"A África do Sul pediu tempo para os enviados conduzirem as suas consultas e encaminharem o assunto para a União Africana e uma declaração poderia complicar a situação", afirmou, sob anonimato, um diplomata africano no final da sessão, citado pela agência France-Presse.
De acordo com um diplomata europeu citado pela mesma agência, "os europeus expressaram as suas preocupações, condenaram a violência étnica e pediram a proteção de civis".
Questionado sobre as hesitações no Conselho de Segurança sobre o conflito em Tigray, Stéphane Dujarric, o porta-voz do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou que a União Africana (UA) está na linha da frente dos esforços internacionais e que o diplomata português apoia esta abordagem.
Num comunicado citado pela France-Presse, a organização não-governamental Human Rights Watch instou a ONU a iniciar uma investigação a alegadas violações de direitos humanos e a discriminação contra grupos étnicos, incluindo a retirada, pela Etiópia, dos 'capacetes azuis' originários de Tigray que integravam a missão de paz das Nações Unidas no Sudão do Sul.
A reunião do Conselho de Segurança realizou-se hoje, de forma virtual e à porta fechada, e decorreu durante cerca de 80 minutos.
A reunião foi convocada pelos membros europeus do Conselho de Segurança -- Bélgica, Alemanha, França, Estónia e Reino Unido -- e pelos Estados Unidos da América, depois do cancelamento do primeiro pedido, feito na segunda-feira por África do Sul, Níger, Tunísia e São Vicente e Granadinas, quatro membros não permanentes do organismo.
O pedido dos Estados africanos foi retirado porque "os enviados [africanos] escolhidos ainda não tinham visitado a Etiópia", segundo um diplomata deste continente.
"É necessário dar mais tempo aos esforços regionais", apontou o diplomata.
"Os países africanos dizem 'soluções africanas para os problemas africanos'. Isto é algo que temos de respeitar, mas até certo ponto", defendeu um diplomata europeu citado também pela agência noticiosa francesa.
O mesmo diplomata acrescentou que é necessário colocar o caso etíope "na ordem do dia, mesmo que isso não agrade aos africanos".
Na sexta-feira, Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul, que ocupa atualmente a presidência rotativa da UA, anunciou, em comunicado, que os antigos presidentes de Moçambique, Joaquim Chissano, da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, e da África do Sul, Kgalema Motlanthe, serão enviados à Etiópia para tentar concretizar a mediação do conflito.
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, lançou em 04 de Novembro uma operação militar na região de Tigray, após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
Desde então, a região tem sido palco de ofensivas militares por ambas as partes, com o disparo de foguetes e de incursões para a captura de cidades.
Estima-se que mais de 40 mil pessoas tenham abandonado a região em direção ao Sudão.
Na sexta-feira, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que cerca de 2,3 milhões de crianças necessitam de ajuda humanitária em Tigray.
Segundo o representante especial da Unicef no Sudão, Abdullah Fadil, as crianças e jovens até aos 18 anos representam cerca de 45% dos refugiados que têm fugido nos últimos dias da Etiópia para o Sudão.
A primeira reunião do Conselho de Segurança sobre Tigray realizou-se depois de o presidente da região separatista, Debretsion Gebremichael, ter dito que o seu povo estava "pronto a morrer", reagindo ao ultimato de 72 horas, lançado por Abiy Ahmed, para que os líderes regionais se rendam.