinco princípios da IATA
A Associação do Transporte Aéreo Internacional (IATA) anunciou, nesta terça-feira, um compromisso por parte dos presidentes das companhias aéreas no seu Conselho de Governadores de cinco princípios para restabelecer a ligação do mundo através do transporte aéreo.
Em primeiro lugar, a aviação colocará sempre a segurança intrínseca e extrínseca em primeiro lugar sendo que as companhias aéreas se comprometem a trabalhar com os parceiros nos governos, instituições e em todo o sector. Implementar um regime de biossegurança de base científica que manterá os nossos passageiros e tripulação em segurança, permitindo ao mesmo tempo operações eficientes e garantir que a aviação não seja uma fonte significativa para a propagação de doenças transmissíveis, incluindo a COVID-19 são outros dos objectivos.
O segundo ponto do acordo estabelece que a aviação responderá de forma flexível à medida que a crise e a ciência evoluem: As companhias aéreas comprometem-se a trabalhar com os nossos parceiros nos governos, instituições e em todo o sector. Utilizar nova ciência e tecnologia à medida que esta for ficando disponível, por exemplo, soluções fiáveis, escaláveis e eficientes para os testes COVID-19 ou para os passaportes de imunidade. O compromisso passa também por desenvolver uma abordagem previsível e eficaz para gerir quaisquer futuros encerramentos de fronteiras ou restrições de mobilidade e por assegurar que as medidas sejam apoiadas cientificamente, economicamente sustentáveis, operacionalmente viáveis, continuamente revistas e removidas/substituídas quando deixarem de ser necessárias.
“A aviação será um motor essencial da recuperação económica: as companhias aéreas comprometem-se a trabalhar com os nossos parceiros nos governos, instituições e em todo o sector. Restabelecer capacidades que possam satisfazer as exigências da recuperação económica o mais rapidamente possível” defende a IATA que se compromete a garantir a disponibilidade de transportes aéreos a preços acessíveis no período pós-pandémico.
Segundo o quarto ponto do acordo agora assinado, o sector da aviação cumprirá os seus objectivos ambientais: “As companhias aéreas comprometem-se a trabalhar com os nossos parceiros nos governos, instituições e em todo o sector para atingir o nosso objectivo a longo prazo de reduzir as emissões líquidas de carbono para metade dos níveis de 2005 até 2050 e implementar com êxito o Sistema de Compensação e Redução do Carbono para a Aviação Internacional (CORSIA)”.
Por último, a IATA defende que a aviação funcionará segundo normas globais harmonizadas e mutuamente reconhecidas pelos governos: “As companhias aéreas comprometem-se a trabalhar com os nossos parceiros nos governos, instituições e em todo o sector. Estabelecer as normas globais necessárias para um relançamento efectivo da aviação, nomeadamente com base em sólidas parcerias com a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) e a Organização Mundial de Saúde (OMS)”. Além disso, deve-se garantir que as medidas acordadas sejam efectivamente aplicadas e mutuamente reconhecidas pelos governos.
“O relançamento do transporte aéreo é importante. Mesmo no momento em que a pandemia continua, as bases para um relançamento da indústria estão a ser lançadas através de uma estreita colaboração da indústria do transporte aéreo com a ICAO, a OMS, os governos individuais e outras partes. No entanto, há ainda muito trabalho a fazer. Ao comprometerem-se com estes princípios, os líderes das companhias aéreas mundiais orientarão o relançamento seguro, responsável e sustentável do nosso sector económico vital. Voar é o nosso negócio. E é a liberdade partilhada por todos”, afirmou Alexandre de Juniac, Director-Geral e CEO da IATA.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 964 de 20 de Maio de 2020.