"Não podemos aceitar um acordo em que sejamos penalizados, mas deve ser "favorável à América Latina", afirmou Luíz Inácio Lula da Silva numa conferência de imprensa no final da sua visita a Roma e ao Vaticano e antes de viajar para França, onde se reunirá com o chefe de Estado francês Emanuelle Macron.
"O acordo não pode penalizar um dos parceiros, tem de prever uma via de dois sentidos e sei que é difícil (...) mas é a única forma de abrir negociações", acrescentou.
Lula da Silva explicou que as condições que lhes foram pedidas "são inaceitáveis", especialmente as relativas aos acordos climáticos, porque "nenhum país respeitou os acordos de Copenhaga ou de Paris, por isso é preciso um pouco mais de flexibilidade para chegar a um acordo que seja bom para todos e não um acordo em que os países ganham e os outros não".
Por outro lado, Lula voltou a criticar a política de juros altos do Banco Central do Brasil, de 13,7% ao ano, porque, segundo o chefe de Estado brasileiro, essas medidas estão a prejudicar a economia brasileira.
O Presidente negou que o seu governo tenha falado em "boicote" e disse que não tem intenção de "brigar com o Banco Central", mas acrescentou que é a Federação das Indústrias e a própria sociedade brasileira que lutam contra problema dos juros, porque "o que está acontecendo é irreal", já que a inflação no país não o justifica.
"Os bancos não emprestam dinheiro às pessoas porque ninguém pode pagar esses juros e também 70% dos brasileiros têm dívidas, portanto não é um problema do governo, mas da sociedade", sublinhou Lula da Silva, antes de acrescentar que "é o Senado que tem que resolver o problema".
Na mesma conferência de imprensa em Roma, Lula da Silva também defendeu que a esquerda europeia, mas também a da América Latina, tem de reconstruir o seu discurso e criar uma nova "utopia" para enfrentar o sector mais conservador.
Lula, que não quis entrar em pormenores sobre o estado de saúde do Partido Democrático (PD) italiano, líder da oposição, e da esquerda no país, embora tenha recordado os seus laços com o Partido Comunista Italiano e os sindicatos, enviou uma mensagem à esquerda europeia para que construa uma nova "utopia".
"É importante reconstruir um discurso que nos ajude a enfrentar o sector mais conservador, não só na Europa mas também na América Latina, onde a extrema-direita está a crescer com um discurso muito duro sobre questões como a família, a sociedade, as tradições... Temos de tentar mudar esta situação e criar uma nova utopia", acrescentou.
Na sua opinião, "os jovens precisam de um sonho para que possamos continuar a lutar por eles".
Em relação à primeira-ministra italiana, a eurodeputada de extrema-direita Giorgia Meloni, com quem se reuniu na quarta-feira, Lula destacou que quando se tem encontros com líderes "não entram em jogo questões ideológicas", mas sim "coisas que são importantes para os dois países" e que espera que "o seu governo funcione" para que Itália possa progredir.
Mesmo assim, disse que Meoni lhe causou "uma grande impressão" por ser "jovem" e "inteligente", e considerou um grande feito o facto de ser a primeira mulher a governar Itália, "o que lhe trará muitos preconceitos e pré-conceitos" porque "a política é muito machista".