O ex-chefe de Estado sul-africano e a empresa francesa de armamento vão comparecer hoje, terça-feira, no Tribunal Superior, em Pietermaritzburg, sudeste do país, para resolver questões pendentes de gestão do processo judicial que se arrasta há mais de 20 anos na justiça do país, e "acertar uma data de julgamento", explicou à Lusa a porta-voz do Ministério Público (NPA, na sigla em inglês), Natasha Kara.
"O Estado reafirma que estamos prontos para o julgamento", salientou a porta-voz sul-africana, escusando-se a precisar a data sugerida entre o Estado sul-africano e a Thales, em termos de disponibilidade, para o início das primeiras audiências do julgamento de corrupção do ex-presidente da África do Sul.
A Fundação Jacob Zuma acusou esta semana o Estado sul-africano de "atrasar" o processo judicial, afirmando que o Ministério Público Nacional "não está pronto a prosseguir com o julgamento", conforme tinha indicado em Dezembro.
Neste processo, Jacob Zuma é acusado de associação ilícita, corrupção, branqueamento de capitais e fraude por envolvimento em centenas de operações, supostamente fraudulentas, a favor de um contrato milionário de aquisição de armamento assinado no final dos anos 1990 com a empresa francesa Thales.
Inicialmente previsto para maio de 2020, o julgamento de Jacob Zuma foi adiado quatro vezes no ano passado por razões legais e por causa da pandemia de covid-19.
O caso foi adiado pela última vez, quando, em 22 de Janeiro deste ano, a justiça sul-africana rejeitou a contestação do grupo francês Thales à acusação de extorsão relacionada com um contrato de armas de 1999.
A empresa francesa de armamento, que também é acusada de corrupção, extorsão e branqueamento de capitais no caso, tinha contestado a acusação de extorsão, em 2020, por falta de provas.
O antigo presidente sul-africano, no poder entre 2009 e 2018, enfrentará 16 acusações de fraude, tráfico de influência e extorsão, relacionadas com a compra de aviões militares, barcos de patrulha e equipamentos bélicos da Thales, quando era vice-presidente de Thabo Mbeki.
Zuma é acusado de ter recebido 218.000 euros (quase quatro milhões de rands) em subornos, como parte de um contrato global no valor de cerca de 2,8 mil milhões de euros com a gigante francesa do sector da defesa e aeroespacial.
O antigo presidente tinha sido pressionado a demitir-se em 2018 pelo seu próprio partido, o ANC [Congresso Nacional Africano, no poder desde 1994], após nove anos no cargo marcados por uma popularidade decrescente e múltiplas acusações de corrupção.