Declarando ser inocente e considerando o processo "um escândalo que ficará para a história", o antigo chefe de Estado, de 65 anos, incorre numa pena de até 10 anos de prisão e uma multa de um milhão de euros, à imagem dos outros dois arguidos: o advogado Thierry Herzog e o juiz reformado Gilbert Azibert, também acusados do crime de violação do segredo profissional.
O julgamento deverá durar três semanas, mas pode vir a ser afectado pela pandemia de covid-19, que condicionou outros processos nos tribunais parisienses nas últimas semanas, bem como por um pedido de dispensa por motivos médicos do antigo juiz Azibert.
O caso tem origem noutro processo judicial que ameaça Nicolas Sarkozy: suspeitas de financiamento líbio para a sua campanha presidencial de 2007. Neste contexto, os juízes decidiram em Setembro de 2013 colocar o antigo presidente sob escuta e descobriram no início de 2014 que ele estava a utilizar uma linha secreta sob o pseudónimo "Paul Bismuth" para comunicar com o seu advogado Thierry Herzog.
De acordo com a acusação, algumas das conversas revelaram a existência de um pacto de corrupção: Nicolas Sarkozy, através de Herzog, planeou dar a Azibert uma "ajuda" para o ajudar a obter uma posição no Mónaco que cobiçava mas nunca obteve.
Em troca, segundo o Ministério Público, este magistrado de alto nível forneceu informações, abrangidas pelo sigilo, sobre um outro processo que envolvia Sarkozy e tentou influenciar os seus colegas.
Nicolas Sarkozy tem denunciado constantemente a exploração política da justiça, multiplicando o número de recursos. Sem sucesso. A validação das escutas telefónicas em Março de 2016 pelo supremo tribunal judicial foi um sério revés para o ex-presidente, que considerou que a transcrição das trocas entre um advogado e o seu cliente era ilegal.
Contudo, outro processo judicial aguarda Nicolas Sarkozy na primavera de 2021: o caso Bygmalion sobre as suas despesas de campanha para as eleições presidenciais de 2012, que viria a perder para o socialista François Hollande.