Os acontecimentos começaram em 28 de Novembro depois de soldados etíopes e eritreus terem tomado o controlo da cidade das forças estaduais às ordens do governo da Frente de Libertação Popular Tigray (TPLF), contra a qual o governo federal tinha lançado uma ofensiva militar em 4 de Novembro.
"Depois das milícias de Tigray e residentes de Axum atacarem as forças eritreias a 28 de Novembro, as forças eritreias, em aparente retaliação, alvejaram e executaram sumariamente várias centenas de residentes, na sua maioria, homens e rapazes, durante um período de 24 horas", disse a HRW numa declaração.
"As tropas eritreias [cujo país faz fronteira com o estado de Tigray no norte da Etiópia] cometeram assassinatos hediondos em Axum, sem qualquer consideração pelas vidas de civis", afirmou a diretora da ONG de direitos humanos para a região do Corno de África, Laetitia Bader.
Entre Dezembro de 2020 e Fevereiro de 2021, a organização entrevistou por telefone 28 testemunhas e vítimas de abusos e respetivas famílias em Axum e reviu vídeos de ataques e das suas consequências.
A HRW não conseguiu determinar o número exacto de civis mortos em resultado da ofensiva conjunta etíope-eritreia em Axum e do subsequente massacre.
No entanto, a ONG estima que "mais de 200 civis morreram provavelmente só entre 28 e 29 de Novembro", de acordo com entrevistas com anciãos e membros da comunidade, que recolheram os cartões de identificação dos mortos e ajudaram na recuperação dos corpos.
As Nações Unidas "devem estabelecer com urgência uma investigação independente sobre crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade na região e abrir caminho à responsabilização, e as autoridades etíopes devem conceder-lhes acesso total e imediato", defendeu a HRW.
A declaração da Human Rights Watch sucede a um relatório da Amnistia Internacional (AI) divulgado no passado dia 26 de Fevereiro, em que deu conta de que o massacre de Axum fez "mais de 240 vítimas" civis.
O gabinete da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michele Bachelet, revelou esta quinta-feira que reuniu e analisou informações que demonstram que estarão a ser e terão sido cometidos crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Tigray.
Os autores destes actos, segundo o gabinete de Bachelet, seriam o exército federal etíope, mas também as forças estaduais sob o comando do governo liderado pela TPLF, as forças eritreias e combatentes do estado etíope vizinho de Amhara e milícias afins, que apoiam o Executivo etíope.
O Governo etíope mantém vedado acesso ao estado de Tigray e até agora rejeitou os apelos da ONU e de muitos países para que os funcionários de organizações e agências humanitárias possam responder às necessidades de população de seis milhões de pessoas.
Milhares de pessoas foram mortas desde que o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, lançou a ofensiva armada contra o governo da TPLF em 4 de Novembro.
Abiy, que ordenou a ofensiva, alegadamente em retaliação a um ataque a uma base do exército federal em Tigray pelas forças estaduais, reclamou a vitória em finais de Novembro, com a captura pelas forças federais da capital regional, Mekele. Os combates no território, no entanto, não pararam.