Políticos do único partido anti-Putin enfrentam assassínios e processos

PorExpresso das Ilhas, Lusa,10 mar 2023 8:29

O partido russo Iabloko, que reclama ser actualmente o único que rejeita o presidente Vladimir Putin, vai continuar a fazer oposição, apesar de os seus dirigentes serem alvo de processos-crime e até homicídios.

Em entrevista à Lusa, o líder do Iabloko desde 2019, Nikolai Ribakov, afirmou que a "pressão" sobre o partido "é levada ao extremo", com seis dirigentes "assassinados devido à sua actividade política" em três regiões administrativas - Kamchatka, Iakútia e Khakassia - nos últimos anos.

Três outros dirigentes estão acusados judicialmente de "desacreditação" do exército russo e o próprio Ribakov irá em breve à Sibéria e Extremo Oriente para participar no julgamento de um dirigente regional acusado de publicar artigos contra a "operação especial" lançada pelo Kremlin contra a Ucrânia há um ano.

No próprio dia da entrevista à Lusa, um deputado da Duma acusou de extremismo o Iabloko, perante o Ministério da Justiça. Na base da acusação está o Plano de Paz que o partido apresentou em 2017.

"Lamentavelmente, um deputado que ninguém conhece, resolveu chamar a atenção sobre si próprio, cinco anos após a divulgação daquele documento. Mas se, naquela altura, o nosso plano tivesse sido aprovado, ter-se-iam evitado muitas e muitas mortes", disse à Lusa.

"É verdade que estamos a trabalhar sob pressão, o que não constitui novidade para nós, que há trinta anos trabalhamos envolvidos nesse ambiente", adiantou.

Paralelamente, referiu Ribakov, as páginas do partido nas redes sociais são bloqueadas quando nelas se critica a política do Governo, o que limita fortemente a comunicação do partido com a população.

Apesar da "pressão", Ribakov acredita que o Iabloko nas legislativas de 2026, irá alcançar "uma real representação na Duma", o parlamento russo, algo que lhe falta actualmente.

"É difícil fazer planos para daqui a três anos, mas sinto-me optimista", disse à Lusa.

O partido está já a elaborar as listas eleitorais, enquanto se concentra nas eleições presidenciais do próximo ano.

"Como partido, entendemos claramente, de antemão, que [as eleições] não são sérias, nem livres, nem democráticas. (...) Mas continuamos a participar e não desistimos, pois é nossa obrigação para com os eleitores dar-lhes a conhecer uma plataforma política única, muito distinta das existentes", adiantou.

"Por brincadeira, costumamos dizer que, na Rússia, há dois partidos: o de Putin, que engloba todos os outros, e o nosso, o Iabloko", afirmou o líder da oposição.

Com todas as formações políticas com assento na Duma alinhadas com Putin, o Iabloko assume-se como o único que não apoia o Presidente.

"Sabemos que só há duas formas de mudança de poder: ou por via eleitoral ou por via revolucionária. No entanto, somos resolutamente contra esta segunda via, pois ainda nos lembramos ao que conduziu a história do nosso país", disse à Lusa, numa referência aos sangrentos golpes de Estado registados no século passado.

O Iabloko não tem representação na Duma, embora tenha eleito 11 deputados para assembleias legislativas regionais (Moscovo, São Petersburgo, Carélia e Pskov).

O partido de Putin, o Rússia Unida, detém a maioria absoluta na Duma - 326 deputados -- muito à frente do Partido Comunista, que tem 57 representantes.

Questionado sobre o papel do Partido Comunista, Ribakov não tem dúvidas de que se tornou num aliado de Putin.

"Não sou eu que o digo, mas o próprio Putin, que declarou há tempos serem os comunistas os seus maiores aliados na 'operação especial'", a designação do Kremlin para a invasão da Ucrânia, há um ano.

Travar a 'operação especial' é agora objectivo principal do Iabloko, pois sem isso, a "sociedade vai-se degradando cada vez mais".

O Iabloko mantém contactos com a diplomacia russa, com o Ministério da Defesa, com o responsável dos Direitos Humanos, nomeadamente para libertar os prisioneiros de guerra, nalguns casos com sucesso.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,10 mar 2023 8:29

Editado porAndre Amaral  em  28 nov 2023 23:28

pub.

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.