A equipa dos MSF testemunhou a execução de civis por soldados etíopes que atacaram violentamente o seu motorista, ameaçando-o de morte.
Segundo um comunicado dos MSF, citado pela agência noticiosa France Presse, três membros da organização não-governamental, dirigiam-se na passada terça-feira num veículo, claramente identificado com as cores os MSF, na estrada que liga a capital de Tigray, Mekele, à cidade de Adigrat.
"Durante a viagem, encontraram o que parecia ser o resultado de uma emboscada de um comboio militar etíope por um grupo armado, no qual soldados foram mortos e outros feridos", disse Karline Keijer, responsável dos MSF.
Soldados etíopes no local pararam o veículo dos MSF e em seguida dois miniautocarros de transporte público, e acrescentou Keijer: "Os soldados forçaram os passageiros a saírem dos autocarros. Os homens foram separados das mulheres, que tiveram permissão em seguir. Pouco depois, os homens foram mortos. A equipa dos MSF teve permissão para deixar a área, mas o seu veículo foi parado, novamente, por soldados etíopes.
"Retiraram o motorista do veículo dos MSF, à força, bateram-lhe com a coronha de uma espingarda e ameaçaram matá-lo", contou.
"Entretanto, o motorista foi autorizado a regressar ao veículo e a equipa voltou a Mekele", disse Keijer .
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva militar em Tigray no passado 04 de Novembro para derrubar os líderes do partido no poder na região, a TPLF (Frente para a Libertação do Povo de Tigray), que teria desafiado o seu poder por vários meses e que acusou as suas forças de atacar as bases do Exército federal na região.
Prémio Nobel da Paz em 2019, Abiy proclamou o fim do conflito depois do Exército federal ter controlado Mekele no final de Novembro, mas os líderes fugitivos da TPLF prometeram continuar as hostilidades e os combates persistem.
Abiy admitiu na terça-feira que foram cometidas atrocidades em Tigray.
"Houve danos na região do Tigray , as informações indicam que houve estupros e saques de propriedades", segundo depoimentos dos residentes que apontam para violência sexual em larga escala e assassinatos de civis por forças que lutam contra a TPLF.
Abiy admitiu também a presença em Tigray de soldados da vizinha Eritreia, após meses de negação por Asmara e Addis Abeba.
A Comissão Etíope de Direitos Humanos (EHRC) afirmou num relatório, divulgado hoje que mais de 100 civis foram mortos no final de Novembro em Aksum, em Tigray, por soldados eritreus.