"Exorto novamente as autoridades malianas a quebrarem o ciclo de impunidade e a conduzirem investigações rápidas, exaustivas, imparciais e eficazes sobre todas as alegações de violações e abusos dos direitos humanos, incluindo os cometidos pelos militares. A responsabilização deve prevalecer para garantir a paz", disse Michelle Bachelet, em comunicado.
"Constato que o primeiro-ministro do Mali declarou recentemente o seu compromisso de pôr fim à impunidade e, por isso, apelo ao Governo para que traduza este compromisso em acção, sem demora", acrescentou.
A responsável da ONU disse estar "profundamente preocupada" com o aumento das violações dos direitos humanos no Mali desde Agosto passado, referindo que os repetidos ataques nos últimos seis meses por grupos como o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM) e o grupo Estado Islâmico no Grande Saara, bem como a violência entre comunidades, resultaram em baixas civis.
No comunicado, Michelle Bachelet salientou que um exemplo notável da deterioração da situação dos direitos humanos é o forte aumento dos raptos, principalmente por grupos e milícias comunitárias armadas na parte central do país, incluindo as milícias Dan Nan Ambassagu, mas também por grupos armados como o GSIM.
Nos primeiros seis meses de 2021, a Missão da ONU no Mali (Minusma) registou, pelo menos, 328 raptos (307 homens, 11 rapazes, nove mulheres, e uma rapariga), significativamente mais do que os 187 casos documentados em 2020 e quatro vezes mais do que os raptos concretizados em 2019, segundo relatórios do alto-comissariado.
Além disso, a Minusma registou um aumento acentuado das violações cometidas pelos actores ligados ao Estado na primeira metade de 2021 - de 53 violações registadas entre Agosto e Dezembro de 2020 para 213 violações entre Janeiro e Junho deste ano.
Destas, 155 violações foram perpetradas pelas Forças de Defesa e Segurança do Mali (FDSM), incluindo as execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias de 44 civis. Estas 155 violações representam aproximadamente 73% das cometidas pelos actores estatais.
No Mali, que está num processo de transição e que já teve dois golpes de Estado em menos de um ano, o Estado não controla grandes áreas do país, em particular centro e norte, onde a administração central está ausente e não consegue responder de forma eficaz ao aumento do número de ataques por grupos 'jihadistas'.